O economista e colunista Orlando Sabino publica nesta quinta-feira, 17, seu artigo número 100 no ac24horas. Há mais de dois anos informando nossos leitores sobre as contas do Acre, o professor, como é chamado, comemora o feito. “Agradeço a atenção de vocês para comigo em quase dois anos de artigos semanais, quase que ininterruptos. Estou comemorando muito a marca de 100 artigos. Uma conquista. Obrigado a vocês”, disse.
O ac24horas agradece Sabino por ter acreditado em nosso projeto.
Nosso objetivo de hoje é continuar observando os números da economia acreana em 2021 que começam a ser publicados pelos institutos de pesquisa. Para recordar, já discutimos em quatro artigos, os números do nosso mercado externo e, no último artigo, mostramos os números das finanças públicas do governo do Acre. Hoje vamos comentar os números de três setores econômicos, a saber: o comércio, os serviços e a agropecuária. Vamos deixar o setor industrial e a construção civil para um outro momento.
O Comércio Varejista cresceu, mas ainda não recuperou os níveis do período pré-pandemia
Conforme o IBGE, em dezembro de 2021, o volume de vendas do comércio varejista acreano variou -4,5% na série com ajuste sazonal, frente a novembro. Foi a segunda maior queda dentre os estados da federação, à frente apenas de Mato Grosso (-4,7%). Já na série sem ajuste sazonal, o comércio varejista caiu 4,7% frente a dezembro de 2020, a quinta taxa negativa consecutiva nessa comparação. No acumulado do ano, o varejo subiu 3,3%. Porém, esse crescimento em relação a 2020, ficou bem abaixo do percentual de crescimento registrado em 2020. No mês que antecedeu o auge do isolamento social devido à pandemia, fevereiro de 2020, a variação acumulada nos últimos 12 meses apresentava um crescimento de 6,6%. Conclui-se, portanto, que o crescimento de 3,3% de 2021, não superou o nível do volume de vendas que antecedeu a pandemia.
A versatilidade do Setor de Serviços superou o nível da pré-pandemia
Ao contrário do comércio, o setor de serviços utilizou os seus versáteis mecanismos para superar a crise pandêmica. Em dezembro, o volume de serviços no Acre cresceu 7,1% frente a novembro, na série com ajuste sazonal. Frente a dezembro de 2020, o setor teve sua décima taxa positiva consecutiva: 8,4%. No acumulado do ano, o volume de serviços fechou 2021 com alta de 16,2% frente a igual período do ano anterior, recorde da série histórica iniciada em 2012, mantendo trajetória ascendente desde fevereiro de 2021 (-8,1%). Em fevereiro de 2020, mês que antecedeu o auge do isolamento social devido à pandemia, a variação acumulada nos últimos 12 meses do setor, já apresentava uma queda de 4,2%. O setor terminou o ano de 2020 em situação ainda pior (-7,2%). Porém. com o crescimento de 16,2% de 2021, superou amplamente o nível do volume serviços que antecedeu à pandemia.
Agropecuária:
Queda no número de abate de bovinos e aumento no de suínos
O último registro do abate de animais registrado pelo IBGE é do terceiro trimestre de 2021. O Acre registrou o abate de 87.402 cabeças de bovinos, queda de 7,5% ante igual período de 2020. Em relação ao terceiro trimestre de 2018, houve uma queda de 21,2%. Deve estar havendo alguma estratégia por parte dos abatedouros/frigoríficos do setor, ou mesmo, deve estar havendo uma exportação interestadual do chamado “boi em pé”, para justificar essa queda, infelizmente não temos esses registros. Afinal, estamos falando do produto de valor mais representativo da agropecuária acreana, sem esquecer do vertiginoso crescimento dos preços da carne bovina nos últimos anos.
Por outro lado, o IBGE registrou que o abate de suínos no terceiro trimestre de 2021 foi de 14.441, um novo recorde na série histórica, iniciada em 1999. Essa quantidade representa alta de 9,7% em relação ao mesmo período de 2020 e aumento de 67%, na comparação com o 3° trimestre de 2018. A abertura das exportações, principalmente para a Bolívia tem a animado o setor, principalmente do complexo suinocultor localizado no Alto Acre.
Agricultura acreana bate recorde de produção, mas produtos da pequena produção familiar apresentam queda
Na tabela abaixo, com dados do IBGE, constam dados da estimativa anual da produção (em toneladas) de alguns produtos das lavouras, para os meses de dezembro de 2020, dezembro de 2021 e a primeira previsão para a safra de 2022.
O destaque negativo ficou por conta dos produtos produzidos, principalmente, pela pequena produção familiar acreana. A banana, que teve a sua produção reduzida em 7% no período 2020/2021 e da mandioca, cuja queda foi de 12%. Preocupante, afinal, a parcela maior da população rural acreana é da produção familiar. Os números indicam uma queda ainda maior para a mandioca em 2022, estimada em 13,1% em relação à 2020. Não podemos esquecer do papel estratégico que a mandioca representa para uma ampla parcela da população acreana. Ela agrega muito valor em sua cadeia de produção, desde o plantio, passando pela sua industrialização e, finalmente, na sua comercialização. Não podemos esquecer que ela se constituí no segundo maior produto, em termos de valor, do setor primário acreano (só perde para a pecuária).
O ano de 2021 apresentou uma produção de 133,9 mil toneladas, 37,9% maior que a obtida em 2020 (97,1 mil toneladas). A área a ser colhida foi estimada em 81,1 mil hectares, aumento de 5,1 mil hectares (6,7%) frente a 2020. O milho e a soja são os produtos destaques deste grupo. Vislumbra-se, conforme estimativa do IBGE, um crescimento ainda maior para 2022, tendo como liderança esses dois produtos.
Esse foi o desempenho, em números, de 3 setores chave da nossa economia em 2021. Reforço que devemos ter uma atenção especial com a nossa pequena produção familiar. Deixar de apoiar a pequena produção familiar, ao nosso ver, é desconhecer as relações sociais de produção e o caráter histórico-cultural que envolve a atividade dos agricultores. A grande maioria deles, utiliza exclusivamente a mão de obra familiar que precisa de apoio para continuar prestar relevantes serviços à economia acreana.
Orlando Sabino escreve às quintas-feiras no ac24horas.