Foi dada a largada na campanha eleitoral propriamente dita e, pelo visto, em era digital nada ficará encoberto. O tempo de campanha será curto e o tráfego de notícias, algumas falsas ou distorcidas, será intenso e permanente, o que eleva a importância dos debates, sabatinas e entrevistas, sejam promovidas por corporações como o CREA, OAB, FIEAC etc., seja nas televisões, podcasts e sites de notícias. É a melhor oportunidade para que os candidatos majoritários firmem suas posições diretamente, delineiem seus programas e se qualifiquem perante o eleitorado, que nessa mixórdia político-partidária perdeu muitas referências.
É necessário, contudo, que os veículos digitais de informação, assim como a velha mídia, sejam rigorosamente democráticos. No Acre, então, como são em pequeno número, mais ainda. Refiro-me a isto porque não é raro que o entrevistador facilite ou dificulte a posição do entrevistado dependendo do seu perfil político-ideológico. É conhecido em Rio Branco o entrevistador levantador (analogia ao vôlei) do time de camisa vermelha.
É claro que cada veículo tem todo o direito de conduzir sua linha editorial conforme lhe aprouver, nada contra. Aliás, ninguém é obrigado a ir a qualquer desses eventos, se o faz, seguramente avaliou os riscos. É do jogo. Mas, convenhamos, não parece razoável que previamente se escolha “aliviar” ou “espremer” quem quer que seja. Sinceramente, não creio que estes sejam momentos próprios para lacração, mesmo porque a audiência percebe quando o jogo é marcado, portanto, há sempre o risco de criação de uma vítima.
Há exemplos a seguir. Vimos acontecer recentemente as entrevistas que o presidente Bolsonaro deu a dois programas (o Flow e o Cara a Tapa), de alcances ao vivo superiores a 550 mil audientes e mais de uma dezena de milhões de visualizações posteriores. Nos dois, os entrevistadores cutucaram o presidente, mas não quiseram confrontá-lo, nem transformar a conversa em debate onde o jornalista exibe sua sapiência ou sua capacidade de enredar o entrevistado. Permitiram que o presidente respondesse a cada pergunta espontaneamente, sem freios nem provocações descabidas, o que significa levar ao público, por inteiro, em conteúdo e forma, o candidato.
As tais pegadinhas ou constrangimentos que entrevistadores utilizarem contra qualquer candidato, às vezes engraçadas ou irônicas, serão sempre uma demonstração de desrespeito ao cidadão que ali se encontra inteiramente disponível, alguns inexperientes em exposição pública, ou, em muitos casos, cansados, insones, mas mesmo assim corajosamente a enfrentar perguntas sobre temas escolhidos ao exclusivo alvedrio do entrevistador.
Não significa, por outro lado, que os encontros devam ser meros convescotes para exibição estética de uns e outros. As perguntas precisam ser firmes, embasadas e focadas no interesse da população e nas condições de como detentor do mandato popular, este ou aquele indivíduo possa de fato exercê-lo com decência, sendo capaz de ajudar a mitigar os grandes problemas da população. A meu ver, três perguntas fundamentais a população faz ao candidato: Quem é você; o que você pretende e que condições você tem de realizar o que promete. Ir muito além disso pode facilmente resvalar para incursões na vida pessoal, gostos ou preferências do candidato que não estão em questão quando observadas as atribuições do cargo em disputa.
Sim, em certa medida, a eleição também é um julgamento moral do candidato, mas aí estaremos tratando do contexto de sua vida pública. Todo político carrega, minimamente que seja, uma imagem, uma representação, uma história pública que permita ao eleitor entender de quem se trata. Isto responde ao “quem é você?”.
A pergunta “o que pretende?” quer respostas objetivas sobre que projetos anuncia, a que perfil político ideológico ele se alinha, que pautas defenderá, que comportamento dele se pode esperar perante as agendas estadual, nacional e internacional e assim por diante. Neste momento o candidato se revela como político e aí não cabe tergiversação. Se é contra, tem que dizer com todas as letras e se é a favor, idem. Preciso, como eleitor, saber se meus pontos de vistas estarão representados fielmente por aquele candidato ou se estou votando num embusteiro que fica delegando ao “partido” ou às circunstâncias futuras a sua posição.
A terceira pergunta, muito importante, é saber se o candidato tem condições pessoais e políticas de realizar os projetos com os quais se comprometeu. Com que apoios conta, em que cenário político será inserido, que laços o potencializam. Não é raro que candidatos se apresentem prometendo o que não está ao seu alcance ou repetindo promessas que não realizou quando teve a oportunidade. Às vezes a hipocrisia bate no sujeito com tanta força que o velho político se dispensa de toda a responsabilidade por problemas graves e antigos que ele próprio gerou.
De todo modo, tenho muita esperança de que a agenda de entrevistas, debates etc., seja tão esclarecedora quanto intensa, e desejo que os candidatos, todos eles, tenham a oportunidade franca e respeitosa, de demonstrar as melhores razões para que nele acredite Vossa Excelência, o eleitor.
Valterlucio Bessa Campelo escreve todas as sextas-feiras no ac24horas e, eventualmente, em seu blog, no site Conservadores e Liberais do Puggina, revista digital NAVEGOS.
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