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Para voltar a ser um lugar simples, solidário e feliz, o Acre terá que superar a pobreza extrema e o ódio na política

Por
Irailton Lima

É eleição. É tempo de falarmos das questões centrais para o presente e, principalmente, o futuro. O final da pandemia da COVID-19 e o fato de que estaremos diante da decisão do voto em poucos dias nos obrigam a isso. Significa falar sobre desigualdade social, mudança climática e democracia, que são, no plano mundial e no contexto do Acre, os desafios dos tempos atuais.


Diminuir a brutal desigualdade que põe em xeque o próprio capitalismo é hoje tarefa de políticos, economistas e sociólogos em todo o mundo. Implica na adoção de políticas em larga escala que, primeiramente, alterem o fluxo econômico atual – gerador de cada vez mais concentração de renda e riqueza nas grandes corporações e seus acionistas. Isso é tão real que até mesmo os mega milionários estão pedindo que sejam mais taxados e passem a pagar mais impostos. O segundo é superar o dogma neoliberal do Estado Mínimo e acordar para o fato que sem Estado justo as sociedades humanas cairão na barbárie do salve-se quem puder.


Entretanto, a questão da desigualdade chega aqui de outra forma. No Acre o maior problema é a pobreza – fonte e resultado de nosso atraso. Quase metade da população acreana vive em insegurança alimentar. Um terço depende diretamente de programas de transferência de renda, como o Bolsa Família, hoje travestido de Auxílio Brasil. O desemprego, a violência e a desesperança são filhas diretas dessa pobreza extrema.


Ao mesmo tempo, nossa estrutura econômica atual faz com que qualquer política de desenvolvimento leve a mais concentração e mais desigualdade, dada a absoluta ausência de mecanismos que facilite o acesso dos mais pobres à nova riqueza gerada. Ou seja, é necessário garantir renda básica aos muito pobres e ao mesmo tempo engendrar formas que garantam que os resultados econômicos do desenvolvimento se distribuam por toda a pirâmide social, ao invés de novamente ficar concentrado no topo.


Essa é uma tarefa gigantesca. Algumas medidas consagradas pela experiência mundial seriam um forte investimento em educação e formação de mão de obra de qualidade, geração de negócios inteligentes de pequeno e médio portes, com alguma tecnologia embarcada, e serviços públicos de qualidade que compensem a falta de renda dos mais pobres em áreas como saúde, segurança pública e bens culturais. Isso tudo sem falar, é claro, na urgência de medidas de geração de empregos, com destaque para investimentos na construção civil e na produção rural familiar.


A segunda questão diz respeito às mudanças climáticas. Sobre isso, um esclarecimento inicial: me recuso acreditar que alguém em sã consciência cogite apostar na ideia de que o Brasil e o mundo seguirão paralisados diante do atual nível de devastação da Amazônia.  É óbvio que não. E a mudança de postura virá por exigências do próprio mercado mundial de commodities, além da comunidade política internacional.


Então, a questão que fica é, como faremos para aproveitar a oportunidade estratégica advinda da emergência mundial pela salvação do bioma Amazônia? E desta vez a urgência por soluções virá acompanhada de ações concretas e de curto prazo, ao invés das promessas do passado. O fato é que de uma forma ou de outra, a estrutura econômica capaz de gerar bem-estar para todos os acreanos a que me referi anteriormente, terá que se assentar em atividades e setores com alto potencial de exploração sustentável dos recursos da floresta, bom uso dos conhecimentos das nossas populações tradicionais e capacidade de traduzir farta biodiversidade em produtos de alto valor agregado. Sem falar no imenso potencial de serviços ambientais que dispomos.


Por fim, recuperar o vigor da democracia, reavivando seu valor como sistema político que garante ao povo controle do seu destino. Para isso é fundamental que os políticos voltem a respeitar o povo e parem de usurpar sua dignidade por meio dos esquemas de compra de votos. Político bem-sucedido no Acre virou sinônimo de bom operador de esquema eleitoral. Nessa lógica, político não precisa trabalhar, representar ideias, categorias ou causas. Nem mesmo precisa fazer assistencialismo, como antigamente. Basta viabilizar o dinheiro que, passando pelas mãos dos “líderes” comunitários que apresentam suas listas de eleitores, comprarão os votos necessários à eleição. Esse sistema destrói a política, porque retira a legitimidade dos representantes eleitos e afasta por completo as comunidades do parlamento.


Outro desafio é superar o vício em fake news. O cidadão médio acreano não se importa mais com a verdade. Ela será sempre, para ele, a que concordar com suas pré-disposições. É evidente que uma sociedade saudável não sobrevive numa realidade dessa. O apego a realidades paralelas e o desprezo pelo mundo real cobram seu preço. O preço da ansiedade, do medo e da falta de sentido, frente a uma existência vazia de significados e dominada por mentiras.


Se quisermos voltar a ser uma comunidade simples, feliz e solidária, precisamos superar o mal que as correntes de ódio do WhatsApp fizeram conosco, além de abandonar equívocos como “a florestania nos atrasou 20 anos”, e assumir a tarefa de botar o governo para, por meio de suas políticas, combater a desigualdade, melhorando a vida da metade muito pobre da população acreana. Ou seja, precisaremos de um governo inteligente, eficiente e trabalhador.


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