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O jogo de desconfianças, trapaças e vinganças

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Irailton Lima

Encerrado o tempo das articulações e realizadas as convenções partidárias, o diálogo dos políticos agora terá que ser com o povo. Antes, porém, terão que fazer um esforço enorme para justificar toda a confusão que fizeram na fase que deveria ser de entendimentos e alianças. E toda essa confusão para definição das chapas que disputarão os votos dos eleitores em outubro denuncia o estado de bagunça em que se encontra nossa elite política – e vamos logo esclarecendo a diferença: estamos falando daquele seleto grupo de representantes eleitos; dos detentores de mandato com poder de dirigir o estado, excluindo-se, por óbvio, a oposição.


E o que isso tem a ver com você? Tudo. Explico.


Conversas de articulação política são normais na democracia. Na verdade, mais que isso: fazem parte da natureza da política. Compõem um jogo de força e poder em que os diferentes interesses da sociedade se articulam e formam alianças na tentativa de construir maiorias eleitorais. Por isso, em todo tempo e em todo lugar se constituiu uma elite política, que somada a outros atores sociais e institucionais formam o grupo dirigente.


E ser elite tem seu preço – é bem verdade que tem imensos privilégios, como prestígio social e quase sempre uma elevada compensação financeira. O preço a pagar é o da responsabilidade de conduzir o povo na satisfação de ansiedades, necessidades e desejos. Lembremos de Moisés dirigindo exigentes ex-escravos na peregrinação pelo deserto em busca da terra prometida. Por isso, podemos até dizer que a realidade e o futuro das pessoas de um lugar estão diretamente vinculados à qualidade de quem o dirige.


E, convenhamos, nisso estamos muito mal.


No Acre, praticamente tudo depende do governo e das prefeituras. Aqui o peso dos políticos com mandato é imenso, reforçando ainda mais a condição de elite dirigente que ocupam. Pois bem, o que os nossos líderes políticos fizeram por esses dias é inacreditável. O festival de rasteiras, mentiras e discursos vazios que encenaram ao longo das articulações e nas convenções partidárias não deixam dúvidas sobre isso.


Esse talvez tenha sido o pior momento da política acreana em muitas décadas. E tudo sendo transmitido ao vivo pelos portais, pelos programas de entrevistas e ocupando generosos espaços nas manchetes aqui do AC24H. Aliás, a imprensa corretamente fez a sua parte. Abriu espaços e noticiou, possibilitando que os políticos anunciassem seus acordos e desacordos. Talvez jamais tenhamos tido um processo tão transparente quanto esse – e isso foi bom.


Voltemos a falar de rasteiras. Das tantas ocorridas, algumas saltaram aos olhos. Por hora não falaremos da maior de todas, que é o fato de o governador Gladson Cameli iniciar a campanha tendo que pedir ao povo um segundo mandato sem ter realizado sequer a terça parte do que prometeu na eleição passada.


A humilhação imposta pelo governador ao senador Márcio Bittar ao trocar sua ex-esposa, Márcia Espinosa, pelo deputado Alan Rick na vaga de vice é seguramente daqueles episódios que entrarão para a história. E olha que Bittar era o único sobrevivente do grupo de aliados fortes que ajudaram Cameli na vitória sobre a Frente Popular em 2018.


Mas o senador Bittar não é apenas vítima. Bom executor das leis do poder, sabe que as pessoas não seguem líderes fracos, tampouco bons. Elas acompanham a quem temem. Bittar vingou-se de Cameli e Alan Rick, assumindo o controle do União Brasil e impedindo a presença do deputado na chapa de Cameli. Agora Márcio Bittar é candidato ao governo tendo Alan Rick de companheiro de chapa na vaga de senador, enquanto sua protegida Márcia Espinosa é candidata ao senado na chapa do MDB, que tem Mara Rocha de governadora.


O deputado Alan Rick, por sua vez, é candidato na chapa de Márcio Bittar mas quer mesmo é ser o ungido do governador Gladson Cameli. O governador, por outro lado, convidou o ex-deputado Ney Amorim para a vaga de senador prometendo fidelidade. O estranho é que já na convenção do PP Alan Rick subiu no palco onde estavam os candidatos do governador. Esse é apenas mais um dos muitos indícios a sugerir que Ney Amorim será traído e trocado por Alan Rick no dia a dia da campanha de Cameli.


O fato é que a fase final das articulações virou um jogo de desconfianças, trapaças e vinganças, revelando a fragilidade do arranjo que fez ascender ao poder a elite política saída da eleição de 2018. Enquanto isso, da parte desses, nosso Acre segue sem rumo e sem um projeto claro de futuro.


Como visto, estamos mesmo muito mal.


 


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