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Artesã cria peças afetivas com leite materno, cabelo e cordão umbilical no Acre

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A falta de empresas e profissionais que produzem objetos com DNA (Ácido Desoxirribonucleico – molécula presente nas células que carrega informação genética) de bebês no Acre, fez com que a estudante de psicologia Rivana Maia, de 30 anos, se tornasse a primeira artesã a criar joias exclusivas utilizando leite materno, mechas de cabelo e cordão umbilical no estado. Assim, nasceu a Amare Joias Afetivas há cerca de quatro meses, uma loja que materializa amor e memórias, preservando itens de valor sentimental.


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Atualmente, Rivana é a única a fazer esse tipo de trabalho no Acre, e tem como carro-chefe a produção de pingentes afetivos com leite materno e outros DNA’s. Além disso, também produz placas afetivas, com informações de nascimento e pequenos itens que as mães costumam guardar e faz ainda a eternização de alianças.


A ideia de iniciar o empreendimento veio quando ela se tornou mãe e tinha o desejo de consumir tais joias, mas não encontrava com facilidade.


“Eu já conhecia o trabalho desde que fui mãe, mas não sabia como era feito. Estava assistindo uns vídeos no YouTube, pesquisando alguma coisa que tinha me interessado na época (nem lembro mais) e me deparei com uma moça dando dicas sobre o assunto para outras artesãs”.


A jovem se encantou pelo trabalho e ficou obcecada com a ideia de empreender com o artesanato. “Primeiro, porque eu guardei meu leite no congelador por mais de 3 anos, pensando em mandar para uma das empresas grandes que fazem isso fora do estado, mas nunca mandei. Segundo, porque estava sentindo necessidade de aumentar a renda de casa, como todo mundo atualmente (pós/durante a pandemia). Então eu acreditei que era possível fazer isso e comecei a pesquisar mais, entrei em grupos, achei cursos e workshops”, conta.


A estudante começou a colocar a “mão na massa” no final de outubro de 2021, mas contando com o tempo de estudo e pesquisa, faz sete meses que ela se dedica diariamente a aprender mais sobre a área. Para Rivana, amamentação é sempre um assunto delicado, cheio de mitos, superstição e tabus, seja para a mãe que não amamentou (independente do motivo) ou para a mãe que amamenta.


“É um período emocional e fisicamente difícil, desgastante e doloroso para grande parte das mulheres. Acredito que toda mãe deveria poder eternizar seu leite, para usar ou guardar, mostrar para criança um dia, porque é uma vitória pessoal amamentar, nem que seja uns poucos meses. Além disso, leite materno é muito rico em macro e micronutrientes, é único como uma impressão digital enquanto durar a amamentação, seja por seis meses ou 6 anos. É justo transformar numa joia”, destaca.


A artesã, que também é professora de dança, relata que sentia vontade de eternizar seu leite, porque conseguir amamentar a filha era um sonho e foi muito difícil, mas ressalta que o frete de ida e volta saía mais caro que o próprio pingente, e por isso nunca havia encomendado. “Então eu também queria facilitar isso para outras mães”.



Novidade em joias

Desde que começou a divulgar seu novo ofício, Rivana tem observado que a aceitação de seu trabalho junto às mães, que são as clientes que mais procuram a Amare Joias Afetivas, ainda não é unanimidade, talvez, por se tratar de em um produto regional competindo com empresas grandes que estão há mais tempo no mercado. “Além disso, muitas pessoas não conhecem a possibilidade de eternização e as que conhecem não tem isso como prioridade no atual contexto político e financeiro”.


A empreendedora lamenta que ainda não tem tido o espaço que gostaria para comercializar suas peças no estado. Segundo ela, poucas pessoas no Acre sabem que eternização de leite materno e itens afetivos existe. “Isso faz com que seja necessário um trabalho ainda maior de divulgação e de quebrar o ceticismo das pessoas sobre o assunto. Além de se tratar de peças artesanais e, apesar de existirem muitos artesãos no Acre, arte em geral e trabalho manual não é valorizado como deveria no Brasil, e aqui um pouco menos”, afirma.

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Em latim, Amare significa gostar, desejar, amar. A criadora do negócio conta que seu diferencial, além de ser a única a produzir tais peças no estado, é que cada objeto é único por si só e cada pingente, por exemplo, vai carregar a história de vida de uma mãe e de uma criança. “Mesmo assim, eu preciso conversar bastante com a pessoa que chega a mim. Entender a história dela, a razão pela qual isso é importante para ela, compreender a essência daquela história. Acho que o principal diferencial é lidar com o afeto e as memórias de cada cliente”.


Rivana destaca que não vende objetos fabricados em série, mas colhe um pedacinho do amor e da vida de uma pessoa, materializa e assim possibilita que o cliente o guarde para sempre.


Planos

Maia ainda não pensa na expansão da Amare para fora do Acre, embora já tenha feito orçamentos para outros estados. Seu foco atualmente é oferecer esse serviço dentro do Acre, porque os acreanos não têm esse serviço, e porque fazer para fora do estado custa um valor bem mais elevado. “Infelizmente temos um dos fretes mais caros do país. Mas pretendo ser maior, sim”. Por enquanto, ainda trabalha na sala de casa, contando com a colaboração da família, que fica nos quartos, pois o polímero de preservação é altamente tóxico durante as primeiras horas de secagem. “Quero crescer a ponto de ter meu ateliê e fazer mais cursos, trazer mais opções de eternização de DNA, como placenta por exemplo”.



Como trata-se de um trabalho inovador, Rivana tenta conciliar suas diversas funções no cotidiano. De acordo com ela, dar conta de todos os afazeres é uma loucura. “Eu trabalho com prioridades. Estudo psicologia na Ufac e é um curso integral. Por enquanto é relativamente tranquilo por causa do EAD, mas as aulas presenciais vão voltar logo e nem sei como vai ser”.


Fora o trabalho, a filha de 5 anos, o marido e os estudos, a empreendedora também dá aula de dança de salão. “Tem dias em que eu preciso sentar e estudar, desenvolver trabalhos da universidade, enquanto cuido da parte prática de casa e de dar atenção pra minha filha. Noutros eu preciso sentar com calma para lidar com a primeira mechinha de cabelo cortada de um bebê, que é algo que demanda muita paciência, tudo isso enquanto cuido e educo, porque educar não tem hora. Depois tenho que ensaiar e planejar minhas aulas, preencher relatório.Então vou fazendo esse malabarismo”.


Com os pingentes afetivos, trabalha sozinha, mas recebe suporte do marido, da mãe e da irmã com o restante dos afazeres quando estão em casa.



Questionada sobre o que espera do futuro da Amare, Rivana responde: “espero ser referência no estado para eternização afetiva. Parece ambicioso, mas acho que precisa ser, se eu esperar pouco o que eu vou receber? E sei que não é fácil, não vai ser! Não é fácil agora”. Ela compreende que empreender é difícil, e já até pensou em desistir várias vezes, no entanto, retoma o objetivo ainda mais focada.


“Mas se eu não me tornar uma referência, ainda espero que muitas mães tenham esses momentos eternos e que duram tão pouco guardados consigo. Se uma só mãe puder mostrar para o filho em 20 anos, aquele pingente com seu leite e o cordão umbilical que eu fiz, já vai ter valido a pena aprender tudo que estou aprendendo”, conclui.


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