Ainda em ritmo de EXPOACRE, antes que a campanha eleitoral domine todas as atenções, aproveito para enfiar o bedelho no artigo do ilustre professor Orlando Sabino sobre a questão da mandiocultura no Acre. Embora seus termos não estejam de todo imunes à consideração do momento político, o texto publicado em 21/07 neste ac24horas traduz uma realidade concreta – há uma evidente diminuição da produção de mandioca no Acre. Faltou dizer as causas e contextualizar o quadro geral. Vejamos o que dizem os dados do IBGE:
Quadro 1. Evolução da Área Plantada (ha) 2009-2020
Quadro 2. Evolução da Produção (kg) 2009-2020
Quadro 3 – Evolução do Rendimento Médio (kg/ha) 2009-2020
Dos quadros acima, conclui-se o seguinte:
– De 2009 a 2012 houve um aumento substancial na produção e área plantada.
– A tendência de queda na área plantada iniciou-se em 2012 e vem se mantendo;
– A produção teve ápice em 2014, caiu abruptamente em 2015 e teve novo ápice em 2016. Caiu de modo abrupto em seguida e vem mantendo a tendência de queda a partir de então;
– O rendimento por hectare teve um incremento significativo em 2014 e mantém certa estabilidade desde então.
Pode-se afirmar, portanto, que a mandioca perde importância econômica pelo menos desde 2012, e não de 2016, quando teve um aumento que serviu de ponto de partida para o alarme do professor.
Em primeiro lugar importa considerar que assim como qualquer produto, a mandioca não está imune a variações do mercado que podem determinar, por exemplo, a sua substituição por outras culturas mais rentáveis, o que no caso aparece com o incremento, por exemplo, da cultura cafeeira.
Em segundo, considere-se que em todos os processos produtivos há uma tendência natural de migração para atividades que exijam menos mão-de-obra, que sejam menos cansativas e, tanto quanto possível, mecanizadas, o que não é, por agora, o caso da mandioca, embora existam maquinários adaptados ao plantio e à colheita.
Em terceiro, precisamos levar em conta o progressivo abandono das áreas rurais pelas populações mais jovens, o que determina escassez e baixa produtividade da mão-de-obra, pois aumenta sensivelmente a idade média dos agricultores.
Em quarto, lembremos que a COVID impactou fortemente a disponibilidade e produtividade da mão-de-obra no campo, o que seguramente fez diminuir a exploração das áreas com a mandiocultura.
Em quinto, lembremos que embora tenha havido um certo progresso no sentido de automatização do beneficiamento – agroindustrialização, este não chegou ainda com a eficiência e escala necessárias à maioria dos produtores, o que exige cooperação – eterno gargalo do agro acreano.
Por fim, consideremos que em uma economia de preços livres, o principal estímulo vem do mercado, de modo que é o equilíbrio entre oferta e procura que poderá sinalizar um aumento que justifique ao agricultor o retorno ou expansão da atividade.
Considerando todo o exposto e a importância da pequena produção, incluindo aí a mandiocultura, é que via preparo da área (economia de mão-de-obra), financiamento e fomento à agroindústria, assistência técnica e gerencial, é possível subsidiar fortemente o agricultor, levando-o a considerar, sem imposição, a possibilidade de explorar a cultura referida. Trata-se de, no limite da pretensão e possibilidades de cada um, beneficiar as pequenas e médias propriedade rurais, o que poderá interromper a tendência de queda da produção de mandioca em todo o Estado.
Me somo ao professor Orlando Sabino, no entendimento de que dada o nível tecnológico tecnologia envolvido, a disponibilidade de solos aptos, o número de produtores envolvidos, o mercado tradicionalmente voltado ao consumo de farinha de mandioca, algumas especificidades de origem etc., é inarredável que tenhamos um olhar focado nessa cultura.
Valterlucio Bessa Campelo escreve às sextas-feiras no ac24horas e, eventualmente, em seu BLOG, no site LIBERAIS E CONSERVADORES, de Percival Puggina, na Revista Digital NAVEGOS e outros sites de notícias.
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