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A nova ordem na fazenda global (inspirado em George Orwell)

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Valterlucio Campelo

Conhece a foto acima? É da cena final do filme “Capitão América: o primeiro vingador” lançado em 2011 nos EUA, praticamente uma década antes do surgimento da peste que transformou o mundo. Não sei se faz sentido para o leitor, mas depois de ver a cena e os destaques circulados em vermelho, me pergunto o que teria inspirado o diretor do filme a combinar no mesmo momento e com dez anos de antecedência, os principais elementos das cenas reais de hoje. 


Como ultimamente estou dando asas à imaginação e dedos à escrita, a foto (foi banida do google) me levou a contar uma historinha. Faz de conta que é um conto que conto, obviamente inspirado em George Orwell que, creio, boa parte dos leitores conhecem, ou, pelo menos, deveria. 


“Era uma vez uma grande fazenda de porcos muito rebeldes, de diferentes raças e preferências, que lutavam entre si, se rebelavam contra a comida cada vez mais escassa, se reproduziam sem controle, se organizavam em grupos, roubavam uns aos outros, se matavam, fugiam para a floresta, enfim, se tornaram indomáveis ao ponto de ameaçarem a sobrevivência da própria fazenda. Então, os abutres, que eram os verdadeiros donos da fazenda, se reunirem para tomar uma atitude. Era preciso controlar e diminuir o rebanho.


Mas como faremo-? -Perguntou o abutre diretor da UNIFICADA – este era o nome da firma que dirigia a fazenda, aos sócios votantes. Ninguém respondeu de imediato. A pergunta, porém, pôs todos a trabalharem em uma solução. Durante anos, os abutres-sócios e as corujas-cientistas se dedicaram a pensar em uma forma adequada de enfrentamento do problema e, de uma vez por todas, controlar e diminuir o número dos porcos cada vez mais instáveis com a falta de energia e alimento.


Em uma reunião secreta, um dos abutres da diretoria apresentou a idéia genial. Seria essencial, segundo ele, em primeiro lugar, que os porcos, todos eles, quisessem se submeter ao controle. O problema é que eles não queriam. A não ser que algo os atemorizasse de tal modo que todos, pelo instinto de sobrevivência, priorizassem salvar a própria pele, seria impossível juntá-los. 


Como funcionaria? A coruja especialista em sociedade dos porcos respondeu – O medo! Já funcionou antes em menor escala. Nada é mais efetivo e paralisante do que o medo da morte. Aliás, já se sabia da psicologia suína, que perante o medo eles agem de modo uniforme, aceitam qualquer coisa que lhes ofereça a salvação, parece que há em seu organismo um hormônio que os deixa dóceis e manipuláveis quando apavorados.


Então, depois de desenvolverem certos produtos, os donos da UNIFICADA chamaram os líderes dos porcos e disseram em tom apavorante – “lamento informar, mas vem ai uma peste suína e muitos milhões entre vocês morrerão. Primeiro serão os mais velhos, depois os mais novos e, no final, se não tomarmos providências nem os leitões se salvarão”. 


─ Não tem remédio? – Perguntaram os porcos, obviamente alarmados. 


─ Por enquanto não, os que existem não tem comprovação científica, ninguém deve tomar. Mas todos nossos cientistas estão trabalhando para criar uma droga preventiva, responderam os donos da UNIFICADA.


─ Então vamos esperar, mas sabemos que essas drogas preventivas demoram muitos anos. Vai dar tempo?


─ Sim, normalmente demora 10-20 anos, mas, neste caso, vamos trabalhar dobrado e logo teremos um prontinho. Vão pra casa e não desgrudem da TV, logo anunciaremos o nome do preventivo.


─ Mas, e a economia, nossos empregos, nossas empresas?


─ Vão pra casa, a economia a gente vê depois, responderam os abutres dando o assunto por encerrado.


Daí em diante, por alguns meses, os porcos ficaram quietinhos. Cada um em sua baia com seus leitões aguardando o resultado. Só saiam pra comprar comida. Passavam o dia contando os mortos divulgados de hora em hora pela TV e aguardando. Até que um belo dia, seis meses depois, as televisões anunciaram que em tempo recorde haviam encontrado um preventivo. Com essa droga, quem morreu, morreu, quem não morreu não morre mais, noticiaram alegremente os papagaios nas TV´s da fazenda. “Ôba!”, gritaram os mais medrosos e correram pra fila do preventivo.


A primeira rodada não funcionou, nem a segunda, nem a terceira. Mas. Já acostumados, os porcos apavorados não se importavam de periodicamente se submeterem ao constrangimento. Até os leitõezinhos foram obrigados a se prevenirem, do contrário ficariam sem a ração na escola.


Como haviam muitos porcos resistentes e teimosos e a UNIFICADA não tinha como pegar um por um na marra, resolveram estabelecer uma tatuagem de prevenção para que só pudesse ter acesso a determinados lugares os devidamente marcados. Primeiro, as saídas para fora do curral foram controladas, depois o cinema, a escola, o acesso ao milho, ao trabalho… Aos poucos, todos se renderiam. 


Mas, não. Liberdade! Gritavam alguns porcos que não acreditavam no preventivo. Foi uma gritaria geral. Na fazenda toda começaram a se repetir manifestações de porcos desconfiados, cujo senso de liberdade não estavam dispostos a entregar facilmente. Principalmente depois que começaram a surgir os casos de porcos que a prevenção não preveniu, pelo contrário, matou ou danou. Então os abutres botaram na rua o exército de lobos para conter os porcos manifestantes.


No meio da confusão toda, começaram a surgir algumas teorias. Uma delas, a de que a poção mágica preventiva apareceu rapidinho porque já estava pronta. Assim como a peste, que havia sido construída em laboratório, estava apenas aguardando o momento certo para ser distribuída e de que tudo aquilo faria parte da nova ordem rural que estava em marcha, com menos porcos e todos controlados. 


Em nova reunião da UNIFICADA, depois que todos se submeteram e os renitentes morreram ou foram isolados em currais de reeducação, solenemente, os abutres declararam – Chegou a hora do Grande Reset. Estamos reiniciando tudo. De agora em diante nenhum porco terá nada, mas será feliz. Acabou o dinheiro. A fazenda toda será desmonetizada, todos receberão da UNIFICADA créditos de rações e benefícios conforme sua contribuição ao ar e ao novo normal. Acabou a diferenciação de sexo, a biologia foi revogada. Somente nascerão porquinhos aonde e quando a diretoria autorizar. Está extinto o parentesco entre os porcos, os leitões pertencem à UNIFICADA. O direito de ir e vir será controlado pela imagem dos focinhos e tudo que cada porco disser ou publicar poderá ser usado contra os créditos dele. E, mais, todos os templos serão fechados, como disse aquele porco bigodudo em 1882, seu Deus está morto!”


Caros leitores, desculpem se os assusto. Não se preocupem, é apenas um conto, uma fábula, um delírio. Como podem notar, está tudo normal.


Valterlucio Bessa Campelo escreve às sextas-feiras no ac24horas e, eventualmente, em seu BLOG e no site LIBERAIS E CONSERVADORES, de Percival Puggina e na Revista Digital NAVEGOS


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