Incorporadas à campanha do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) já no meio da disputa, a senadora Simone Tebet (MDB) e a deputada eleita Marina Silva (Rede) são consideradas trunfos eleitorais e nomes fortes para a Esplanada dos Ministérios em caso de vitória do petista neste domingo (30).
Ambas serviram nesta eleição para ilustrar o poder de conciliação —Marina estava rompida com o PT desde 2009— e a intenção de pacificar e unir o país, na avaliação de integrantes da campanha.
O único problema: de tão viçosas, as duas seriam “indemissíveis” em um governo Lula. Ainda que o petista, segundo colaboradores da campanha, se recuse a discutir neste momento a montagem de um ministério, Tebet, de acordo com esses mesmos aliados, conta com a admiração do ex-presidente.
Terceira colocada no primeiro turno, a emedebista, que anunciou apoio a Lula dizendo não reconhecer em Jair Bolsonaro (PL) o compromisso com a democracia, é vista como fonte de fôlego na reta final da corrida à Presidência, reconhecimento evidenciado no último programa eleitoral, exibido na sexta (28).
A senadora foi uma das três pessoas cujos depoimentos foram exibidos na TV —ao lado do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) e do ex-governador Geraldo Alckmin (PSB), vice na chapa petista.
Na última segunda-feira (24), Lula esperou Tebet chegar ao teatro Tuca, na PUC de São Paulo, para encerrar o evento, enquanto apoiadores esperavam para vê-lo do lado de fora da universidade. A emedebista subiu ao palco no final do ato e foi a última a discursar antes do petista.
O prestígio da senadora faz com que aliados deem como certa a participação em um eventual governo Lula —se assim ela desejar. Ao ser questionado sobre o tema, o ex-presidente tem afirmado que precisa ser eleito primeiro para depois pensar na composição de ministérios. Em live nesta semana, disse que Tebet é “uma mulher de muita qualidade” e que “pode chefiar qualquer ministério”.
Segundo petistas e membros do MDB, foi oferecido a ela espaço no governo durante as conversas para a declaração de apoio e participação na campanha. Pessoas próximas de Tebet dizem que ela endossaria Lula independentemente de cargos, mas que já indicou o desejo de ocupar o Ministério da Educação.
Entretanto, o mais provável, de acordo com aliados do ex-presidente, é que seja oferecido à senadora a chefia do Ministério da Agricultura, já que a outra pasta é cobiçada pelo PT.
Com a agenda de Lula cheia, Tebet foi escalada para participar de jantares com seus eleitores, na tentativa de atrair novos votos ao petista. As primeiras viagens junto com o petista foram na semana passada, em Minas Gerais —estado crucial na disputa ao Palácio do Planalto.
“Quando encontrarem um mineiro ou uma mineira que votou em mim, digam a eles que agora eu sou 13. Quem votou em Simone vota em Lula no segundo turno”, disse ela em Juiz de Fora.
Assim como a senadora, Marina discursou no Tuca. Também para aliados de Lula, não existe nome mais forte para comandar o Ministério do Meio Ambiente, cargo que já ocupou no primeiro mandato de Lula.
Integrantes da campanha dizem ainda que está em estudo a criação de uma secretaria destinada à crise climática, com atuação junto a órgãos internacionais e para a qual Marina também seria cotada.
A reconciliação de Lula com Marina foi um dos momentos simbólicos desse ciclo eleitoral —ainda no primeiro turno. Ex-ministra de 2003 a 2008, ela deixou o PT, partido ao qual foi filiada durante 30 anos, em 2009, após divergências. A hoje deputada eleita tinha mágoas devido ao pleito de 2014, quando concorria à Presidência e foi fortemente atacada pela campanha de Dilma Rousseff (PT).
À época, chegou a afirmar que nunca pensou que o PT tentaria destruí-la.
No encontro que selou a reaproximação e o apoio, Marina frisou que aquele era um reencontro político e programático e que, do ponto de vista das relações pessoais, ela e o petista nunca se afastaram. Para aliados de Lula, Marina pode ocupar tanto um espaço no governo como atuar no Congresso.
A chegada de Tebet e Marina levou à incorporação de pautas das duas lideranças às propostas do petista, entre as quais a criação de uma poupança para estudantes carentes, a equiparação salarial entre homens e mulheres que exercem as mesmas funções e compromissos com a pauta ambiental.
Esse apoio de figuras públicas que fogem do espectro do PT, segundo aliados de Lula, também ajuda na ideia de que a candidatura do ex-presidente não está restrita à esquerda. O primeiro sinal foi a escolha de Alckmin, um ex-tucano, como vice na chapa do petista. Lula conta ainda com apoio de noves partidos, além, claro, do PT: PSB, PSOL, PC do B, PV, Rede, Solidariedade, Avante, Agir e Pros.
No segundo turno, ele recebeu o apoio de políticos e representantes da sociedade que não são do campo petista, a exemplo de João Amoêdo, fundador do Novo, e economistas como Persio Arida, Armínio Fraga, Edmar Bacha e Pedro Malan. O próprio ex-presidente Lula afirmou no evento no Tuca que sua eventual gestão não será “um governo do PT”. “Será um governo do povo brasileiro”.
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