A MINHA CANDIDATA natural, em que votei no primeiro turno foi a Simone Tebet (MDB), por ver nela um perfil de estadista. Por isso, me sinto livre para comentar a vitória do Lula e a derrota do presidente Bolsonaro, de forma imparcial. Não foi uma derrota individual a do Bolsonaro, mas um somatório de erros. Tudo começou quando por birra, pelo fato do ex-governador de São Paulo, João Doria, ter sido o primeiro a trazer a vacina contra o Covid para o país; boicotou a iniciativa, ignorou a ciência e se cercou de negacionistas, que o fizeram a sustentar a tese de charlatanice de que a ineficaz Cloroquina curava o Covid, e com isso levou milhares de pessoas da sua bolha política a renegar a vacinação, e resultou em milhares de mortes.
Mesmo organismos internacionais da saúde negando a eficácia da droga para a doença, insistiu na mentira. Dizia que quem se vacinasse ia virar jacaré, chegou a imitar pessoas com falta de ar (um dos sintomas do Covid), e quando indagado pelas mortes, respondia que não era coveiro. Só veio comprar vacinas quando a pandemia ceifava vidas em grande escala. Tivesse ficado ao lado da ciência no primeiro momento, não teria este calo político, um dos responsáveis pela sua não reeleição, e que foi explorado negativamente pelos seus adversários. Se juntou a fanáticos e a fundamentalistas religiosos, que em nome da Bíblia, cometeram as maiores barbaridades em termos de mentiras.
Transformaram as igrejas em palanques políticos e currais eleitorais. Em nome da fé diziam que o Lula era satanista, que se ganhasse ia fechar as igrejas, que ia liberar as drogas, e implantar nas escolas o ensino para crianças incentivando a prática de atos sexuais. Chegaram a pegar uma passagem bíblica, em que cita que os maus vão pela esquerda e os bons pela direita; para dizer que os que estivessem com Jesus não podiam votar num candidato de esquerda Como se a citação bíblica se referisse à política. A conotação esquerda e direita só veio surgir como denominação de uma posição política na Revolução Francesa. E, o Bolsonaro ia para os templos reforçar as mentiras. Tudo em nome da fé. E, ainda mais grave é que tinha gente que acreditava neste festival de lorotas.
A derrota de Bolsonaro foi também a derrota das redes sociais, que foram responsáveis pela sua eleição. Inundaram a internet de teorias da conspiração. Entre elas, a que o país seria transformado num regime comunista se o Lula ganhasse, e que transformaria a Amazônia num território internacional, e o Brasil perderia a sua soberania. E, os incautos e não tão incautos crendo nesta bazófia. Mas, desta vez, a internet não teve a influência da eleição passada.
O que derrotou o Bolsonaro na verdade foi a torrente derramada por ele asneiras, da pregação da truculência, da negação do estado de direito com um judiciário forte; das suas grosserias que jorravam da sua boca contra os que ousavam lhe contestar. A imagem que ficou do seu mandato pode ser refletida no ato insano do seu aliado Roberto Jefferson atirando contra policiais federais; e da tresloucada deputada federal Carla Zambelli de arma em punho correndo atrás de um adversário político, numa rua de São Paulo.
Se o Bolsonaro quer culpar alguém pela sua derrota, culpe a sua boca e os seus atos. E indo para o presidente Lula, o que se pode dizer é ser um fenômeno político; talvez uma das maiores lideranças políticas que o Brasil já teve ao longo da sua história.
Só alguém com uma liderança nata ressurgirá das sombras para ser presidente, depois de passar por uma execração pública com as acusações que sofreu de práticas de corrupção; de ser preso por uma longa temporada, até ter os atos processuais do Juiz Sérgio Moro anulados pelo STF sob o argumento de direcionamento para lhe condenar. E, quando resolveu ser candidato a presidente, teve que enfrentar a poderosa máquina presidencial, com um derrame milionário de recursos para prefeitos e governadores por meio do chamado de “orçamento secreto”. Nunca se viu tanta estrutura financeira e de poder contra um candidato. Era uma máquina federal a todo o vapor a favor da candidatura do presidente Bolsonaro.
Mas, na política, quando a população quer trocar um governante nem uma chuva de moedas de ouro muda o resultado. O Bolsonaro tinha a máquina federal, mas se esqueceu de combinar uma aliança com quem tem mais poder numa eleição, o eleitor. E o Lula ganhou. Não há o que contestar. O Brasil não se tornará uma Venezuela, as igrejas não serão fechadas, as drogas não serão liberadas, não vamos virar um país comunista, e todas essas invencionices ficarão no lixo da história. E, como diz o ditado: Rei Morto, Rei posto. E, viva a democracia e o estado de direito! Ao vencedor, as batatas!
UMA MULHER DE CORAGEM
SE TIVESSE que pinçar uma liderança que colaborou para a vitória do Lula, sem titubear pinçaria a Simone Tebet. Que mulher corajosa! Ousada! Um exemplo de que as grandes mulheres não podem se omitir nos momentos mais difíceis da Nação. A Simone é sim, uma grande mulher. Foi de extrema importância na campanha.
DEU O EQUILÍBRIO
A ESCOLHA do Geraldo Alckmin para vice do Lula teve o condão de dar à chapa uma cara mais plural, e não apenas uma cara esquerdista. E, com ele, vieram alianças com setores de importância nacional, formando assim uma grande frente diversificada de ideias e partidos.
O GRANDE PAPELÃO
FICOU PARA o ex-Juiz Federal e senador eleito Sérgio Moro o grande papelão desta campanha. Poderia ter saído por cima se tivesse ficado neutro. Pelo motivo de que fez os ataques mais brutais ao Lula e ao presidente Bolsonaro, e depois acabou se juntando a esse sem nada acrescentar à sua campanha em termos de votos. Moro saiu menor do que entrou na campanha do Bolsonaro.
NÃO PODE SE DAR AO LUXO
LENDO a manifestação do governador Gladson de que está aberto a trabalhar numa parceria com o futuro presidente Lula, acho que está certo. Um governador de um estado pobre, que praticamente vive do FPE e de transferências extras; não pode se dar ao luxo de ser um adversário do governo federal. O Gladson pensou como alguém que coloca em primeiro lugar os interesses do estado. E, assim, é que ter de ser. A eleição acabou.
O QUE MUDARÁ NO ACRE?
O QUE mudará no Acre, com a vitória do Lula? De primeiro plano os órgãos federais no estado passarão para a indicação do PT. INCRA, DNIT e todos os demais terão as suas chefias ocupadas por petistas.
DO PURGATÓRIO PARA O PROTAGONISMO
A ELEIÇÃO do Lula também terá o condão para tirar o Jorge Viana (PT), derrotado para o governo, do purgatório a que ficou relegado. Todas as indicações no estado, as relações com os ministérios, não se enganem: passarão pela influência do JV, que pode virar ministro.
OS GRANDE PERDEDORES
OS GRANDES perdedores políticos no plano regional foram os deputados federais eleitos e senadores bolsonaristas, que não terão a mesma liberdade de abrir as portas dos ministérios, que teriam com a reeleição do presidente Jair Bolsonaro. Ficarão restritos a liberar as suas emendas parlamentares. Podem argumentar que as emendas são impositivas, o que é verdade. Mas, para liberação terão que virar projetos e serem aprovados pelos ministérios no novo governo. Ou seja, o jogo será jogado no campo petista, e com juiz petista.
FRENTE POLÍTICA
O JORGE VIANA já começou a trabalhar a formação de uma grande frente política. Depois da sua conversa com o MDB, ele também conversou com o senador Sérgio Petecão (PSD), que votou no Lula e deve integrar a bancada de apoio no futuro governo Lula, no Senado.
VOLTADO PARA O GOVERNO
O JORGE VIANA deve fazer todo um trabalho de alianças políticas que o tornem fortalecido para disputar o governo em 2026. Anotem: ninguém se admire se mais na frente o JV e o Gladson se sentarem para conversar sobre política. Duvidam? Não se lembram quem o Orleir Cameli apoiou no final do seu governo? Na política não duvidem de nada, pois, até boi é capaz de voar.
ANOTEM
AS GRANDES lideranças nacionais evangélicas, que saíram como derrotadas na eleição, e que fizeram uma pregação contra o Lula no que chamavam de “guerra espiritual do bem contra o mal”; não duvidem se no decorrer do governo Lula aparecerem tecendo loas a ele.
FRASE MARCANTE
“Não adianta correr quando se está no caminho errado”. Ditado alemão.