As investigações relacionadas a um dos crimes de maior repercussão no Acre neste ano, o assassinato do ex-prefeito do município de Plácido de Castro, Gedeon Sousa Barros, podem resultar em um desfecho completamente inesperado. De acordo com depoimentos que constam no inquérito policial que segue em andamento, o empresário e político pode ter sido morto por engano.
Gedeon Barros foi assassinado no dia 20 de maio deste ano, aos 52 anos de idade, com disparos de arma de fogo. O crime ocorreu no bairro Santa Inês, no Segundo Distrito de Rio Branco, após ele parar o carro que dirigia, um Nissan Versa, para falar com alguém ao telefone. Ele foi executado por um homem que chegou na garupa de uma moto vermelha e atirou no ex-gestor, fugindo junto com um comparsa que pilotava o veículo.
O ac24horas teve acesso à peça investigatória inconclusa que reúne os procedimentos realizados pela Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) desde a notificação do fato e que se desenrola nos últimos cinco meses. As primeiras investidas da polícia ocorreram na região do bairro Belo Jardim, para onde o autor dos tiros contra o ex-prefeito e o condutor da motocicleta teriam fugido, de acordo com as primeiras informações.
Logo, as investigações apontaram para dois nomes de suspeitos de terem executado Gedeon Barros. A dupla seria pertencente à facção criminosa Bonde dos 13, ocorrendo que um deles já estaria preso pelo envolvimento com o latrocínio praticado contra o freteiro Francisco Alves Maia, de 56 anos, achado enterrado em uma área de mata no Loteamento Praia do Amapá, em Rio Branco, também em maio deste ano.
Também figuram no inquérito policial como possíveis mandantes do crime outras duas pessoas, entre as quais um ex-secretário da prefeitura de Plácido de Castro. De acordo com o que foi sendo levantado no curso das investigações, Gedeon tinha dívidas com algumas pessoas, resultantes da última eleição que havia disputado, tendo indicado para a sua esposa quem seria o responsável por sua morte, caso fosse assassinado.
Ocorre que alguns dos depoimentos que constam no inquérito policial em andamento abrem uma hipótese até então impensada por quem acompanha o caso. Gedeon Barros pode não ter sido vítima de um crime encomendado, mas de uma enorme fatalidade. Ele pode ter sido morto por engano em uma ação criminosa que teria sido planejada para ser um assalto orquestrado pelos membros da facção criminosa, mas que mirou no alvo errado.
Em um desses depoimentos, a pessoa inquirida dá informações contundentes sobre o que pode ter acontecido naquele dia 20 de maio em que o ex-prefeito foi assassinado. O depoente afirmou ter ouvido de um dos acusados que realmente teria participado do crime dizendo a seguinte frase: “Rapaz, nós fomos meter uma fita e a fita deu errado, seguimos o carro errado e o menino disparou sem querer e matou o cara”.
No mesmo interrogatório, o depoente diz que o crime planejado era um assalto cujo alvo era alguém que estaria transportando ou teria em sua posse uma quantia de R$ 190 mil. Em outro depoimento, uma pessoa ouvida pela polícia diz que ao conversar com um dos investigados ouviu a seguinte informação: “Deu foi merda, o (…) matou o cara e o cara é ex-prefeito de Plácido”. Antes disso, esse investigado teria sido convidado para um “corre”, mas não teria ido.
O depoimento de um dos acusados de participarem diretamente do crime contra Gedeon apresenta detalhes de como a morte do ex-prefeito ocorreu. O interrogado alega que um dia antes dos fatos recebeu uma ligação telefônica de um homem residente no município de Plácido de Castro que lhe pediu para dar apoio a uma pessoa que iria de Plácido de Castro para Rio Branco, supostamente pegar uma encomenda.
Na ocasião, o interlocutor disse ao investigado: “(…), vai um menino meu aí tu dá uma apoio pra ele aí, ele vai pegar uma encomenda pra mim, depois te pago uma “presa”. Na manhã seguinte, o dia do crime, ele disse que recebeu um telefonema de um indivíduo dizendo que estava esperando o interrogado nas proximidades do terminal de ônibus do bairro Cidade do Povo, para onde ele se dirigiu imediatamente.
No local, ele encontrou o referido homem em uma motocicleta modelo Factor de cor vermelha sem placa e que ele falou: “Vamos, tá quase na hora”. Ele afirma que montou na motocicleta e a pilotou com o indivíduo na garupa com destino à rotatória da corrente, tendo feito uma parada nas proximidades da loja Ferrosul, onde depois de alguns instantes o homem disse “vambora”, e se dirigiram ao local onde o crime ocorreu.
O depoente afirmou que ao chegar ao local, o indivíduo desembarcou da motocicleta e foi em direção a um veículo que estava parado e em ato contínuo efetuou um disparo de arma de fogo contra o motorista. Que no momento do disparo o interrogado pensou em sair do local sozinho, pois não sabia o que estava acontecendo. Contudo, o referido indivíduo disse: “espera aí porra, vai me deixar é?”, quando fugiram rumo à Cidade do Povo.
Imagens de câmeras de monitoramento instaladas nas cercanias do estacionamento da Suframa, mostram os acusados em parte do percurso citado no depoimento, principalmente quando se aproximam e quando se evadem do local do crime. O material foi fundamental para a identificação dos suspeitos, pois mostra várias características tanto do veículo usado para cometer o crime quanto das vestes que eles usavam.
No último dia 19 de novembro, o delegado de Polícia Civil que está na condução do caso, Marcus José da Silva Cabral, tendo em vista a necessidade na continuação das investigações do crime em apuração, solicitou ao Judiciário a prorrogação do prazo para a conclusão do inquérito por mais 90 noventa dias. O Ministério Público Estadual se manifestou favorável ao pedido, mas sugeriu que novas dilações tenham prazo mais reduzido.
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