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Diário do Acre – P.A Tarauacá/Tarauacá

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Cedinho, busquei o amigo Chico Velho na vendinha dele, no Mercado Municipal de Tarauacá. Tomei um gole de café, enquanto ele fechava às portas e me dizia que precisávamos buscar a esposa e filhos. Meu filho Antônio, que me acompanhou na viagem, conheceria pela primeira vez as entranhas de Tarauacá.


Na boca do ramal do cachoeira, Raimundinho, sobrinho do Chico Velho, meu amigo de muitos anos, nos esperava para seguir a viagem conosco. Nossas visitas seriam na família dos Rolas, uma das primeiras a povoar o antigo seringal esperança que, depois, virou o P.A Tarauacá.


Nossa primeira parada foi na casa do Seu Raimundo, pai do Raimundinho. Ele acabara de chegar do roçado, ofereceu café e falou com orgulho de sua propriedade, se gabou para o irmão de uma espingarda certeira para caça. Não parava de falar de uma espécie de bananeira que tava dando de três cachos.

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Mais adiante, paramos na casa do Seu Rola e da dona Amélia, patriarcas da família. O casal teve 13 filhos que hoje se multiplicam em inúmeros netos e bisnetos. Infelizmente seu Rola anda doente, depois de um AVC, e não tem mais o vigor de anos atrás. Como me disse dona Amélia, agora ela tem que ser a cacique da família sozinha.


Para chegar a casa do seu Sebastião Rola, nosso ponto de encontro, seguimos uma pequena caminhada, subindo, descendo terra e atravessando o igarapé esperança, que nessa época do ano está raso, com água na altura dos tornozelos.


Na casa do Sebastião, a felicidade era grande. Boa parte da família estava ali, animada com nossa visita e dos amigos Gilberto, Josué, Edmundo, Quirino


 


, Carlinhos, Baixote e Valdir, que vieram conosco da cidade. A conversa era comprida. Enquanto as crianças corriam para lá e para cá, na brasa o capadinho chiava e perfumava o ambiente, com fumaça atiçando a fome de todos.


Seu Sebastião fez questão de me convidar para visitar a comunidade no 20 de Janeiro, dia de São Sebastião, quando


 


ele faz uma grande festa em homenagem ao santo para pagar uma promessa de saúde. Me disse que já tinha separado até os garrotes. Não faltaria comida, esperança e muita comunhão.


A comida foi na cuia grande, a cozinha de panelas ariadas ficou pequena para todos que enchiam os pratos com carne de porco, farofa, macaxeira e arroz. Os pratos cheios alimentavam a fome e as conversas enchiam os corações de esperança de dias melhores para a comunidade.



 


Na volta, de bucho cheio, a caminhada parecia mais curta. Seu Raimundo Rola já foi logo avisando, na próxima o almoço é lá em casa. Raimundinho cochichou no meu ouvido: – “o pai gosta da casa sempre cheia”. Antônio já vinha pescando traíras no carro enquanto deixávamos os amigos pelo ramal. A cada despedida a gratidão pelo dia juntos tornava ainda mais sólida a amizade.

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