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Diário do Acre: Equador e Cachoeira, em Xapuri

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Esperamos no posto na entrada de Xapuri, a chegada do Paulão, morador do Equador, foi de moto, pois já ia ficar pela comunidade no final de semana. Como era cedo, ainda não tinha café na conveniência, o jeito foi correr pra chegar na casa do Assis. Antes de tomar um gole de café preto parece que o dia ainda nem começou.


Chegamos cedinho na casa do Assis, ele ainda estava no curral tirando leite para a sua produção de queijo. Sua filha com destreza ajudava na lida com as vacas. Mandou nos afastarmos, só faltava desgotar uma preta metida a brava que ainda estava solta no campo.

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Por esses dias estamos por aqui, apontou para uma casinha de criar carneiros e que estava servindo de morada enquanto a casa estava em reforma. Eliane, esposa do Assis, serviu um pão de milho com calabresa, fritou uns ovos e partiu um bolo para tomarmos com café. O filhinho mais novo do Assis fez questão de ir até o Paulão e afirmar que ele era quem tinha batido o bolo, por sinal estava ótimo.


Assis perguntou quem era o jovem que me acompanhava, Danilo se apresentou e disse que era filho da Fátima Silva, Assis olhou mais de perto e disse que ele era a cara do pai dele, Armando. Fátima e Armando andaram muito pelas comunidades de Xapuri nos tempos do projeto seringueiro que levou alfabetização para a floresta. Assis foi um que aprendeu e depois virou professor ajudando os companheiros do movimento, o caminho das letras. Tido por todos como curioso e sabido, até hoje carrega o apelido de Assis Macaco desse tempo de aluno e professor.



Paulão acelerou a conversa que já ia longe, “temos de passar no Nego Maia e combinei de pegar o Feijão lá pelo Mualdo”, disse. Nos despedimos e seguimos no ramal que quanto mais percorríamos ia se fechando em floresta. Paulão deixou sua moto em casa e entrou no carro. Aproveitou pra nós contar um pouco da sua história na comunidade, lembrou com nostalgia o dia que chegou na terra onde mora, na época não tinha nem ramal, foi uma viagem de carroça e depois a cavalo.


Nego Maia estava na varanda descascando uma laranja quando chegamos, alguns sacos azuis empilhados chamaram minha atenção. Nego Maia me disse que era café, plantou duas mil mudas que comprou de um vizinho e tinha colhido um pouco. Não perdi a oportunidade e já falei da experiência de Mâncio Lima com café. Sem dúvida é uma alternativa economicamente viável para levar renda para os agricultores familiares, um dia vou lhe apresentar o Jonas Lima, prometi.



Alguns vizinhos encostaram por lá e foram entrando na conversa sobre o roçado, a vida, política e futebol, sobrou até pro Neymar que todos queriam que nessa copa do mundo fosse banco do Vinicius Jr, mesmo jogando em posições diferente, um abarcou de lá: “se o Tite mantiver esse ritmo o Brasil pode ganhar essa copa!” Brasileiro é só esperança! A garrafa de café parecia que tava dando cria, os copos não paravam vazios e ela não secava. Paulão mais uma vez disse que estava na hora! “Daqui pro Mualdo é longe”, disse.


Quando íamos saindo Nego Maia nos chamou na cozinha e disse que tinha mandado matar uma galinha, mesmo sabendo que estávamos programados para almoçar no Mualdo, não fizemos desfeita, além do mais um caldinho de galinha caipira sempre faz bem. Já disse pra Raylane, não come muito que vamos almoçar duas vezes hoje.



Mualdo estava esperando, já tinha ido até cortar hoje. Ele tem uma excelente produção de borracha. Cortei a vida inteira, até pelas bandas da Bolívia, sempre fui seringueiro me contou. Serviu um cafezinho enquanto dona Isis servia a mesa. Perguntamos pelo Ronaldo um de seus filhos que nos avisou que estaria por lá, mas infelizmente ele não foi.

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Depois de comer e conversar aquele tempinho frio convidava para tirar um cochilo, Mualdo ofereceu uma rede. levantei de um pulo antes que a preguiça me abraçasse e chamei todos para dar um pulinho no Romildo, um amigo de anos que assim como Mualdo era amigo do meu pai do tempo dos empates.


Romildo parece que tomou água de chocalho quando criança e fala por três, é uma história por cima da outra. “Cumpadi” do Mualdo contou de uma caçada de capelão, lembrando que Mualdo não come nada da mata e não carrega bicho morto no lombo, terminou lamentando que os bichos da mata sumiram muito de uns tempos pra cá.



Nos despedimos do companheiro Romildo e fomos na casa do Mucuin, sábado à tarde junta muita gente por lá pra participar do futebol. Não trouxe nem um short e nem deu de jogar, mas foi bom mesmo assim, o ventinho frio deixava o fim de tarde agradável, numa roda alguns degustavam uma pinguinha pra aquecer e outros um café quente passado na hora.


As horas parecem passar mais tranquilas em meio à floresta cortada pelos ramais e varadouros, mas quando demos fé já estava anoitecendo enquanto cruzávamos por essas comunidades que são parte da história de lutas dos seringueiros da Amazônia. Um dia Chico Mendes esteve por ali, caminhado e lutando pela organização dos trabalhadores e trabalhadoras contra os patrões, anos depois a luta continua necessária, os ideais continuam os mesmos e em cada palavra com os seringueiros percebemos como é importante manter Chico Mendes Vivo.


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