É sempre com algum cuidado que adentro a temas políticos locais, principalmente porque não sendo jornalista e, possuindo um claro posicionamento convergente com o que costumam rotular de direita conservadora, sou obrigado a dispensar-me da isenção que alguns poderiam esperar em publicações como esta. Há, porém, momentos em que o silêncio pune a alma, então, adiante.
Há algumas décadas, desde que o politicamente correto passou a comandar a velha imprensa, a justiça e o parlamento, a agenda pública promove o que rotularam de “empoderamento feminino”. Cotas e mais cotas foram reivindicadas e estabelecidas em termos que privilegiam as mulheres na sociedade. Está no ar campanha institucional, paga com nossos impostos, promovendo as mulheres no processo eleitoral. De certo modo, o Estado pede aos eleitores que votem em mulheres, ou seja, que não votem nos homens, como se o sexo do candidato ou candidata fosse atestado de idoneidade ou de boas intenções.
No limite da histeria, a simples palavra da mulher substituiu os sagrados princípios da presunção de inocência, do in dubio pro reo e do devido processo legal. Emblema mais recente, o processo movido pela atriz Amber Heard contra John Deep, seu ex-cônjuge, nos Estados Unidos. Felizmente, o julgamento restaurou o bom senso e o direito, mesmo assim, restou imensurável prejuízo à imagem do excepcional ator. Centenas de milhões de dólares foram perdidos em contratos, segundo o próprio.
Na prática, qualquer registro de ocorrência em uma delegacia, ou mesmo nas mídias sociais, com acusações de violência doméstica ou de crimes sexuais, tornou-se prova e basta para que o acusado seja julgado e execrado publicamente. É, por exemplo, o que está sofrendo o ex-presidente da Caixa Econômica Federal, Pedro Guimarães. Curioso é que na eleição de Biden, nos EUA, acusações da espécie foram jogadas pela velha imprensa para debaixo do tapete. É que, segundo essa gente, sendo progressista, pode.
Também no que refere à política, o feminismo que move esta roda, ou o empoderamento feminino, ou algo que o valha, só aceita mulheres que venham acompanhadas de uma vírgula e uma vitimização. Exemplifico: Mulher, negra; Mulher, LGBT; Mulher, pobre; Mulher, oprimida, e assim por diante. Não vale ser apenas mulher e vale menos ainda ser mulher conservadora. A esquerda não está para defender a mulher, mas apenas as mulheres que de algum modo possam servir à sua causa revolucionária.
Assisti nos últimos meses o silêncio das tais feministas quando Marcia Bittar foi injuriosamente atacada, e injustamente criticada a partir da super valorização de eventuais equívocos ou de distorções maliciosas de suas manifestações. Cada palavra sua foi meticulosamente sopesada na tentativa de impor-lhe uma caricatura a ser atacada. Aonde encontro aquela turma que bate o bumbo vitimista toda vez que uma mulher se diz perseguida? Não precisa responder, estão tacando pedras porque Marcia Bittar se apresenta com uma pauta moral, centrada na religião e na família e isto assusta o esquerdismo militante. Fora da bolha progressista ninguém merece defesa. Nem estou considerando nesta rápida análise as questiúnculas e manifestações de ódio pessoal eivadas de palavreado injurioso. Neste sentido, cada um que alimente seu monstro interior como quiser.
Creiam, meus caros, nos dias de hoje, abraçar uma religião e adotar publicamente uma postura conservadora exige mais coragem do que sair ao mesmo tempo de dez “armários” progressistas. A patrulha foi invertida e tornou-se cruel. Os aplausos da mídia e de seus mamulengos vão para o militantismo ateu e progressista de esquerda sem medo de cometer injustiças.
Disso se aproveitam os adversários do governo. Acompanhamos recentemente até um certo “encorajamento” da oposição para a disputa, a partir da escolha da Marcia Bittar para compor a chapa do governador Gladson Cameli. Um exercício político ancorado em falsa premissa – a de que a chapa estaria enfraquecida e, portanto, seria mais facilmente enfrentada. Ora, com esta composição, a chapa da reeleição ganha o apoio ostensivo do Presidente Bolsonaro, de oito partidos incluindo alguns grandes, de dezenas de candidaturas proporcionais, de vários prefeitos, de enorme tempo de televisão e fatias importantes de recursos financeiros de campanha, então, como poderia não ser uma soma considerável, talvez decisiva na campanha?
Creio que não se trata de encorajamento, muito pelo contrário. Lembremos que a renúncia de Marcia à disputa pelo senado e a composição na chapa majoritária abre largo espaço que turbina outro concorrente do mesmo campo, o deputado federal Alan Rick, que a cada dia ganha terreno. Para quem tem o teto baixo, a diminuição do número de concorrentes é fatal. Então, para fugir da disputa, não custa nada “tratorar” a imagem de uma mulher de viés político conservador.
É claro, como diriam alguns, vulgarizando a campanha eleitoral, que: “entrou na chuva, é pra se molhar”. Ok. Espero, entretanto, que o “molhar” não seja com água suja de mentiras, injúrias e ressentimentos pessoais. A mulher na política, sendo conservadora, se não conta com a elegância de seus desafetos, nem com o apoio do feminismo vitimista, tem que, pelo menos, usufruir de alguns direitos básicos aplicáveis a qualquer julgamento, repito – presunção de inocência, in dubio pro reo e devido processo legal. Sem isso, a campanha tende à carnificina, e isto implica a existência de carniceiros.
Valterlucio Bessa Campelo escreve às sextas-feiras no site ac24horas e, eventualmente, no seu BLOG, no site Liberais e Conservadores do Puggina, na revista Navegos e outros sites.
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