Nesta quinta-feira, o presidenciável Ciro Gomes resolveu dar o ar da graça em Ribeirão Preto, interior de São Paulo, durante a Agrishow, que concentra durante alguns dias o que há de mais avançado na tecnologia agropecuária do mundo. Uma espécie de vitrine tecnológica para os olhares do mundo agro. Depois de ver alguns vídeos, fico achando que o velho candidato teria feito melhor indo à Sobral.
Foi ele entrar e as vaias o acompanharem do começo ao fim. Para não decepcionar os fãs, Ciro respondeu com sua habitual delicadeza (veja aqui). Ao ouvir um apupo e o nome de Bolsonaro, já partiu para a brutalidade verbal, incluindo ofensas à mãe de quem ousou vaiá-lo e dar um soco em um manifestante. Um verdadeiro espetáculo para a mídia e a confirmação clara de que pau que nasce torto morre torto. Não sei os leitores, mas não vi ali um interlocutor da rainha da Inglaterra. A fleuma do Ciro me faz achar Vladimir Putin um verdadeiro lorde.
Sim, a ideia foi infeliz. Embora a velha mídia não mostre, o mar não está pra peixe vermelho, especialmente em águas do agro. Cá fora do Projaquistão, no mundo real, a turma está “nos cascos”, a Agrishow não é o Lollapalooza. Pior pro Ciro Gomes, cujas grosserias farão a festa das plataformas por vários dias. Memes e memes serão criados às suas custas, onerando seu capital político que vem crescendo lentamente com idéias volumosas e densas como isopor.
Mas não é só isso. O episódio serve para arregalar os olhos do Lula da Silva, aquele que promete boa vida aos invasores de propriedade alheia, aborto livre no SUS e impunidade para assaltantes. Se, faltando cinco meses para as eleições, o descondenado ainda não arranjou coragem para sair às ruas e fazer um testezinho de popularidade, depois dessa experiência do Ciro, ele e seus publicitários, estrategistas e marqueteiros devem estar refazendo os cálculos sobre o momento certo de botar o pé na calçada. Ele e os demais, creio. Ou o Dória também arriscará um périplo pelos galpões da Agrishow? Com aquela calça apertada nem correr será possível.
Fato é que a eleição já está polarizada entre Bolsonaro e o descondenado. Embora a velha mídia em consórcio e a justiça em ativismo tenham trabalhado “diariamente o dia todo” para criar uma terceira via ou derrubar o presidente, conseguiram mesmo foi sedimentar na massa o sentimento de paixão. Pelo menos até aqui, em que pese a frequente divulgação de “pesquisas” contrárias, quem tem conseguido demonstrar nas ruas o apoio popular é Bolsonaro. Lula, o campeão dos questionários, ainda não viu a luz do dia, o líder aclamado pela bolha progressista das faculdades, grupos identitários e artistas está recolhido à ambientes controlados, escancarando a fragilidade de sua candidatura.
Deixo momentaneamente o tema Ciro, para referir à visita de cunho político-partidário que fez ao Acre nesta terça-feira, o Senador Flávio Bolsonaro. Tive a oportunidade de presenciar seu discurso no auditório da livraria Paim e, em ambiente privado, trocar com ele algumas impressões que divido com o leitor.
É possível afirmar que não se trata de bolsonarismo, ou seja, a meu ver, o Senador não demonstrou, como representante do próprio pai, a presunção de uma doutrina, uma escola de pensamento ou um ideário que justifique um “ista” como sufixo. O bolsonarista é simplesmente aquele filiado a uma linha de pensamento sustentada em princípios e valores antigos e perenes, que se opõem ao progressismo galopante hodierno.
Vida, liberdade, propriedade privada, nação, família e religião estão entre os aspectos que o “bolsonarista” abarca porque são aqueles que pertencem à sua visão de mundo e estão sob ameaça, de modo que na polarização existente em todo lugar, esta fração da sociedade encontra no Brasil a partir de 2018, em Bolsonaro, um líder que nunca teve.
Em nenhum momento o senador Flávio Bolsonaro reivindicou para o “bolsonarismo” qualquer “nunca antes”, ou pretendeu inaugurar um novo mundo, um novo homem, uma nova ordem. Pelo contrário, humildemente, o põe a serviço da permanência de valores e princípios que, como se sabe, prevalecem entre os brasileiros, mas foram criminosamente encobertos pela mentira em sucessivas eleições que nos impunham a escolha entre o mais e o menos do mesmo, ou seja, do avanço progressista.
Retomo o tema Ciro Gomes na Agrishow. O “ex-tudo”, menos presidente, ao se expor livremente ao público de Ribeirão Preto, ofereceu uma oportunidade de confirmação da polaridade conservador/progressista existente no Brasil. Ainda que não esteja efetivamente na disputa, Ciro paga em vaias o preço de seguidamente ter se alinhado à esquerda e professar um anti-bolsonarismo violento, significando adesão profunda à pauta progressista. O que aconteceria se Lula aparecesse por lá? Desconfio que não vamos saber.
Valterlucio Bessa Campelo escreve às sextas-feiras no site ac24horas e, eventualmente, no seu BLOG, no site Liberais e Conservadores do Puggina, na revista digital NAVEGOS e outros.
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