Nas últimas semanas, casos de infecção pelo H3N2, um subtipo do vírus influenza A, se espalharam pelo Brasil e já se tornam epidêmicos em vários estados, com aumento de casos e hospitalizações. Um dos motivos que explica esse crescimento é a baixa cobertura vacinal contra a gripe, que atingiu 72,1% do público-alvo, quando a meta era ter 90% de cada população prioritária vacinada. O outro é a falta de compreensão de que o imunizante atua, sobretudo, na prevenção contra internações e morte.
No Brasil, a campanha de vacinação contra a influenza começou em abril de 2021 e se estendeu até setembro diante da baixa adesão. Dos grupos prioritários da campanha de vacinação contra influenza de 2021 (crianças, trabalhadores na saúde, gestantes, puérperas, indígenas e idosos), 39,41 milhões de pessoas se vacinaram, quando o esperado era imunizar 55,3 milhões. Já entre toda a população alvo, 67,98 milhões tomaram a vacina, ante os 79,7 milhões esperados para atingir a meta. Os dados são do Sistema de Informação do Programa Nacional de Imunizações (SIPNI), do Ministério da Saúde.
Ainda segundo o sistema, nenhum dos grupos prioritários bateu a meta de vacinar 90% de sua população contra a influenza em 2021. Entre as puérperas, houve 80,4% de adesão; entre indígenas 77,5%; gestantes somaram 75,5%; crianças atingiram 74,5%; trabalhadores da saúde totalizaram 66,7%; e idosos alcançaram 69,3%.
No Acre, o público-alvo é de 306.581 e foram aplicadas 135.688 doses -44,7% de cobertura.
Segundo o diretor do Laboratório Multipropósito do Instituto Butantan, Renato Astray, ainda existem mitos em relação à vacina contra a influenza. “Há um equívoco comum em pensar que a pessoa toma a vacina e, se ficou gripada, é por que a vacina não funciona. A realidade é que a vacina tem o benefício principal de proteger contra as formas graves da doença, proteger a vida das pessoas”, ressalta.
Há ainda muitas dúvidas se a vacina do Butantan, distribuída em 2021, é eficaz em relação à nova variante da H3N2, conhecida como Darwin. Assim como a vacina da Covid, a vacina da gripe oferece proteção contra a variante que está em circulação, mas o ideal é que as pessoas compareçam aos postos e se vacinem anualmente. “A fábrica do Butantan já está atualizando a vacina da influenza com a nova variante e ela estará disponível para a população na data prevista”, explica.
Renato explica também que a adoção de medidas de segurança, como o uso de máscara, álcool e distanciamento social, impactaram na circulação da influenza nos últimos anos. “Notamos a diminuição da ocorrência de gripe no último ano, o que dificulta saber exatamente qual cepa do vírus se tornará predominante no futuro”, afirma o pesquisador.
Renato lembra ainda que o relaxamento do uso de máscaras também pode ter influenciado a aparição do surto fora de época. “O problema deste ano é que a gente estava há dois anos usando máscara e ela protege tanto contra a influenza quanto contra o SARS-CoV-2 porque inibe o contato com vírus respiratórios”, aponta.
A OMS indica os três subtipos do vírus influenza que mais circularam no último ano no hemisfério sul e, com essa informação, os imunizantes são atualizados e usados em campanhas de vacinação anuais – geralmente realizadas antes do inverno, quando aumentam os casos de gripe.
As vacinas contra a influenza aplicadas no Brasil na campanha de vacinação de 2021 pelo Programa Nacional de Imunizações, do Ministério da Saúde, foram produzidas pelo Butantan. O instituto enviou 80 milhões de doses ao governo federal, que as disponibilizou gratuitamente por meio do Sistema Único de Saúde aos públicos mais vulneráveis à doença.
É consenso entre os especialistas que a vacina da influenza é capaz de proteger contra sintomas mais graves associados à gripe, especialmente entre os grupos de risco, ressalta Renato.
Butantan doou mais de 1,7 milhão de vacinas nos últimos meses para as cidades do Rio (400 mil), São Paulo (1 milhão), Salvador (150 mil), Batatais (10 mil), Taquaritinga (10 mil) e Serrana (4 mil). O imunizante do Butantan oferece proteção contra a gripe para evitar que os casos se agravem e resultem em hospitalizações. O Butantan prevê a entrega das vacinas da campanha deste ano entre março e abril, que estarão disponíveis gratuitamente por meio do SUS, em postos de saúde de todo o país.
(Com Butantan)