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A hora do parto

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Quando há algum receio na revelação de uma gravidez para sua família, uma moça pode se agarrar, ainda que em vão, a alguns artifícios para fingir, como por exemplo: dizer que a menstruação atrasou, vestir uma calça mais apertada ou usar uma roupa mais folgada.


Mas com a passagem dos dias não há jeito que dê jeito.


O tempo, nos seus devidos prazos, se encarregará de alterar as feições do rosto e não haverá roupa capaz de esconder o crescimento do bucho e, finalmente, a criança nascerá , junto com a convicção que não adiantou mentir ou dissimular.

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Não fui eu que inventei que “a mentira tem as pernas curtas”. Esse ditado popular foi submetido a testes desde que o mundo é mundo. Na vida é sempre melhor encarar as situações com a verdadeira dimensão delas.


Um amigo meu vivia em parafuso, incomodado com o jeito de sentar do filho de três anos. Na cabeça preconceituosa dele o garoto seria gay.


Certo dia, perguntei-lhe: “e isso fará ele deixar de ser seu filho?” Obvio, que a resposta foi negativa. Então o repreendi: “meu amigo, o que tiver de ser, será.” Final da história: o rapaz hoje tem 23 anos e é um garanhão, que tem até dois filhos para o avô criar. Nesse caso o tempo também demonstrou sua inquestionável razão.


A beleza da maternidade e o preconceito de meu amigo podem ser usados para explicar muitos “blefes” da vida , principalmente na política.


Em algum momento da vida os fatos são submetidos a provação . Na eleição, esse momento é o registro das candidaturas.


Durante as etapas do processo político, até que os fatos se aproximem da crueldade dos prazos eleitorais, muito prestígio é arrotado e muitos votos são vendidos. “Líderes”, nem de si mesmo, se apresentam como fiéis da balança da decisão soberana do povo.


Meus 12 anos de parlamento foram recheados de muitos assédios vindos de gente que se julgava dono do voto dos outros. Certa vez, um folclórico cabo eleitoral me propôs arranjar entre 1.500 e 2.000 votos “seguros”. Por educação fingi acreditar.


Óbvio, que existem pessoas com liderança política, capacidade de influenciar, de formar opinião e de mobilizar. Mas até garantir o voto alheio como se fosse o seu há uma distância considerável a ser percorrida.


Nas reuniões das coligações o caso é igualmente grave e sempre com o objetivo de valorizar o passe para aumentar o preço da extorsão, principalmente quando o alvo desta é quem está no comando do orçamento e com a Bic na mão.


Via de regra, direções partidárias dizem ter os melhores candidatos, alguns destes apresentados com as pompas de supostos campeões de votos. A conversa fiada é sempre a mesma: o partido tem candidatos de sobra com potencial de juntar os votos suficientes para eleger tantos deputados.


Na cabeça dos incautos, a expectativa e a mentira são alimentadas até o dia da apresentação das chapas. Quando os nomes vêm a público a maioria dos personagens, o misterioso depósito onde estocam os supostos votos e a liderança deles são completamente desconhecidos e desmoralizadas.


Nesses dias li uma reportagem na qual constavam os nomes de candidatos de um eufórico partido. Tal e qual a gravidez, o mistério se desfez quando o partido pariu os candidatos. O histórico eleitoral deles indicam que vão tirar apenas punhado de votos bem inferior à quantidade imposta pela matemática da lei eleitoral.

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Com certeza o partido não somará legenda para eleger sequer um deputado federal e, com muito esforço e sorte, poderá fazer um estadual.


Com o fim das coligações proporcionais, poucos são os partidos que podem afirmar, sem mentir, ter candidatos com topete para formar o mínimo de voto para eleger ao menos um parlamentar pelo.


Quando as urnas são contabilizadas é que se sabe a dor do parto.



Luiz Calixto escreve todas às sextas-feiras no ac24horas.com


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