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No Acre, 2021 foi o 3º ano com maior área queimada desde 2005

Em 2021, o Acre foi o quinto estado na Amazônia com maior aumento do número de focos de calor, segundo dados do Programa Queimadas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). Em comparação ao ano de 2020, houve redução da quantidade de focos de calor, apesar do aumento na taxa anual do desmatamento no mesmo período.


O Relatório Executivo Queimadas 2021 no Estado do Acre, produzido pelos projetos Acre Queimadas e Map-Fire e divulgado nesta terça-feira (22), mostra que no referido ano foram registrados 250.150 hectares (2.502 km²) de queimadas em áreas antropizadas (com ação do homem), cerca de 6% menor que no ano de 2020, ano com a segunda maior estimativa desde 2005.


Os autores do estudo são os pesquisadores Sonaira S. Silva, Antonio Willian F. Melo, João B. C. dos Reis e Liana Anderson. Os dois primeiros são do Laboratório de Geoprocessamento Aplicado ao Meio Ambiente (LabGama) da Universidade Federal de Acre (UFAC) Campus Floresta em Cruzeiro do Sul, e dos dois últimos do Centro Nacional de Monitoramento e Alerta de Desastres Naturais (Cemaden).


De acordo com eles, em torno de 58% do fogo mapeado em 2021 ocorreu em áreas antropizadas, desmatadas antes de 2021, sendo estas possivelmente utilizadas para manejo agropecuário (pastagens e agricultura anual ou perene), e 42% em áreas desmatadas em 2021 (novos desmatamentos).


Cerca de 63% das áreas afetadas se concentram em 6 dos 22 municípios do Estado do Acre: Feijó, Rio Branco, Sena Madureira, Tarauacá, Brasiléia e Xapuri. Os municípios que apresentaram maior aumento em área queimada em relação ao ano de 2020 são: Senador Guiomard (↑49%), Rodrigues Alves (↑40%), Marechal Thaumaturgo (↑26%) e Porto Walter (↑19%).


Os municípios com as maiores áreas afetadas

Feijó está em 1º posição entre os municípios com maior área afetada pelas queimadas em 2021, com uma área de 38.271 hectares, com aumento de 5% das queimadas em 2021 quando comparado com 2020. Em torno de 58% das queimadas ocorreram em propriedades particulares, 33% em terras públicas da União, 6% em projetos de assentamento, 2% em unidades de conservação e 1% em terras indígenas.


Rio Branco está em 2º posição, com uma área de 33.974 hectares, com redução de 1% das queimadas em 2021 quando comparado com 2020. Em torno de 37% das queimadas ocorreram em propriedades particulares, 34% em terras públicas da União, 16% em projetos de assentamento e 13% em unidades de conservação.


Na 3ª posição está Sena Madureira, com uma área de 33.228 hectares, com redução de 15% das queimadas em 2021 quando comparado com 2020. Em torno de 40% das queimadas ocorreram em projetos de assentamento, 36% em terras públicas da União, 12% em propriedades particulares, 11% em unidades de conservação e 1% em terras indígenas.


O município de Tarauacá está em 4º posição, com uma área de 21.669 hectares, com aumento de 4% das queimadas em 2021 quando comparado com 2020. Em torno de 34% das queimadas ocorreram em terras públicas da União, 30% em propriedades particulares, 19% em projetos de assentamento, 15% em unidades de conservação e 2% em terras indígenas.


Brasiléia está em 5º posição, com uma área de 15.495 hectares, com aumento de 4% das queimadas em 2021 quando comparado com 2020. Em torno de 67% das queimadas ocorreram em unidades de conservação, 19% em projetos de assentamento, 9% em propriedades particulares e 5% em terras públicas da União.


Na 6ª posição está Xapuri, com uma área de 15.253 hectares, com redução de 6% das queimadas em 2021 quando comparado com 2020. Em torno de 59% das queimadas ocorreram em unidades de conservação, 17% em propriedades particulares, 14% em terras públicas da União e 10% em projetos de assentamento.


Os Projetos de Assentamento

De acordo com o relatório, os projetos de assentamento rurais do INCRA foram a categoria fundiária que mais contribuiu com as áreas queimadas no Acre, representando 31% de todas as áreas mapeadas (78.313 hectares). Mesmo que os projetos de assentamentos tenham como base atividades agropecuárias, da forma como vem ocorrendo, têm proporcionado o aumento das áreas queimadas em 2021.


As Unidades de Conservação (UC’s)


Segundo o estudo, as unidades de conservação representam 16% (39.348 hectares) do total das áreas queimadas no Acre, tendo uma redução de 16% das áreas queimadas em 2021 quando comparado com 2020. Estas áreas têm como objetivo garantir a preservação da biodiversidade biológica, promover o desenvolvimento sustentável a partir dos recursos naturais e proteger as comunidades tradicionais, bem como seus conhecimentos e culturas (Sistema Nacional de Unidades de Conservação – SNUC).


Entretanto, as UC’s estão passando por grandes pressões de atividades agropecuárias. Das 20 unidades de conservação, somente 4 delas representam cerca de 83% da área queimada total nessa categoria fundiária – Resex Chico Mendes, Resex Cazumbá Iracema, Resex Alto Juruá.


Cenário preocupante

De acordo com a pesquisadora Sonaira S. Silva, a união de fatores climáticos com ausência efetiva de políticas públicas voltadas para a questão, geram um cenário preocupante. Ela diz que, caso ações mais radicais não sejam implementadas no combate e controle do desmatamento e queimadas, as altas taxas desses dois fatores de destruição das florestas irão durar por alguns anos.


“Infelizmente a tendência é que a situação se mantenha no nível de 2020 e 2021 (segundo e terceiro ano com maior área queimadas mapeada desde 2005) ou piore. Os dados do INPE/Deter mostram número recorde de desmatamento em janeiro e fevereiro para a Amazônia, o que é um indicativo. Além disso, para a questão do fogo devemos nos preocupar, pois há previsão de seca intensa para junho-agosto-setembro”, previu.


Estado de Emergência Ambiental

Antecipadamente, o Ministério do Meio Ambiente declarou no último dia 21 de março emergência ambiental no Estado do Acre entre os meses de abril e novembro de 2022. A medida, estabelecida pela Portaria nº 78, de 17/3/2022, não trouxe detalhes sobre a razão da emergência, mas segundo o presidente do Instituto de Meio Ambiente do Acre (Imac), André Hassem, diz respeito ao período das queimadas, apesar de a temporada do fogo começar um pouco mais tarde.


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