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Em defesa da memória de Zaqueu Machado

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Valterlucio Campelo

Foi com um misto de espanto e indignação que vi a notícia de que o Ministério Público Federal – MPF, recomendou que a Prefeitura Municipal de Rio Branco – PMRB, institua comissão com o objetivo de retirar os nomes da Sra. Terezinha Kalume e de Zaqueu Machado de Almeida de duas escolas municipais. 


Da Dona Terezinha nada conheço, mas duvido que tenha sido menos que uma boa esposa para o Senador Jorge Kalume e dedicada mãe de seus filhos. Do Engenheiro Agrônomo Zaqueu, porém, sei. E não eu apenas. Sabem dele todos os técnicos de nível médio e superior do Acre que até finais dos século passado tenham por cá trabalhado no setor público agrícola.


Segundo a matéria, além de um trololó que vem a título de justificativa, aparece a Universidade Federal do Acre – UFAC como parte nesta ignomínia contra um de seus mais ilustres funcionários, posto que do curso de agronomia, Zaqueu Machado foi professor por vários anos. Confirmada a participação da UFAC através de uma comissão, a menos que apresentem os motivos, considero-a criminosamente pérfida. Que apresentem as causas. Como colega e aprendiz do pai da Extensão Rural no Acre, quero saber. Não apenas eu, mas todos os atuais e ex-funcionários da EMATER, da SEPA (ex-SDA), seus inúmeros alunos, sua família e seus amigos certamente gostariam de saber que causa deu Zaqueu Machado a que tivesse sua honra e sua memória aviltada desse modo.


Me lembra a suplente de Senadora, Maria das Vitórias, ex-colega extensionista, que Zaqueu chegou no Acre em inicio de 1968 para Instalar a Associação de Crédito e Assistência Rural – ACAR, no Estado do Acre, posteriormente transformada em Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Acre – EMATER/AC, cujo objetivo era introduzir na agricultura as inovações tecnológicas da época. Me diz outro colega, ainda hoje professor da UFAC, ilustre Dr. Mauro Jorge Ribeiro “Zaqueu era um professor das boas causas, jamais militou por qualquer dos símbolos da ditadura”. Posso juntar dezenas de depoimentos na mesma linha se for necessário.


Não havendo no Acre técnicos na área, Zaqueu trouxe de vários estados, especialmente do Ceará, dezenas de agrônomos e técnicos agrícolas, formando assim, o primeiro corpo técnico agronômico do Estado do Acre. A própria Maria das Vitórias veio para cá neste processo. O Professor José Fernandes do Rego, Kleber Campos, Genésio de Holanda Negreiros, Francisco Ávila Paz e muitos outros ajudaram a fazer o Acre que temos porque Zaqueu Machado lhes deu essa oportunidade. Enquanto esteve em atividade, praticamente todas as instituições criadas e programas desenvolvidos no setor agrícola do Acre tiveram a sua digital.


Falecido em 1999, Zaqueu doou seus melhores anos e todo o seu esforço profissional a formar agrônomos na UFAC e a transformar a agricultura rudimentar que se praticava no Acre. Isto numa época em que poucos profissionais se dispunham a vir parar no Acre. Decididamente não merece que dedos desarrazoados lhe sejam apontados. 


A esposa de Zaqueu Machado, a Dra. Maria Neuma, anestesista, esteve à mesa de cirurgia de centenas, senão milhares de pessoas que estão por aí vivinhas da silva. Seus filhos estão ainda hoje a exercer laboriosamente seus ofícios com orgulho do pai que tiveram. Seus ex-alunos, amigos e colegas estão hoje estupefatos com esse assombro que vem sobre a memória de um bom homem. 


Zaqueu sequer entrou na politicagem, não foi militante ideológico, nunca exerceu qualquer assédio ou bajulação a quem quer que seja, não desfrutou das oportunidades políticas. Um homem honesto, Zaqueu em nenhuma circunstância se postou perante de um juiz para responder por desvio de recursos, embora tenha lidado com muitos. Íntegro, jamais soube-se que usou filtro político para ter com qualquer pessoa aceitação, entrevero, perseguição, vingança ou algo que o valha. 


Se não existisse uma escola com o seu nome, estariam em débito com ele, porque foi um professor e não um dos doutrinadores que infestam atualmente o ensino brasileiro, do fundamental ao doutorado. Sabe aquele prédio na Avenida Nações Unidas, da SEPA/EMATER, que está sendo reformado? Deveria na reinauguração levar o seu nome em letras azuis tamanho enorme, pois não há na história da agricultura acreana quem mais mereça. Aliás, o próprio prédio é sua testemunha. 


Espantosamente, parece surgir agora, ao estilo “1984”, de George Orwell, os  borradores da história, escrivinhadores de uma nova verdade. Calma, gente. Quero os motivos. Que crime cometeu ou, no dizer da matéria citada, “perpetrou” Zaqueu Machado em favor da ditadura? Por quais notórias e graves violações aos direitos humanos lhe cabe responsabilidade? Se não aparecerem, sinto-me autorizado a dizer que a memória de Zaqueu Machado, assim como muito certamente a Dona Terezinha Kalume, está sendo vítima de uma injustiça cruel e inaceitável. 


Não se trata aqui, de discurso esquerda/direita, ou de ditadura/democracia, mas de refutar publicamente acusações genéricas e decisão cujo teor se distancia léguas da verdade. Com todo respeito que mereçam seus autores, estejam eles no MPF ou, por contingência, na UFAC,  afirmo que se precisavam encontrar alguém para punir e dar respostas convenientes aos caçadores de fantasmas, achar Zaqueu é um erro que deve ser revisto. Como dizia Santo Agostinho, Errare humanum est, perseverare autem diabolicum.



Valterlucio Bessa Campelo escreve às sextas-feiras no site ac24horas e, eventualmente, no seu BLOG, no site Liberais e Conservadores do Puggina, na revista digital NAVEGOS e outros.


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