Foi aprovado no Plenário da Câmara dos Deputados, na última semana, o Projeto de Lei 3.179, de 2012, que regulamenta a prática de educação domiciliar no Brasil, conhecida mundialmente como homeschooling. Os deputados entenderam que as crianças tem o direito de aprender dispensando o regime clássico das escolas, podendo exercê-lo em sua própria casa, sob orientação dos pais.
Diga-se em primeiro lugar que o PL não obriga nada nem ninguém, apenas reconhece a quem quiser, puder e obedecer a uma série de critérios que, aliás, considero excessivos, o direito de transferir aos filhos, diretamente ou por professores contratados, o conhecimento (obedecida a base curricular em ambiente doméstico. Em miúdos, desobriga os pais que tiverem condições para tal, de entregar seus filhos ao Estado para que da escola saiam formados em série. Isso tem nome – liberdade.
Obviamente, não faltaram, contra o projeto, estupidezes do tipo que relaciona o PL a uma “segregação” entre ricos e pobres, como se os primeiros frequentassem o ensino público. Houve até quem se postasse como funcionalista, arguindo que a saída eventual de crianças das escolas públicas implicaria em diminuição de recursos para a educação. Idiotices deste jaez se sucederam contra o PL que, enfim, foi aprovado e vai ao Senado Federal.
Me arriscando a ser cobrado por não possuir “autoridade pedagógica” (sempre a autoridade!) para falar sobre o tema (não sou professor), nos tempos atuais me parece claríssima a oportunidade e a necessidade de que o homeschooling seja adotado na medida das possibilidades das famílias. Dois motivos para mim são mais evidentes. Explico:
Eficiência – em casa o ensino pode guiar-se pelo nível de atenção da criança que é variável com a idade e com o conteúdo e forma de ensino. Abre-se oportunidade para uma espécie de customização, ou seja, cada criança será educada conforme suas particularidades, incluindo ritmo de aprendizagem e aptidões, ao invés de um nivelamento em turma. O tempo ganho pode ser utilizado em outras atividades artísticas, esportivas e culturais, por exemplo.
Mudança necessária de paradigma – se hoje, como há muito tempo, o foco do ensino fundamental é processar um cliente dos exames de entrada em uma faculdade para obtenção de um diploma, o que muitas vezes encaixota o indivíduo num modelito prét a porter, o homeschooling é a oportunidade de liberar suas verdadeiras aptidões e potencialidades, gerando um indivíduo livre, capaz de adaptar-se com mais facilidade ao ritmo de mudanças que experimentamos na atualidade.
Pensemos: Por que os alunos tem que ser formados em série como bonecos, sabendo a mesma coisa, no mesmo tempo, com a mesma idade, para enfrentar o mesmo exame, entrar nas mesmas faculdades e repetir tudo de novo até terem o mesmo diploma se são essencialmente diferentes? Quem de nós nunca lamentou as horas perdidas em matérias e estudos para tirar notas em provas que não nos serviram para nada? Pois é. Você e eu estávamos sendo formatados, digo, enformados, digo, formados, para um padrão determinado em um tempo e um mundo muito diferentes da atualidade. O Estado determinou que ano a ano saíssem fornadas, digo, turmas, que, passando pelos mesmo processos, fossem maximamente assemelhadas no conhecimento que absorveram a fim de proverem as necessidades da sociedade. Foi-se o tempo em que isto era apropriado.
Pois bem. Com a explosão da diversidade de processos e produtos e com a rapidez com que as profissões – respostas às demandas, se alteram, não faz sentido algum manter o velho padrão, ainda que vez por outras seja “adaptado”. Aliás, é curioso que a esquerda, tão pródiga em “defender a diversidade”, insista em proteger um padrão de ensino empacotado em turmas, disciplinas, métodos etc., negando às famílias o direito de, tendo as condições necessárias e, sob determinados parâmetros, educar seus filhos contemplando plenamente suas diferenças.
Curioso, mas nada difícil de entender. Ocorre que, em turmas, junto com as disciplinas, é introduzida uma cultura e um modo de pensar, muito mais importante para quem encara as salas de aula como espaço de “formação do cidadão”, ao invés de oportunidade de promoção das capacidades e habilidades individuais dos… indivíduos, ora! , afinal é o que os alunos são – INDIVÍDUOS, diferentes, especiais, personalíssimos, portanto portadores de potencialidades tão diversas quanto suas digitais.
Seguramente os senadores serão bombardeados por sindicatos e associações, todos contrários a que seu público seja desfalcado de massa que eles possam formar segundo sua ideologia, militância política e preferências, portanto, não busquem nos professores os defensores do homeschooling. Na grande maioria eles são contra. O argumento que utilizam, além do besteirol do segregacionismo, é a questão relativa à socialização dos estudantes. Argumentam que, longe das escolas, os estudantes deixam de se comunicarem uns com os outros, gerando personalidades pouco sociáveis, empáticas e comunicativas, o que não passa de trololó defensivo de quem se acorrentou ao sistema. Pelo contrário, em homeschooling os estudantes terão mais tempo para se dedicarem a outras atividades fora de casa, nas quais terão múltiplos contatos e oportunidades sociais diversas.
Se quiser outros pontos de vista, atuais e reais, veja aqui e aqui (especialmente), entrevistas que tratam o homeschooling como uma experiência adequada, que embora não seja panacéia, deve ser considerada como alternativa para aqueles que reúnam as condições e o desejo de praticá-lo.
Valterlucio Bessa Campelo escreve às sextas-feiras no site ac24horas e eventualmente no seu BLOG, no site do Puggina e outros.
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