Pouca gente conhece tanto o estado do Acre como Ariosto Pires Migueis. Filho de imigrante português, Ariosto nasceu em Rio Branco, em 27 de agosto de 1935, e faz política desde os 15 anos. Muito lúcido, lembra com detalhes da sua atuação política em 1962, quando ajudou o primeiro governador eleito pelo voto direto, José Augusto, e do golpe militar que derrubou o governo.
O jovem ativista político da época conta que fugiu para a Bolívia porque soube que seria preso por se contra o regime que restringia os direitos dos cidadãos. Mas não teve jeito: dias depois, acabou levado ao quartel general que funcionava no antigo 4º BEF – Batalhão do Exército Brasileiro. “Era para lá que eles levavam os presos políticos do Acre. Eu ainda cheguei a sofrer tortura psicológica e algumas agressões físicas. Depois consegui fugir para o Rio de Janeiro, onde com a ajuda de um primo, embarquei para Portugal, onde fiquei por um ano”.
Mas a história cheia detalhes é interrompida por uma voz embargada, um olhar triste e um coração partido e arrependido. “Há 35 anos eu carrego um sentimento de culpa”, diz ele. Durante uma campanha eleitoral, em Cruzeiro do Sul, Ariosto se envolveu num caso amoroso fora do casamento e ao retornar para a capital separou-se da esposa.
“Até hoje somos separados. Eu me arrependo do que fiz”, conta ele ao jornalista Roberto Vaz, no Bar do Vaz. Ao final, Ariosto, hoje com 86 anos, não se segura e com os olhos lagrimejando, pede perdão a Mindinha, a mãe dos seus filhos.
E como diz a canção de Fagner, “um homem também chora…!”