A estátua de Chico Mendes na Praça Povos da Floresta foi vandalizada e segue jogada ao chão faz já três dias. Com ela estamos todos nós, jogados ao chão num inequívoco sinal do desprezo de nossas elites políticas ao que um dia pode ter representado quem somos e de onde viemos. O desprezo pela arte que simboliza Chico Mendes é o equivalente ao desvalor de nossas raízes e tudo aquilo que nos permitiu ao longo da história nos constituirmos como acreanos.
Chico Mendes é um herói nacional, aclamado pelas leis da República como Patrono do Meio Ambiente, e talvez o único acreano a nomear praças, parques e ruas em cidades pelo mundo. Para nós ele representa o seringueiro, esse ancestral nordestino que enquanto lutava para dominar os mistérios da floresta foi nos constituindo como povo singular dotado de uma cultura e uma identidade própria.
O seringueiro acreano deveria ser valorizado por nós como o colono americano é visto pelo povo de lá: fundador da nação. Com a valiosa diferença de ter aprendido a conviver e a dividir esse chão com os nativos da terra, coisa que o colonizador europeu se recusou a fazer por lá. O seringueiro em seu trabalho diário na floresta, extraindo leite, fabricando péla de borracha e produzindo em seu pequeno roçado é parte da nossa história cotidiana. Um cotidiano que vai assimilando estratégias de vida, construindo lendas, estabelecendo valores, preferencias e, assim, constituindo uma cultura.
É essa parte, a cultura, que não cessa de viver em nós, porque estimula sentimentos primitivos e nos induz à empatia por quem sente o mesmo que sentimos. É esse sentimento que faz com que uma pessoa sinta proximidade e segurança quando encontra um compatriota em terra estrangeira. É a sensação de que se compartilha o idioma falado, a comida desejada e a música ouvida que nos faz sentir à vontade com quem nunca nem vimos antes. E isso é parte de nossa identidade no sentido antropológico, no sentido mais profundo quando identidade gera pertencimento e confiança.
Um povo sem identidade é como uma pessoa sem face, incapaz de reconhecer a si mesma no espelho. A destruição da memória e de tudo aquilo que organiza e estrutura a cultura das pessoas de um lugar é o a forma mais violenta de lhes retirar a vida. A perda da cultura é a parda do sentido e do significado de estar e ser de um lugar. Matar a memória de Chico Mendes é como ir matando aos poucos cada um de nós, acreanos. É negar que sejamos quem somos, substituídos pelo sertanejo das fivelas reluzentes e a polenta no lugar do pão-de-milho. Não nos enganemos: quem na condição de gestor público responsável pela preservação dos bens coletivos despreza a estátua de Chico Mendes, despreza quem somos como herdeiros de um povo que aprendeu a viver e amar a floresta.
Irailton Lima
Sociólogo
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