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Em 25 anos vendendo pipoca, acreano forma a filha e constrói casa para a família

Por
Thais Farias

Seja doce ou salgada, a pipoca de Armando Bastos de Araújo, ou simplesmente seu Armando, é uma das mais conhecidas e requisitadas da capital acreana. Ingredientes como bacon, manteiga e milho de boa qualidade contribuem para o diferencial do produto vendido próximo ao Palácio Rio Branco, além do carisma e simpatia do vendedor, que, segundo ele, são responsáveis por conquistar pelo menos 50% de sua clientela.


 


Aos 56 anos de vida, conta quase três décadas dedicadas à venda de pipoca. Há 10 anos seu Armando decidiu inovar e inserir o bacon na pipoca salgada. No entanto, a mudança não agradou ao público logo de início. “Quando comecei a colocar bacon no milho de pipoca trouxe 100 gramas no primeiro dia. Lembro como se fosse hoje, as pessoas passavam por aqui e diziam: meu Deus, que coisa fedorenta”.


 


Mesmo assim, persistiu na ideia e só a partir do sexto mês vendendo pipoca com bacon é que os clientes se acostumaram com o novo sabor e o vendedor já estava gastando mais de um quilo de bacon todos os dias. “Desde então as pessoas já perguntavam pelo bacon, só queriam se tivesse o bacon. Tanto que a pipoca que mais vendo é a salgada, essa bate recorde de vendas”.


 



 


Num dia bom de movimentação de clientes, seu Armando chega a vender cerca de 10 quilos de milho em uma tarde, ou seja, 20 pacotinhos de 500 gramas de milho de pipoca. “Com o fechamento das escolas no auge da pandemia de Covid-19, tive queda abrupta nas vendas. Minha clientela também é composta principalmente por trabalhadores da região central da nossa cidade”.


 


Ele chega ao ponto com seu carrinho às 13 horas e permanece até 18 horas, sempre de segunda a sábado. “Meu trabalho aqui se deve muito à sensibilidade da gerente da loja de departamento onde fixei meu ponto na calçada. Não me canso de fazer esse agradecimento, pois se não fosse a direção da loja me aceitar aqui, não sei o que seria de mim. Permitiram eu ficar todos esses anos aqui e sou muito grato por isso. A gerente não sabe o quanto é importante na minha vida”, afirma.


 


Antes de fixar seu carrinho em frente à loja de departamentos, onde está há mais de 16 anos, começou vendendo pipoca na famosa ‘esquina da alegria’, também no Centro de Rio Branco. “Eu era empregado, trabalhei como eletricista, mas tive problema de úlcera e passei por cirurgia. Como meu trabalho era pesado, não pude mais trabalhar com aquilo e tive que escolher alguma coisa para trabalhar, já que não podia me aposentar”.


 



 


Seu Armando optou pela pipoca. Porém, a migração para o novo trabalho não agradou muito aos familiares e amigos. “Muita gente dizia que eu não conseguiria levar o negócio adiante porque não tinha prática com vendas, nem sabia fazer pipoca. Mas eu sempre dizia: a gente nasce sem saber de nada e depois aprende de tudo. Foi quando eu comecei devagarzinho”.


 


 


Comercializar pipoca foi o primeiro contato que seu Armando teve com vendas em toda a vida. Ele relata que no começo foi tudo muito difícil. “Tinha dia que dava vontade de pegar esse carrinho e jogar da ponte lá dentro do rio”, brincou. O que ocorre é que seus concorrentes não gostavam muito de sua presença pelo centro da cidade. “Para onde eu ia era desse jeito, eles me ameaçavam e me diziam pra eu ficar distante”. O tempo passou e muita coisa mudou, inclusive seu espaço entre os clientes, que foi conquistado pelo sabor da pipoca e sua principal característica: a simpatia.


 


Conquistas


 


Quando começou a vender pipoca, ele tinha uma casinha de madeira que media aproximadamente 3×3. “De uma brecha para outra dava quase um palmo e quando chovia molhava tudo dentro”, relembra. Na casa havia um fogão, uma botija de gás e uma cama que ele dividia com a esposa e os três filhos. “Com a minha venda de pipoca, graças a Deus, fui muito abençoado. Conquistei tudo que tenho”.


 


Construiu a casa em que a família reside, comprou móveis e mobiliou a casa e formou uma filha na base da pipoca. “Minha filha é o meu orgulho. Amo meus três filhos, mas ela é quem disse: pai, eu quero estudar”. Andréia tem 25 anos e há quatro anos formou-se em Recursos Humanos (RH) no Centro Universitário Uninorte. “Formei ela às custas de pipoca. Na época, a mensalidade custava R$ 900.” Até hoje, Andreia visita o carrinho de pipocas do pai quase todos os dias depois do trabalho.


 


Vendendo pipocas ele também montou um pequeno salão de beleza para a esposa trabalhar e ajudar nas despesas da família e assim foi, um complementando o outro. Contudo, nesses 25 anos, muita coisa mudou. Para ele, a maior dificuldade gira em torno da inflação. “Hoje a gente trabalha no limite. Tem dia que a conta da planilha não fecha. Está tudo muito caro. Dez anos atrás a gente podia dizer que tinha um lucro de verdade, pois era tudo mais barato. Hoje é muito difícil trabalhar”, lamenta.


 


A crise financeira ocasionada pela pandemia foi outro problema que afetou o orçamento de toda a família. “O governo poderia ter algum tipo de financiamento que a gente pudesse ter uns juros mais baixos, algum tipo de carência, porque isso não existe pra gente. Isso ajudaria muito. Os juros hoje matam qualquer um e nos impede de fazer muita coisa”.


 


A segurança no centro da capital é outra preocupação para o vendedor. Segundo ele, o local já foi mais tranquilo para trabalhar. “Quando o Centro Pop veio para o Centro, virou um problema, começamos a sofrer muitos furtos”. Ao longo desse período, fez muitos amigos entre os clientes. Diversos partidos já o procuraram para tentar inseri-lo na política, mas ele nunca se interessou. “Sou muito conhecido, mas não tenho interesse nenhum. Para o futuro acredito que meu negócio pode acabar, eu temo isso. Por isso tenho que procurar outro tipo de negócio. Uma pipoca com bacon de 6 reais as pessoas acham caro, se ficar um pouco mais caro, pode fechar. Enquanto isso sigo sendo feliz e vendendo com amor”.


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Thais Farias

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