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É preciso que a sociedade entenda o vai-e-vem dos políticos. Afinal, na eleição, é o povo quem decide

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Irailton Lima

De tudo o que está acontecendo nas conversas políticas por estes dias, digo só uma coisa: não posso reclamar do governador Gladson Cameli, rsrs. Como vocês são testemunhas, dia desses publiquei aqui neste espaço uma carta com três conselhos ao governador. Dois deles eram sobre as costuras pré-eleitorais. Coincidência ou não, o fato é que acatou a ambos.


O primeiro era não aceitar novamente um vice goela-abaixo e uma aliança complicada que inviabilizasse um possível segundo mandato; em outras palavras, evitar Márcia Bittar de vice. O outro era sobre abrir caminho para Jorge Viana virar senador. Afirmei que se Jorge fosse candidato ao governo, ganharia a eleição. Sabiamente, Cameli pareceu concordar com isso.


Quanto ao terceiro conselho – fazer boa gestão de governo no segundo mandato – só o tempo dirá, depois da manifestação do povo em 2 de outubro, claro.


Mas tem uma outra importante conclusão desse BBB da política em que se transformaram as articulações atuais: a rápida queda do senador Márcio Bittar do céu para o qual havia ascendido poucas semanas antes; sua trajetória mostra que a distância entre o paraíso e o inferno, na política, é questão de poucos metros e algumas palavras mau ditas.


Veja, num dado momento a coisa toda pareceu caminhar para uma situação em que o senador das emendas RP-9 (mais conhecidas como “Orçamento Secreto”) e articulador oficial dos Bolsonaro no Acre, seria o grande nome da política pelos próximos anos. Gladson Cameli, com Márcia de vice, rapidamente viraria uma “rainha da Inglaterra”, aquela que reina, mas não governa.


Com um mandato de senador, partidos fortes sob seu controle, a vice governadoria e a perspectiva de poder absoluto em 2026, Márcio Bittar se tornaria uma força de atração irresistível. Bom articulador, montaria em torno de si um campo de poder quase imbatível. Num cenário desse, mesmo com a caneta na mão, Gladson viraria nota de pé de página.  Nessa condição, Bittar levaria o Acre em definitivo no rumo da direita dura, do anti-acreanismo de alguns círculos de pecuaristas, e do bolsonarismo radical.


Foi a essa ameaça que Jorge Viana reagiu na histórica entrevista que deu ao jornalista Itaan Arruda, no Gazeta Entrevista de 1º de julho. Viana comparou Bittar ao ex-deputado Rubem Branquinho, que foi o candidato dos pecuaristas reunidos na antiga UDR, ao governo do estado em 1990. Disse que disputaria o governo caso se concretizasse a aliança Gladson-Bittar com Márcia de vice. Sua enfática posição mexeu com o tabuleiro em que jogam os políticos. Na nova ordem que surgiu, Alan Rick virou o aliado preferencial do governador. Jorge Viana voltou para a posição que lhe interessa, o de candidato a senador, e Cameli é novamente fortíssimo candidato à reeleição. Enquanto isso, Márcio Bittar está por aí a lamber as feridas da queda.


Para o cidadão comum, esse jogo todo, esse vai-e-vem dos políticos, está realmente muito confuso. Isso tudo, porém, tem explicação. Como ensina e boa ciência política, conversas entre lideranças, fazendo e desfazendo alianças, é do jogo e do movimento natural da política. A questão é que, depois de 2018, quando um tsunami varreu a área e desorganizou a estrutura de poder erguida nos vinte anos de hegemonia da Frente Popular, ninguém se entendeu mais. Pior, ninguém confia em ninguém.


Neste momento, o ideal seria que ao final de tantos encontros e desencontros as placas tectônicas da política viessem a se acomodar numa nova ordem, com três campos razoavelmente bem definidos.


Uma direita bolsonarista radical e antipetista que, em condições normais, juntaria Bittar, os Rocha e o MDB (aliás, esse é hoje um partido moribundo em busca de uma identidade, e majoritariamente bolsonarista). Mais à frente, outro bolsonarista empedernido se associaria a eles: Tião Bocalom. Uma centro-direita manos intolerante e autoritária que, digo novamente, em condições normais juntaria Gladson e Petecão – dois políticos pragmáticos; dois típicos membros do Centrão.


Por fim, uma centro-esquerda liderada por Jorge Viana e Marcus Alexandre. Aliás, o papel de Marcus Alexandre na constelação da política acreana é um caso à parte. Marcus parece receoso em assumir o protagonismo a que o povo lhe destina. O problema é que, daqui por diante, a timidez com que se movimenta poderá fazer minguar o espaço que conquistou como prefeito eleito duas vezes em Rio Branco.


Um ator importante desse jogo e que merece atenção especial é o senador Sérgio Petecão. Como dito, Petecão é político sem posição ideológica definida, centrista. Se Lula voltar mesmo à Presidência, como indicam as pesquisas eleitorais, não duvidem de seu apoio no Senado.  O problema do senador é que ele está cercado de antipetistas. Essa é a razão, por exemplo, de não ter saído o acordo com Jorge Viana – talvez seu maior erro nessa eleição.


Por outro lado, a aliança com Bocalom não se sustenta no longo prazo. Não com Lula empreendendo políticas de contenção do desmatamento da Amazônia. Isso porque Bocalom, diferente de Petecão, é um político de direita; seu lugar natural é com Bittar, a trupe bolsonarista e os ativistas da pecuária, numa aliança dos que se opõem a florestas, índios e Amazônia.


Como se pode perceber, todo esse jogo obedecesse a uma certa ordem. É dotado de uma racionalidade que dá sentido a tantas palavras ditas e desditas pelos políticos. Bom seria se ao povo fosse dada a oportunidade de entendê-lo. Até porque, no final das contas, é ele quem soberanamente dá a palavra final.


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