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No Acre, 15,8% dos alunos não tiveram nem aula presencial em 2020

Por
Orlando Sabino

Dados do IBGE mostram que um em cada dez estudantes brasileiros (10,8%) entre 6 e 17 anos não tiveram nem aula presencial, nem qualquer atividade pedagógica em 2020. Mostra também que  alunos de escolas públicas, de áreas rurais e  das regiões Norte e Nordeste enfrentavam situações ainda piores que a média brasileira. Na região Norte, por exemplo,  a taxa chega a 25,4%. A desigualdade fica ainda mais clara quando se compara o desempenho por unidade da federação. No Acre foi de 15,8%; em Roraima, quase um terço (31,7%) ficaram sem aulas e sem atividades pedagógicas mencionadas, como aulas online, deveres e estudo dirigido, por exemplo; outros três Estados ficaram com taxas acima de 30%: Pará (31%), Amapá (30,3%) e Amazonas (30,3%).


No Artigo de hoje, vamos analisar alguns indicadores da situação da educação do Acre no contexto da pandemia. Os dados  são da Síntese de Indicadores Sociais 2021, com dados referentes a 2020, divulgada no dia 03/12 pelo IBGE, que destacou, no contexto da pandemia do coronavírus, a oferta de conteúdo pedagógico, o acesso às atividades pedagógicas e as condições sanitárias das escolas. 


Para o Brasil como um todo, os resultados são resumidos abaixo:


  • O Brasil está entre os países que tiveram o maior período de suspensão das aulas presenciais de acordo com o monitoramento global da Unesco. 99,3% das escolas da educação básica suspenderam as atividades presenciais e 90,1% não retornaram no ano letivo de 2020, totalizando 279,4 dias em média sem aulas presenciais (287,5 dias na rede pública / 247,7 dias na rede privada).
  • O percentual de estudantes de 6 a 17 anos da rede pública sem aulas presenciais e sem oferta de atividades pedagógicas foi 11,3 vezes maior na região Norte comparado ao Sul, atingindo mais de 1/4 desses estudantes no Norte. Além do mais, o indicador  foi 4,3 vezes maior na rede pública do que o da rede privada.
  • 42,6% das escolas realizaram aulas ao vivo mediadas pela internet com possibilidade de interação direta entre alunos e o professor: 35,5% na rede pública; 69,8% na rede privada;
  • A presença simultânea de internet e computador ou notebook em casa atinge 54,0% dos estudantes de 15/17 anos (48,6% na rede pública e 90,5% na rede privada). Sendo 67,3% para estudantes brancos, enquanto pretos ou pardos atingiram 46,8%. Uma diferença de 20,5 pontos percentuais.

No Acre, somente 8,1% dos alunos de escolas públicas tiveram oferta de aulas ao vivo, pela internet. O pior índice do país. 


Outro indicador adotado pelo IBGE para avaliar o ensino on-line foi a oferta de aulas síncronas pela internet com interação, ou seja, com transmissão ao mesmo tempo em que estavam sendo realizadas e com possibilidade de participação dos alunos, classificado como o modelo mais próximo do que seria uma atividade presencial. Na média brasileira, 42,6% das escolas realizaram esse tipo de aula. As realidades são muito distintas na rede pública (35,5%) e privada (69,8%). O IBGE atribui a diferença “significativa” à menor presença de infraestrutura tecnológica no domicílio dos alunos da rede privada. Quando se olha o desempenho das escolas públicas por Estado, os piores índices de oferta de aula ao vivo pela internet foram observados no Acre (8,1%), no Amazonas (9,9%), no Pará (13,2%) e em Roraima (13,3%). 


No Acre, 78,3% das escolas da rede privada tiveram oferta de aulas ao vivo, pela internet. O décimo maior índice do Brasil.


O IBGE avaliou, ainda, um indicador especificamente para a faixa etária de 15 a 17 anos, que é a idade oficial de frequência do ensino médio. Em todo o país, mais de um terço (35,6%) desses estudantes se dedicaram por menos de duas horas ao dia para as atividades escolares, uma sinalização da perda de carga horária à educação em função da pandemia.


A situação é bem pior na rede pública (39,2%) que na rede privada (15,2%) e se mostra mais intensa nos estudantes que pertencem às famílias de mais baixo rendimento. No grupo dos 20% mais pobres, essa taxa era de 41,1%, próxima aos 41,4% do grupo entre 20% e 40% mais pobres. Na outra ponta, no grupo dos 20% mais ricos, isso atingiu um quinto (20%) dos estudantes.


No Acre, 3,9% das escolas públicas disponibilizaram equipamentos (computador, notebook, smartphones) para uso durante o ano letivo de 2020. O sexto pior índice do Brasil.


No Brasil, em 2019, 54% dos estudantes de 15 a 17 anos tinham internet e computador ou notebook em casa, sendo 48,6% na rede pública e 90,5% na rede privada. Entre os estudantes brancos dessa faixa etária, o total atingiu 67,3%, contra 46,8% para estudantes pretos ou pardos, mostrando diferença de 20,5 pontos percentuais.


Ao mesmo tempo, no país, 9,2% das escolas públicas disponibilizaram equipamentos (computador, notebook, smartphones) para uso dos alunos durante o ano letivo de 2020 (8,7% das escolas públicas e 11,2% das escolas privadas). Os menores percentuais na rede pública foram apurados no Amapá, Rondônia e Ceará (entre 3,2% e 3,5%), enquanto os maiores percentuais foram anotados em Mato Grosso do Sul, São Paulo e no Distrito Federal (18,1%, 18,6% e 21,9%, respectivamente). No Acre, o percentual foi de 3,9%, o sexto pior indicador do país.


No Acre, 62,7% dos estudantes de 15 a 17 anos das escolas públicas, tiveram acesso a pia ou lavatório em condições de uso e com acesso a água e sabão. O décimo primeiro melhor índice do Brasil.


No Brasil, 61,6% dos estudantes de 15 a 17 anos tiveram acesso simultâneo a pia ou lavatório em condições de uso com água e sabão nas escolas em 2019 (56,2% na rede pública e 98,3% na rede privada). Na rede pública, menos da metade dos estudantes dessa faixa etária conseguiam lavar as mãos adequadamente nas escolas em dez Unidades da Federação, em 2019.


Podemos observar nos dados apresentados que são enormes os desafios de infraestrutura tecnológica das escolas para que os alunos possam acessar conteúdos curriculares. Por outro lado, verifica-se que os estudantes mais vulneráveis, aqueles que não reúnem condições de estudo em casa, devido a precariedade das residências foram os mais afetados. Constatou-se que esse período sem aulas presenciais foi um desafio obviamente para todos os estudantes brasileiros, principalmente para os mais vulneráveis como os estudantes acreanos. Os números indicam que a desigualdade fica ainda mais clara quando se compara o desempenho por unidade da federação.


Orlando Sabino escreve às quintas-feiras no ac24horas


 


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