A terceira edição do boletim “Descontrole no Alvo”, divulgada nesta sexta-feira (22) pelo Instituto Igarapé, traz um alerta sobre o aumento de armas em circulação na Amazônia Legal: entre 2018 e 2021, enquanto o registro de armas por pessoas físicas no Brasil cresceu 130,4%, o crescimento na Amazônia Legal foi de 219%.
Ainda que em todo o país a facilitação do acesso à armas e munições, decorrentes das diversas alterações infralegais realizadas na política de controle de armas pelo governo federal desde 2019, tenha ampliado o número dos arsenais em circulação, o ritmo do aumento na região foi ainda maior comparado ao restante do país.
O aumento das armas e munições em circulação na região, desacompanhado de qualquer medida de aperfeiçoamento das capacidades de controle estatal desse arsenais, se torna ainda mais preocupante diante dos desafios impostos pelas diferentes violências na Amazônia Legal.
Essas violências passam pelos conflitos e assassinatos, como os registrados pela Comissão Pastoral da Terra – CPT1 e pelo DATASUS, pelos crimes ambientais alimentados por cadeias criminosas complexas como mostrado pelo Instituto Igarapé, bem como pelo aumento da presença de diferentes facções de tráfico de drogas como revelado pelo FBSP e pelo ICS3. Entre 2012 e 2021, a CPT registrou quase 5.000 conflitos na Amazônia Legal, que levaram ao assassinato de mais de 300 pessoas.
Os dados de conflitos de campo e assassinatos são elaborados e disponibilizados pelo Centro de Documentação Dom Tomás Balduino da Comissão Pastoral da Terra.
É importante destacar também que a região foi na contramão da tendência de redução de homicídios no país. Analisando os anos de 2012 e 2020, o número de mortes caiu 13% no Brasil: de 57.045 em 2012 para 49.898 em 2020. Na Amazônia
Legal, contudo, houve um aumento de 2% nos homicídios, passando de 8.936 em 2012 para 9.084 em 20204.
As mortes por armas de fogo também aumentaram na região. Enquanto no Brasil os homicídios por arma de fogo caíram 15% quando comparamos os anos de 2012 e 2020, passando de 40.071 para 33.993, a Amazônia Legal viu estes crimes aumentarem 4% no mesmo período, indo de 5.537 para 5.780. Em 2012, 14% dos homicídios com arma de fogo registrados no Brasil foram cometidos na Amazônia Legal. Oito anos depois esse volume subiu para 17%.
Onze estados apresentaram aumento nos homicídios entre 2012 e 2020. Cinco dos nove estados da Amazônia Legal estão entre eles: Acre, Amapá, Maranhão, Roraima e Tocantins. Esses estados são os mesmos que também tiveram aumento nas mortes por arma de fogo.
Os últimos dados oriundos da Saúde são os de 2020. Os dados fornecidos pelos órgãos de segurança pública são atualizados mais rapidamente e dão uma dimensão da evolução deste problema.
