Era cedo e poucos carros cruzavam o Juruá pela balsa de Rodrigues Alves. O céu com nuvens colocava em risco a visita a zona rural. Um copo de Nescal e pão com manteiga, na casa do Marcelo, foi o café. Passamos na casa do Burica para buscá-lo. Seguimos juntos para o ramal a caminho da Nova Cintra.
Numa casa de farinha, encontramos dona Leidí que, junto com suas cumadis descascavam, macaxeira, enquanto os homens, no forno, já torravam a massa peneirada. Leidí nos ofereceu uma faca. Para conversar na farinhada tem que ajudar no preparo.
Contou-me como adquiriram a casa de farinha, no tempo que ela presidia a associação “As Muralhas”. Falou da luta pelo ramal, posto de saúde e lamentou as dificuldades de hoje; – “no posto não tem nem um comprimido pra pressão”
Adiante, encostamos na padaria Família Lima. Bel, padeiro, dividiu conosco o sonho de ampliar seu comércio. No lado de fora, na sombra de uma árvore, Burica conversava com a Ana, me chamou para me apresentar e contar de quando a Ana trabalhava no posto de saúde da comunidade.
Encostamos na casa do Tubamba. Me admirei ao ver que, além dos cachorros de caça, ele criava dentro de casa um veado roxo chamado Xena. Entre um gole e outro de café, Tubamba falou das caçadas e contou como estava a família, reafirmando a amizade verdadeira com Burica e Marcelo.
Numa casinha de madeira, Marcelo, sem cerimônias, foi entrando e perguntando pelo Bulula. Dona Erlene, sentada no sofá, avisou que ele não estava, tinha ido mariscar longe e só voltaria no sábado. As crianças correram pra sala curiosas com a visita. Lamentei a ausência do amigo, conheci Bulula na cidade e estava animado para encontrá-lo em casa.
Na volta que o ramal dá contornando o rio Juruá, seguimos para a agrovila e encostamos na casa do Véi. A esposa dele, sentada na varanda, pediu para chamá-lo no vizinho. Quando viu Burica já chamou-o para uma pescaria num lago. Parece que o Tina escutou a conversa de casa, pois rapidinho estava por lá combinando essa pescaria.
Já era quase meio dia quando chegamos na casa do Agenor, que tranquilamente deitado em sua rede nos mandou subir, nos ofereceu uns abacates com farinha e açúcar, enquanto falava orgulhoso da comunidade.
Marcelo ouviu o caminhão da linha encostando ao longe e disse que seu pai devia estar chegando em casa. Antes de sair ainda comemos rapadura com coco e uns biscoitinho de goma, que a esposa do Véi levou até o Agenor.
Senhor Barroso, pai do Marcelo, nos recebeu na parte de trás da casa. Dona Tonha esposa dele veio alegre cumprimentar todos. O clima era de felicidade, Burica agradecia a todos e não deixava de dizer pra passarem na casa dele, quando forem na cidade. Eu observava tudo, com muita atenção, e guardava comigo a certeza de que os laços de amizade se fortalecem na caminhada.
Cesário Campelo Braga escreve todas às sextas-feiras no ac24horas.com
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