1 – Os acreanos eleitores, em sua maioria, concordaram com a justificativa, aceitaram o pedido e deram mais quatro anos ao governador Gladson Cameli na expectativa que faça aquilo que ele disse não ter sido possível devido à pandemia. Gladson não deve interpretar essa nova oportunidade como um cheque em branco. A tendência é que a sociedade seja mais exigente no segundo mandato; e os governos tendem a ser mais dispersos, ineficientes e frágeis;
2 – Disseram, também, que Jorge Viana e Marcus Alexandre devem a assumir a posição de líderes da oposição ao governo. Esse papel poderia ter recaído sobre Mara, Petecão ou Bittar, que se apresentaram como críticos do atual governo durante a eleição. Como se sabe, uma disputa de reeleição é acima de tudo um plebiscito para decidir se o governante deve ou não seguir adiante. Os votos contrários são votos de oposição. E dentre esses, a somatória dos votos dos três ex-aliados do governador correspondeu a pouco mais de dois terços dos votos dados a Jorge e Marcus, legitimando as lideranças petistas como referências de oposição;
3 – Os eleitores não prestaram muita atenção na eleição para o Senado. A dispersão de votos entre os candidatos e o alto índice de brancos e nulos (quase 10%, ante 4,6% para federal) deixam isso bem claro. É provável que a radicalizada disputa para a presidência e o embate para o governo tenham jogado a questão do Senado para terceiro ou quarto plano na cabeça do eleitor. O fato é que esse foi um voto de pouca atenção. Ainda assim, o resultado indica ascensão de Alan Rick a um novo patamar de visibilidade e importância política, e consolida o deputado Jenilson Leite como uma liderança em crescimento na cena política do estado;
4 – O ex-deputado Ney Amorim teve, talvez, a melhor lição que poderia receber do quanto precisa mudar sua forma de se conduzir politicamente. Pela segunda vez candidato a senador, foi rejeitado agora até mesmo por quem depositou um voto nele em 2018. Mesmo considerando que naquela ocasião eram dois votos, apenas 73 mil pessoas o escolheram agora, ante 115 mil a quatro anos. E não pode reclamar de falta de apoios e meios. Sua campanha foi colada na forte estrutura de Gladson Cameli;
5 – O eleitorado acreano votou em peso nos candidatos do Centrão, dando as oito cadeiras de deputado federal aos partidos que formam a base de Arthur Lira na Câmara. O Centrão é o grupo que controla a Câmara e, assim, gerencia o Orçamento Secreto e mantém o governo sob constante ameaça. É conservador nas pautas de costumes e vota na agenda ultraliberal do ministro Paulo Guedes, na sua maioria voltada aos interesses dos setores financeiro, empresarial e agrário, e contrário às classes trabalhadoras. PP, União Brasil e Republicanos, os três únicos partidos que elegeram deputados no Acre, junto com o PL, formam a espinha dorsal do grupo que dá as cartas no Congresso. Foram beneficiados pela alta dispersão dos votos (51 candidatos obtiveram mais de mil votos este ano, contra 35 na eleição anterior), pela baixa compreensão do eleitor sobre o papel e a importância do parlamento federal e, principalmente, pelas monstruosas estruturas de campanha que montaram graças aos recursos do fundo eleitoral. A compra de votos funcionou como à muito não se via;
6 – Da antiga correção de forças da política acreana, MDB, PT e PSDB foram alijados do parlamento. Perderam grande número de votos e mesmo com candidatos bem votados, como Jéssica Sales, Minoru Kinpara, Perpétua Almeida e Léo de Brito, não conseguiram legenda para alcançar sequer uma das vagas em disputa.
7 – Por fim, é fundamental que se procure entender o que tem feito o eleitor acreano se identificar com Jair Bolsonaro na disputa pela presidência. Os 62% obtidos pelo candidato à reeleição no domingo, repetindo o desempenho que teve no primeiro turno de 2018, indica uma aderência forte e consistente. Quais as razões? Seguramente esse é um tema a ser estudado. O fato é que o atual presidente não tem uma única grande realização no Estado, seja na forma de obra ou de serviço público novo instalado. Essa adesão parece vir de signos e mensagens fortes, ao invés do tradicional pragmatismo do eleitor que vota em quem lhe entrega resultados, além do fato de que nosso Acre se tornou o paraíso das fake news – especialidade da campanha bolsonarista desde 2018.
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