O estado do Acre possui uma única indústria de calçados profissionais que atende seus 22 municípios e de quebra mais quatro estados brasileiros. A BootNorte nasceu com a proposta de oferecer conforto, qualidade e segurança aos clientes, que em sua maioria são trabalhadores da construção civil. Para isso, a marca conta com apoio irrestrito da Federação das Indústrias do Estado Acre (Fieac) desde sua inauguração, ocorrida em agosto de 2016.
Há seis anos, a empresa produz calçados de proteção individual e tem ganhado reconhecimento fora do estado pela qualidade empregada no produto. Além do Acre, vende para Rondônia, Mato Grosso, Roraima e Amazonas. Tudo começou quando o empresário Esmerino do Vale, de 70 anos, sentiu a falta de uma fábrica nesse ramo a nível local. Após fazer um estudo de mercado, decidiu ser pioneiro na área quando viu a oportunidade de alavancar seu nicho empresarial.
Esmerino é mineiro, mas mora no Acre há muitos anos. Após abrir a primeira fábrica de calçados, tentou comercializar alguns modelos para passeio, mas resolveu focar principalmente no calçado de segurança para trabalho. Apesar de a empresa ter surgido quando a situação econômica no país não estava favorável, vem quebrando barreiras nos últimos anos, inclusive vencendo a crise causada pela pandemia de Covid-19 recentemente.
A gerente-geral da BootNorte explica que por se tratar de um produto 100% acreano, a empresa teve de firmar parceria com o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) para poder fazer cursos e treinamentos junto aos colaboradores. “Não tinha nada pronto ou empresa que pudesse nos amparar de início, então a gente teve que traçar tudo desde o começo, com ajuda da Federação das Indústrias”, conta Ariani Medeiros.
Atualmente a marca conta com 21 colaboradores, mas a fábrica ainda não está com sua capacidade total atingida, podendo ter um volume muito maior de funcionários. “Hoje estamos com uma média de produção entre 250 a 300 pares produzidos por dia e 5 mil pares por mês. Porém, a capacidade é para 1.000 pares por dia”, destaca a gerente.
Ela conta que as dificuldades foram e continuam sendo grandes, mas que a mão-de-obra é muito boa no Acre. “Os funcionários são muito dedicados, detalhistas. Se veem um defeito, o calçado já retorna. Nosso produto é muito bom e às vezes as pessoas têm um pouco de receio de adquirir e achar que não é tão bom. Mas logo depois se dão conta de que se trata, sim, de um produto de extrema qualidade”.
Reconhecimento
A BootNorte trabalha com representantes no interior do Acre e em outros estados levando amostras dos calçados para os clientes, lojistas e grandes empresas e indústrias. “Na primeira vez que as pessoas veem, já relatam sobre a aparência muito boa do produto, a estética das botas. Eles colocam o sapato para uso, fazem um teste e veem que realmente é bom”, relata Medeiros.
Em Rio Branco, entre 70 a 80% das lojas comerciais revendem as botas da BootNorte e praticamente todas as lojas de material de construção possuem os calçados, bem como os supermercados. O produto é 100% feito de couro legítimo e a sola de borracha. “Nosso material é colado e costurado. Infelizmente é uma tristeza pra gente aqui ter o couro, que é a matéria-prima principal, mas ela não é acabada no estado. Então, temos que comprar de fora”, lamenta a gerente.
Para adquirir a matéria, a empresa acreana liga para os fornecedores e faz a cotação dos preços. “O couro vem de Guaxupé (MG), então demora de 15 a 20 dias para aprontar o pedido, depois demora mais 15 a 20 dias para poder chegar aqui. Essa é uma das nossas dificuldades e acredito que seja a de muitos outros empresários locais, que é a logística bem mais complicada pra quem está no Acre. Temos que trabalhar com um estoque muito maior”.
Processo de produção
Após entrar em estoque, o primeiro processo da fabricação das botas é o corte do couro. Corta-se todas as peças por numeração, quantidade e depois vai para a chanfragem, que tira o excesso do couro para não dar diferença na altura do calçado. Ali são feitas colagens de alguns materiais e também começa a costura, que é dividida entre automática e manual.
Depois, o calçado vai para a conformação, que dá o formato do calcanhar e do bico do sapato. Após isso, ele recebe uma nova costura, desta vez, embaixo da palmilha. Só então passa para a última linha, que é a da esteira, onde há a parte de colagem, colocação da sola e o acabamento final.
“O funcionário costura, olha se tem algum defeito, faz a pintura, passa uma pasta, tira rebarbas, corta pontas de linha, tem todo esse cuidado”, salienta Ariani. Segundo a gerente, a BootNorte tem foco de atingir toda a região Norte do Brasil. “A gente já vem começando um trabalho também a caminho para a exportação, já que estamos próximos do Peru, Argentina e Bolívia”.
Apoio da Federação das Indústrias
Todo incentivo à iniciativa privada é bem-vindo e para a confecção de calçados não tem sido diferente. “É fundamental pra nós. Somos sindicalizados pela Fieac e sempre que tem alguma oportunidade, algo com relação a calçados, a Federação nos dá apoio. Somos a única do estado nesse ramo, praticamente tudo que a gente vai fazer tem que começar do zero porque não existe nada ainda aqui. Até incentivos para a área estamos construindo, então a Fieac é o nosso Norte”.