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Em 20 anos, a pecuária bovina do Acre cresceu mais do que a área desmatada para a formação de pastagem

No último dia 10, o IBGE publicou as Contas Econômicas Ambientais do Brasil. A pesquisa reúne dados ambientais às estatísticas econômicas, visando uma avaliação integrada de informações ambientais e sua relação com a economia. Para o IBGE, a terra é vista como um ativo, componente importante da riqueza de um país, por incorporar um valor como ativo comercializado (terra como bem), e apresentar um valor por suas características físicas (solo, vegetação, biodiversidade). No artigo de hoje vamos situar o Acre na pesquisa.


Antes, é importante ressaltar que as Contas Físicas da Terra descrevem os padrões geográficos de ocupação do território e apresentam uma análise sobre a dinâmica das conversões observadas no período contábil, 2000 a 2020, propondo reflexões sobre expansões e regressões ocorridas.


A publicação se divide em duas partes:


 I – Descreve os padrões de cobertura e uso da terra e das conversões entre as classes; 


II –Avalia as interações entre as características da paisagem e o uso da terra em atividades econômicas de ocupação extensiva.


No período de 2000 a 2020 a área de pastagem com manejo do Acre cresceu 6.063 km² o nono maior crescimento dentre os estados da Federação  


Entre 2000 e 2020, os maiores crescimentos absolutos de áreas de Pastagem com manejo ocorreram nos seguintes Estados: Pará (87 889 km²), Mato Grosso (45 913 km²), Rondônia (35 902 km²), Maranhão (27 409 km²) e Tocantins (18 674 km²). A expansão das pastagens nas quatro primeiras Unidades da Federação foi observada, principalmente, sobre as áreas de vegetação florestal e mosaico de ocupações em área florestal, enquanto no Tocantins tal expansão foi observada sobre a vegetação campestre. O Acre figurou na nona colocação, uma expansão de 6.063 km², ficando uma posição abaixo da Bahia oitavo colocado (6.790 km²) e acima de Minas Gerais, décimo colocado (5.613 km²). No Acre a expansão das pastagens também se deu sobre as áreas de vegetação florestal e mosaico de ocupações em área florestal.


Em 2020 o Acre apresentava o quinto maior estoque de vegetação Florestal do país, mesmo tendo desmatado 9 766 km² nos últimos anos


A pesquisa demonstrou que os maiores estoques de vegetação florestal, em 2020, estavam presentes nos seguintes Estados: Amazonas (1 428 402 km²), Pará (884 129 km²), Mato Grosso (351 789 km²), Roraima (168 566 km²) e Acre (141 108 km²). Entre 2000 e 2020, no Pará, ocorreu a maior redução absoluta (120 894 km²) de área de Vegetação florestal entre as Unidades da Federação, seguindo-lhe os Estados de Mato Grosso, responsável pela segunda maior redução (74 971 km²), Rondônia (40 009 km²), Amazonas (21 289 km²) e Acre (9 766 km²).


Ao se considerar a vegetação nativa (soma da vegetação florestal com a vegetação campestre), os maiores estoques, em 2020, estavam concentrados nos seguintes Estados: Amazonas (1 484 464 km²), Pará (938 601 km²), Mato Grosso (552 985 km²), Bahia (295 060 km²) e Roraima (206 100 km²). O Acre ficou na décima colocação com 141.141 km².


O Acre apresenta um dos mais baixos índices de concentração das terras 


Conforme o IBGE, uma forma de medir a concentração das terras é o índice de Gini, que calcula a desigualdade. Quanto mais próximo de 1, maior a concentração do fenômeno estudado, ou seja, maior a desigualdade. Ao analisar os dados históricos de área dos estabelecimentos agropecuários, observa-se crescimento do índice de Gini no período de 1985 a 2017 em quase todas as Unidades da Federação, exceto as da Região Nordeste (ATLAS…, 2020). Os mais baixos índices são encontrados nos Estados de Santa Catarina, Rondônia, Espírito Santo e Acre, enquanto os maiores, nos Estados do Amapá, Maranhão, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul.


Em vinte anos (2000-2020), no Acre, a expansão da pecuária foi de 4,9% a.a., enquanto o incremento da área de pastagem foi de somente 2,0% a.a.


Ao verificar as estatísticas do coeficiente de correlação entre as taxas de crescimento dos estoques das terras classificadas como pastagem com manejo e as taxas de crescimento do número de cabeças de rebanho bovino, observa-se que os resultados são mais elucidativos e corroboram o avanço das pastagens na Região Norte: correlações muito fortes são constatadas nos Estados do Amazonas e Acre, enquanto correlações fortes ocorrem nos Estados do Pará e Rondônia. A mesma tendência é observada no Estado do Maranhão, com uma forte correlação.


Cumpre destacar o caso do Estado do Amazonas, que apresenta a maior taxa de expansão das áreas de pastagens, segundo dados do Monitoramento da Cobertura e Uso da Terra do Brasil (5,2% a.a.), contudo com baixo incremento do rebanho bovino (1,3% a.a.). O Acre, por outro lado, evidencia o caso oposto, com o maior crescimento do rebanho bovino (4,9% a.a.), porém com incremento mediano da área de Pastagem com manejo (2,0% a.a.). Os Estados do Pará e Rondônia apresentam comportamentos similares: aumento das áreas de pastagens em torno de 2% a.a., com uma expansão do rebanho bovino de, aproximadamente, 3% a.a.


Portanto o IBGE conclui que, nos Estados do Pará, Rondônia, Amazonas, Acre, Maranhão e Minas Gerais, a hipótese testada (aumento das áreas de Pastagem com manejo associado com o aumento do número de cabeças de rebanho bovino) é satisfeita.


Orlando Sabino escreve às quintas-feiras no ac24horas