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Diário do Acre: Resex Chico Mendes, Comunidade Divisão e Assis Brasil

Por
Cesário Campelo Braga

Às 3 em ponto, estava na frente da casa do Cabeça. De lá seguiríamos até Assis Brasil. Combinei com Elias que às 06h estaríamos por lá. Na cabeça da ladeira da entrada de Assis Brasil, de onde dá pra ver toda a cidade já fui ligando para o Elias, estávamos um pouquinho atrasados, mas havia avisado quando passássemos de Brasiléia. Elias me atendeu aperreado, sua esposa não estava bem!. Pediu que ligasse no D’Araujo.


“Já estou uns 10 quilômetros pra dentro, vocês tem sorte, ligaram quando eu passava justamente num pedacinho do trecho que dá sinal. Estou voltando”, afirmou D’Araujo. Uma caminhonete cabine simples de carroceria de madeira, pneus candangos e alongada, não é qualquer carro que encara o ramal do Icuriã e suas ladeiras. Mesmo com a raspagem que fizeram até a divisão o jogo é bruto.



Iríamos participar da assembleia da AMOPREAB, associação de moradores e produtores da reserva Chico mendes de Assis Brasil, lá na comunidade Divisão. D’Araujo era o presidente e seria sua última assembleia. Chegamos e o povo já estava tomando café. Arroz, Ovo, Pão de Milho, farofa de carne e café, tinha umas bolachas perdidas pelo canto, mas ninguém dava muita atenção pra elas, bolacha não sustenta trabalhador de pé.



O debate do dia era sobre protagonismo juvenil, cerca de 50 jovens de várias colocações da reserva debatiam quais os desafios e quais os sonhos deles. Eu estava maravilhado com a participação da meninada. Manelzinho anotava tudo, enquanto os mediadores provocavam os participantes para buscarem soluções para os principais problemas da reserva. O debate dos jovens seria o norte para o planejamento da assembleia do dia seguinte.


O debate terminou assim que o sol esfriou, “vamos bater uma pelada”, sugeriu Manelzinho. Empolgado. Fui trocar a calça pelo short, vou ver qual é dessa pelada. No campo do Bastiãozinho percebi que alguns vieram preparados com suas chuteiras. Na divisão dos times só sobrou pés descalços no nosso. Chiquinho tentava organizar nosso jogo, aparente uma missão difícil.



O jogo deu bom, deu pra suar e se divertir, além de fazer novas amizades. Incentivei o time a impedir que o Manoelzinho fizesse algum gol na partida, mas ele deixou o dele, o importante é que no final saímos com a vitória, resultado inesperado e motivo de muita alugação para quem perdeu. Num barzinho perto do campo , derrubamos algumas latas enquanto contávamos histórias e falávamos da partida.


Depois do banho,  seguimos para a sede da associação. Após o jantar uma roda de cantoria, dois violões, um cavaquinho e as maracas animavam os que entravam na roda. Bastiãozinho no violão era o mais animado, eles cantavam umas músicas do tempo do ronca, eu conhecia poucas, mas me empolgava tentando acompanhar. Improvisamos um caraoquê pra cantar umas mais novas, difícil era tomar o microfone do Manelzinho e do Cabeça.



Cabeça, Mezaque e Chiquinho foram dormir dentro de casa, Wendel armou uma rede na varanda pra mim, a brisa gelada da noite e o barulho da mata garantem um sono tranquilo. O sol raiou e todos já estavam de pé. Um cafezinho com bodos só pra abrir o apetite antes de irmos pra sede da associação que ficava ali bem pertinho. O café já estava na mesa e muitos companheiros já haviam chegado de suas colocações.


Para saudar a todos na assembleia, uma por uma as comunidades iam sendo chamadas e a musiquinha de bem-vindos era tocada pelas irmãs da igreja. D’Araujo conduziu a assembleia que trouxe muitas notícias boas para a comunidade. Jerry fez questão de estar por lá e devolver aos seringueiros de Assis Brasil o subsídio da borracha que lhe haviam tomado. Era perceptível a felicidade de todos, expressa na fala do presidente do STTR de Assis Brasil, Jurandi, quando falou dos bons frutos que toda a construção estava dando.



Na última pauta, eleição da nova diretoria, D’Araujo se emocionou ao despedir-se da condução da associação, todos na assembleia aplaudiram muito o fechamento de um ciclo de sucesso e depositaram esperança em uma nova geração que estava assumindo,. Wendel, novo presidente, Chiquinho e Jaqueline são mais novos de que a reserva que nasceu em 92. Da Velha guarda ficou na direção o Hilmar, primeiro presidente da história da AMOPREAB.


Na hora de me despedir parece até que foi mais difícil do que de costume. Tinha que ir, mas a vontade era de ficar, fazer mais uma roda de cantoria, prosear deitado na rede, bater uma peladinha, mesmo sem gostar quem sabe até pescar, dividir experiências e escutar histórias, mais do que isso, viver momentos com os amigos e amigas que os caminhos do Acre me deu. Mas a vida é assim, subimos na carroceria da caminhonete enquanto o Mezaque nos conduzia de volta pelo ramal do Icuriã.



Cesário Braga escreve todas às sextas-feiras no ac24horas.com


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Cesário Campelo Braga

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