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Diário do Acre – Rio Bagé, Marechal Thaumaturgo/Acre

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Um rio estreito de águas esverdeadas, com pequenas corredeiras e troncos de árvores em todo o seu trajeto, afluente do Rio Tejo, que deságua no majestoso Rio Juruá, esse é o Rio Bagé. Ladeado de florestas no seio da Reserva Extrativista do Alto Juruá, o Rio Bagé abriga famílias simples e acolhedoras, cuja histórias e hospitalidade chamam tanto a atenção quanto às belezas naturais da floresta.


Navegamos sob o leme do experiente barqueiro Bumba, bom de motor e de prosa, conhecido por todas as famílias do Bagé. A visita foi conduzida pelo Aldemir Lopes, meu amigo e amigo de todos da região. No trajeto, ainda no Tejo, paramos na casa da dona Val, uma loura animada com a vida. Ela nos ofereceu algumas bananas e contou seu sofrimento pelo fim do seu bolsa família. Algumas curvas a frente, seu Pedão nos recebeu de braços abertos, sentado no chão de sua cozinha, enquanto o filho passava um café.


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Acompanhei seu Pedão num piuba de fumo forte, enquanto proseava e saboreava o café sem coar, doce como eu gosto! Seu filho advertiu, “na volta, parem aqui! Vai ter carne de caça pro almoço”. Um pouquinho adiante, paramos no porto da dona Sebastiana, esposa do Bolacha, que ao ver o Aldemir não perdeu a oportunidade de contar como foi para o programa Luz Pra Todos chegar até a foz do Bagé.


Deixamos o largo Rio Tejo para adentrar no estreito e sinuoso Rio Bagé. Escolhi justamente o verão amazônico para essa viagem, porque queria sentir na pele um pouco das dificuldades que as famílias que moram no rio tem de navegar nesse período, empurrando canoa no seco e desviando dos paus.


Já passava das 13 horas quando paramos para almoçar na casa do seu Antônio José. Subi com duas latas de conserva, em busca de farinha. Seu Antônio não estava, tinha ido mais acima ajudar um vizinho, sua esposa nos recebeu bem, esquentou a conserva, ofereceu, farinha, banana e mamão, e nos ofereceu a comida que ainda tinha do almoço.


De bucho cheio continuamos a subida até a casa do Quima, onde encontramos o seu Antônio José, eles estavam fazendo um açude. Subimos pra cozinha, tomamos um café e proseamos um bom tempo. Seu Quima pediu para ficarmos e dormir por lá, mas já estávamos apalavrados de dormir em outro amigo e assim seguimos viagem.



Subimos mais uns três portos e combinamos de passar com mais calma pela manhã, ainda tínhamos muito Rio pela frente e sem a luz do sol é muito difícil navegar no Bagé. Aportamos na casa do Seu Hélio, nosso ponto de dormida. Ele nos recebeu no barranco com seu filho e seu genro. Seu Hélio, um homem de baixa estatura e de grande respeito, nos levou pra cozinha e já nos serviu um café.


Seu Hélio nos questionou: “querem jantar o que? Posso matar um pato, uma galinha”. Eu disse ‘galinha’ e seu Hélio chamou seu filho Baleeira para abater o animal, mas quando ele viu a franga, disse “pega o galo também! O vermelho!”. E dona Nair fez galinha e galo no jantar pra quem quisesse comer! A noite e pela manhã foram muitas histórias, seria preciso um livro para todas contar. Aldemir muito amigo de toda a família perguntou por todos e deu conta de velhos amigos que por muito não se via.


Após um café com ovos caipiras começamos a descida, paramos na casa do seu Pedro Felipe que estava para a broca, fomos recebidos pela sua esposa e parte dos seus quinze filhos. Subimos na casa da dona Gata, onde partilhamos um pouco de diesel para ligar o gerador e assistir à novela.


Tristonha, dona Gata nos falou que seu filho foi alvejado de espingarda e está internado em Cruzeiro do Sul. Graças a Deus, sem correr mais grandes riscos. Mais adiante paramos na casa do Jonas e da dona Quinoa, colocação onde anteriormente morava dona Maroca, que faleceu ano passado, matriarca da família, mãe também do seu Hélio.


Descendo para Marechal encostamos na casa do Manuelzão que estava para o roçado. Seu filho, Daniel, menino novo e desenrolado, estava sozinho, construindo um barco para quatro toneladas e uma baleeira de 26 metros, grande desafio para quem aprendeu só olhando a arte da construção de embarcações.


Por fim, seguimos descendo o Bagé, passamos pelo Tejo, Juruá e chegamos a Marechal Thaumaturgo, cheio de histórias e tendo vivido uma experiência única, difícil de explicar escrevendo e mesmo filmando cada momento seria impossível mostrar o cheiro da mata, o friozinho do sereno, o calor do fogão a lenha, o sabor do galo vermelho e principalmente o acolhedor sentimento de já ter mais uma dezena de amigos no Bagé, aqui no alto Juruá.


Marechal Thaumaturgo, Acre, 15 e 16 de julho de 2021

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Cesário Campelo Braga escreve todas às sextas-feiras no ac24horas.com


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