Saraiva significa chuva de pedra, de granizo. Por isso costumamos nos referir figurativamente a “saraivada” quando queremos expressar algo em grande quantidade, em abundância.
A partida prematura do Luiz Saraiva nos faz refletir e clamar por mais Saraivas no Mundo.
Pouco convivi com o Luiz pecuarista, deputado, líder da maçonaria, do Lyons, da agricultura acreana, do SEBRAE e de tantas outras coisas, que só Deus sabe como dava conta de se desincumbir.
Mas muito convivi com o Saraiva ser humano, advogado e dirigente de Ordem, e desse posso falar um pouco.
Para mim e para muitos outros, a paixão pela nossa instituição e pela advocacia, e a vontade de lá atrás fazê-la mudar, nasceu de alguns exemplos. Daqueles exemplos que, para além de inspirar, arrastam.
O que a advocacia acreana é hoje e o lugar que ela ocupa na sociedade vem do destemor e do trabalho de alguns homens e mulheres, todos eles inspirados e arrastados pela verve, pela coragem, pela luz e pelo amor de Luiz Saraiva Correia.
Saraiva inspirou gerações de profissionais do direito. Magistrados, membros do Ministério Público, advogados, procuradores, defensores, serventuários, enfim, ninguém passou pela nossa comunidade jurídica local sem ter nele uma referência positiva do bom profissional da advocacia.
Graças a Deus, tive o privilégio de conviver com Luiz para além da admiração distante.
Pude aprender de perto com seu modo, sua percuciência e seu desprendimento.
Dividimos a bancada do Conselho Federal e de gestões da OAB e lutamos por uma advocacia altiva, sem medos ou arreios…no dizer dele: sem cangalha alheia.
Nos meus anos de presidência da Ordem tive nele não apenas um Conselheiro Federal que orgulhava o Acre, mas um guia a iluminar os caminhos por onde deveríamos seguir. Sempre atento, sempre preocupado, sempre disponível.
Fazia isso não por interesse pessoal, mas sim, por amor à advocacia, por carinho àqueles nos quais confiava, por firmeza de caráter, por grandeza pessoal.
Na nossa última eleição, já combalido pelo terceiro câncer, não deixou de se preocupar e de permanentemente se ocupar das refregas políticas. Ligava, cobrava, sugeria, instigava.
Quando perdemos a eleição, me disse: “agora você tá completo. Um homem sem balsa é um homem sem história. Eu mesmo peguei várias. Umazinha não vai te matar.”
Dos seus conselhos mais recentes, guardo uma mensagem na qual, bem ao seu estilo, dizia o seguinte: “Os piolhos incomodam, mas não passam de piolhos! Toca a vida pra frente amigo, e de vez em quando peteleque uns piolhos Forte abraço!”
Esse era o Luiz do bom humor que resistia a tudo e a qualquer situação. Que na dificuldade de um amigo, se apresentava, e, ainda que passando por dias difíceis, diante da aridez, produzia alegria e contagiava quem lhe cercasse.
Quem nunca parou para ouvir uma das suas piada?
Às vezes, a mesma piada, pela nonagésima vez….
Quem nunca se inspirou com sua história de vida, ou melhor, com seu jeito único de levar a vida.?
Algumas vezes ouvi dele, em tom de melancolia, um lamento de que teria passado a vida inteira tentando ter e ser, esquecendo-se de viver.
Que nada, Saraiva!
Mal sabe você que a vida que viveu, tanto e tão intensamente, de tão rica e digna, guiou, influenciou e moldou outras tantas vidas.
Hoje, de partida para a eternidade, oxalá um pouco do seu legado possa ser perpetuado em ações e viveres daqueles que você inspirou.
Obrigado pela tua gloriosa vida.
Descansa em paz!
Erick Venâncio Lima do Nascimento