“Dançar faz bem ao corpo e à mente”. Qual acreano nunca ouviu essa frase e não se lembrou automaticamente da Saudosa Maloca? Poucos, ou apenas os mais jovens. São quase trinta anos dando vida ao entretenimento noturno de Rio Branco. Apesar de ser, praticamente, um patrimônio histórico da capital acreana, a Saudosa Maloca é apenas um dos empreendimentos de sucesso idealizados pela empresária Ademilde da Silva Roque Pinheiro. Aos 72 anos, contabiliza mais de quatro décadas à frente de casas noturnas ao longo dos anos 80 e 90, entre elas: Recanto do Boêmio, Luar de Prata, Barracão do Quinze, entre outras.
Mas foi com a Saudosa Maloca, ao longo de 28 anos, que Ademilde ficou conhecida por toda parte do estado e até fora do Acre. O empreendimento também foi responsável por apresentar grandes nomes da música brasileira e internacional ao público acreano. Tudo isso fruto do suor de Ademilde, que começou a ganhar seu próprio dinheiro aos 14 anos, como cabeleireira, cujo salão resistiu até pouco tempo atrás.
A casa noturna que tocou os maiores hits do bolero foi fechada durante a pandemia do novo coronavírus e permanece de portas fechadas, com previsão de reinauguração ainda em 2022, em novo local e ambiente repaginado. Por enquanto, resta a Ademilde e às centenas de clientes relembrarem com nostalgia os bons tempos de Saudosa Maloca, que carrega uma história digna de conto de fadas.
Entre as centenas artistas que já se apresentaram na Saudosa, estão: Roberta Miranda, Nelson Gonçalves, Vanderleia, Trio Los Angeles, João Mineiro e Marciano, Francisco Petrônio, Sandra de Sá, Beto Barbosa, Guilherme Arantes, José Augusto, Carlinhos de Manaus, Teixeirinha de Manaus, Nonato do Cavaquinho, Pimenta de Cheiro, Geraldo Leite, Manolo Otero, Loren e o grupo L4, Auricélio Guedes, Franco Silva, Carlinhos e Marquinhos, Rinaldo e Estefano, Rocha e sua banda, Alcilene, Pinóquio e banda, Etnildo, Grupo Guimarães, tecladista Raimundinho, Socorro, Esmeralda e Medeirinha, Bené do Cavaco e Fátima Marques.
Foi com essa frase que a propaganda da Saudosa Maloca ficou enraizada no imaginário dos acreanos e permanece até os dias de hoje. Difícil encontrar quem nunca ouviu ou não conheça a origem da frase icônica, que marcou e ainda relembra toda uma geração. O nome da casa de festas faz referência ao espaço em que sempre funcionou, na Avenida Getúlio Vargas, bairro Bosque.
“O local, antes de virar a Saudosa, parecia uma maloca mesmo, feito de palha e zinco”, conta Ademilde. A proprietária afirma que o lugar trouxe as músicas românticas, o bolero, a valsa, o samba-canção, e encantou os rio-branquenses. “A Saudosa Maloca é para todos os públicos. Recebia pessoas de 16 anos, que entravam acompanhadas de um responsável, até os idosos, que são a melhor idade. Então eu vejo que a Saudosa é para todo tipo de público”.
A propaganda que ficou famosa usando a frase foi uma ideia sugerida pelo saudoso médico Mário Maia, que era cliente da Maloca. “Eu o convidei e ele foi a primeira festa na Saudosa. Era o tipo de música que ele gostava, bolero, canções antigas, e quando ele ia embora, me falou: ‘use na sua propaganda que dançar faz bem ao corpo e a mente”, diz Ademilde.
Houve uma época que as pessoas procuravam Ademilde em seu salão, localizado na Galeria Meta, só para conhecê-la, tamanho sucesso dos bordões de suas propagandas. “Era lindo demais, um amor e carinho muito grande. Teve uma que falava assim: ‘não existe mulher feia, e sim mal produzida. Realce a sua beleza em Ademilde Cabeleireira”. Essa frase do salão ela criou depois que um cliente falou que tinha uma esposa, a amava, mas a achava feia.
“Nessa época, além do salão, eu tinha uma loja de roupas. Eu pedi que ele a levasse ao salão. Ele disse que era casado com ela, mas que a achava feia e sentia vergonha. Dei um banho de beleza e de loja nela e os dois vivem felizes até hoje. Por isso que eu digo: não existe mulher feia e sim mal produzida”, reafirma a empresária.
Para Ademilde, trabalhar à noite nunca foi problema. “A música faz bem ao corpo e a mente e eu já uso isso na minha propaganda, sobre dançar, e realmente é verdade”, comenta. Nesses 44 anos lidando com a vida noturna, a empresária fez muitos e verdadeiros amigos, mas não apenas isso: foram quase 500 casamentos e mais de 100 afilhados.
“Acredito que a Saudosa rendeu tantos casamentos por causa do estilo de música, que atrai as pessoas. Às vezes elas estão num momento ruim e a música, o bolero, atrai esse público. Muitos solteiros, tanto masculino como feminino, se encontravam por lá e acabavam se casando. Muitos desses casais estão juntos até hoje”, afirma Ademilde, ressaltando que separação por causa da Maloca, não conhece nenhuma.
Ademilde chegou a empregar mais de 15 pessoas diretamente na Saudosa durante o auge do empreendimento. No local, sempre tiveram 100 mesas dispostas com 4 cadeiras e um grande salão aberto para os casais dançantes. “Era cerca de 400 pessoas por noite, toda sexta-feira e sábado”, conta. Apesar do grande número de pessoas, nunca aconteceu uma só briga.
“Acho que nunca deu briga por causa da organização. Era todo mundo sentado nas suas mesas. As mesas tinham toalha com o nome de cada cliente. Sempre tivemos clientes cativos, que iam toda sexta e todo sábado. A festa começava às 23 horas e acabava às 5 da manhã. Mas às vezes às 7 horas ainda tinha gente tocando e dançando”.
A dona da Saudosa Maloca faz questão de frisar que o ambiente não era só de festas, mas sim um lugar de reunir pessoas como se fizessem parte de uma grande família. “Nos meses de dezembro, por exemplo, eu sempre saio da Saudosa cheia de presentes dos meus clientes. Uma vez recebi uma joia e achei que haviam me dado por engano. Procurei a cliente e ela me disse: essa joia eu comprei para você mesma”.
Já teve até casos de clientes que sofriam com depressão que chegaram à cura por meio da música e da dança junto à Saudosa Maloca. “Tinha uma pessoa que sofria com uma depressão muito forte e gastava quase todo o salário com remédios. Essa pessoa já era minha cliente no meu salão e passou a frequentar a Saudosa toda sexta e sábado. Ela mesma conta que ficou completamente curada da depressão”, diz Ademilde.
Essa mesma pessoa conheceu um par para dançar e acabou casando com o mesmo. “Ela disse que não toma mais nenhum remédio e ainda hoje vive com esse par”, afirma. Ademilde teve cinco filhos e todos sempre a apoiaram com o trabalho na vida noturna. Inicialmente, os criou com o lucro do salão de beleza, antes de virar uma das maiores produtoras de festa na cidade.
A começar pelo nome, Ademilde nasceu e vive até hoje pela música. Seu pai, Edmilton da Silva Roque, tinha uma coleção de discos, incluindo de uma cantora chamada Ademilde Fonseca. E foi com uma canção dela que Roque fez o parto da filha que recebeu o nome de Ademilde Pinheiro. “A minha vida gira em torno da música. Minha mãe teve 11 filhos e meu pai colocava música alta para os vizinhos não ouvirem o trabalho de parto. Quando eu nasci, ele colocou um disco da Ademilde Fonseca, e quando terminou o parto, disse que colocaria meu nome de Ademilde”, relembra.
A empresária diz que sempre gostou de música, desde muito cedo. “São raízes, porque meu pai, que era seringalista, e minha mãe, Maria de Lourdes Bandeira da Silva Roque, sempre gostaram muito de música. Eu já nasci ouvindo música, pois meu pai fez todos os partos da minha mãe e era tudo feito com música. Tenho o maior orgulho de dizer que nasci ouvindo uma canção”.
Um inesperado encontro entre a acreana Ademilde, seu pai e a cantora Ademilde Fonseca aconteceu quando a artista veio ao Acre muitos anos atrás. “Quando ela estava fazendo o cadastro num hotel, o gerente viu o nome dela e falou: ‘aqui também tem uma Ademilde, que trabalha com festa’. O gerente me ligou e disse que a cantora queria saber a origem do meu nome. ‘Era uma homenagem a ela, feita pelo meu pai’, respondi”.
Casada há 53 anos com seu primeiro namorado, Rubens, que também trabalha com ela na Saudosa, gerindo o bar, a acreana se orgulha por ter conseguido formar todos os filhos. “Faço uma recomendação para todos os pais e filhos que se amem verdadeiramente, pois é um dos mandamentos da lei de Deus”. Ademilde perdeu uma filha na pandemia de Covid-19 e diz: “o que me conforma é a fé que eu tenho de que existe a vida eterna e que eu dizia que a amava todos os dias”.
Por 28 anos consecutivos, Ademilde sempre esteve na bilheteria e seu esposo no bar, além de cantar algumas vezes ao lado de Etnildo. Ela se orgulha da tranquilidade que sempre foi a noite na Maloca. “A Saudosa é uma família, um ambiente muito pacífico. Nunca teve briga, até porque as pessoas que gostam do bolero, são pessoas com um pensamento voltado para o lazer sadio. A música diz muito sobre o ambiente”, relata.
O casal Ademilde e Rubens abria e fechava a Saudava todas as sextas e sábados. “O mais bonito é o carinho que os clientes têm comigo. Eles sempre me cumprimentam e na saída agradecem pela noite de boa música. Todos sempre muito carinhosos”. É por esses e outros motivos que a empresária tem certeza que a Saudosa Maloca irá ser eternizada na sociedade local.
Alguns truques eram usados quando a proprietária percebia que alguém mal-intencionado estaria tentando adentrar a Saudosa. “Nunca disse para nenhum cliente que ele não podia entrar, mas quando via que chegava um cliente que não pertencia à Maloca, eu aumentava o preço da entrada, um preço que eu via que ele não poderia pagar. Ele perguntava quanto era o ingresso e eu dizia que era 100 reais. Ele dizia que era muito caro e eu brincava dizendo que ele é que estava ganhando pouco”, conta aos risos.
Nos próximos meses, Ademilde espera reabrir a Saudosa, mas sempre pensando primeiramente na saúde pública. “Penso em reabrir quando todos estiverem com o ciclo de vacina completos e sem nenhum risco, nem para os clientes, nem para mim e nem para os funcionários. Não tem data, mas vamos reabrir com segurança sanitária. Aos nossos clientes, garanto que voltaremos a uma vida normal, porque eterno só é Deus, e tudo vai passar. Nossos clientes sabem que fazem parte do nosso sucesso”.
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