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Emprego, segurança e qualidade de vida atraem acreanos para Santa Catarina

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O aumento populacional vivenciado pelo estado do Acre nos últimos anos tem confrontado diretamente com um comportamento que vem se intensificando  na mesma medida. Não é necessário ter acesso a dados ou estatísticas para notar cada vez mais a saída de moradores para outros estados brasileiros. Observa-se ainda que os motivos dessa debandada em massa são quase sempre os mesmos: falta de emprego, falta de segurança e qualidade de vida.

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Apesar da constatação empírica (sem dados oficiais), a situação poderá ser confirmada com a publicação do próximo Censo Demográfico feito pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que virá à público em 2022. O economista Orlando Sabino diz que mesmo sem números de fator econômico que possam explicar esse movimento migratório, acredita que a situação também acompanha um nível elevado de aposentadorias que vêm ocorrendo nesse período no Acre.


Ítalo Lima, representante de uma empresa de transporte coletivo interestadual, relata que a procura está significativamente alta, principalmente para Santa Catarina.  “Florianópolis, Balneário Camboriú são os destinos mais procurados, mostrando que aqui [no Acre] a economia está muito fraca”. Para ele, na maioria das vezes, os clientes reclamam de desemprego no estado. “Eles dizem que faltam oportunidades e acabam indo embora, procurando outra cidade para morar. Todos os dias a gente atende esse tipo de cliente”, atesta.


É o caso de três, entre centenas de acreanos que decidiram mudar de lugar para viver. Jorlália, Rodrigo e Jendem levam vidas diferentes em Santa Catarina, mas compartilharam do mesmo sentimento: mudar de vida numa nova cidade. Todos escolheram cidades do estado sulista e, seja sozinho ou em família, o trio não pensa em regressar.



Ingresso no mercado de trabalho – Há cerca de nove meses, Jorlália de Souza Araújo, de 26 anos, decidiu mudar completamente o rumo que vinha tomando na capital acreana após concluir o curso de nível superior em Fisioterapia. Mesmo formada, não conseguia uma colocação no mercado de trabalho e resolveu arriscar. A falta de emprego foi, inclusive, um dos motivos que a fizeram mudar para Santa Catarina.


“Eu tinha algumas amigas que estavam aqui [Florianópolis] e falavam super bem. Comecei a pesquisar e vi que tinha bastante oportunidade de emprego. Antes mesmo de vir, comecei a mandar currículos e sempre era chamada para as entrevistas”. A recém-formada ainda chegou a fazer cinco entrevistas online, ainda vivendo no Acre. “Tanto que já cheguei aqui empregada. Na minha quinta entrevista, o dono da empresa disse que esperaria o dia que eu iria embora”.


Hoje, ela  reside em Florianópolis, mas não tinha preferência por cidades específicas. “Foi por impulso. Tinha um amigo que queria muito sair do Acre também e a gente se programou para vir junto. Acabou que ele desistiu, mas fui firme e vim sozinha. Tenho uma prima aqui também e ela me deu apoio no primeiro mês, até eu encontrar um lugar para”.


A fisioterapeuta não se arrepende da decisão que tomou. “Saudade dá, muita, principalmente saudade da família, mas aqui as oportunidades são melhores, a qualidade de vida também é bem melhor”, destaca. Para ela, as maiores dificuldades que passava no Acre estavam relacionadas a  segurança pública e falta de oportunidades profissionais. “Lá, se você não tiver indicação, não consegue nada”.


Agora, a jovem pretende evoluir ainda mais profissionalmente e não quer sair de Florianópolis. “Minha família me apoiou e me apoia até hoje. Quando eu disse que queria ir embora, eles me apoiaram. Para  quem pensa em fazer o mesmo, mas tem medo, aconselho a vir porque vale a pena. Dificuldade a gente tem, principalmente para quem vem só e fica longe da família, mas isso a gente supera”.


As migrações que estão ocorrendo de um estado para o outro serão detalhadas no próximo ano, com a atualização do Censo. Orlando Sabino explica que o Acre sofreu um grande inchaço da folha de pagamento, coisa de 30 anos atrás, quando as pessoas entravam no serviço público sem concurso. “E o grande “boom” de aposentadoria nós estamos vivendo agora. De uns 5 anos para cá o estado teve esse boom. As estatísticas do número de aposentadorias do quadro de funcionários do estado é um volume significativo”.

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Segundo o especialista, muita gente que se aposenta escolhe uma cidade para se transferir. “E acredito que dentre essas cidades e estados, Santa Catarina possa merecer esse destaque. Mas não temos essa informação, se é algo exclusivo de Santa Catarina. Os estados do nordeste também são muito procurados. Temos notado muito, não em dados oficiais, mas por informações, que a Paraíba, onde tem o custo imobiliário baixo, está atraindo as pessoas para essas cidades à beira mar”, comentou.



Qualidade de vida – Situada num dos menores estados brasileiros, Rio Branco, apesar de pequena em extensão e arrecadação de impostos, se destaca a nível nacional quando o assunto é violência urbana. E isso foi o que levou o gerente de produção na área de transformadores, Rodrigo Campos da Silva, de 34 anos, a sair do estado. “Vim para Santa Catarina em busca de qualidade de vida, boa educação para minha filha, lazer e oportunidade de emprego”.


Rodrigo escolheu Blumenau por ser abrangente em sua área de atuação no mercado de trabalho. A mudança levou um tempo para ser amadurecida e ele pesquisou bastante antes de se mudar, uma vez que iria com esposa e filha. “Para sair do seu estado, sugiro que pesquise bastante, e quando falo em pesquisar, seria tudo mesmo: cultura, educação, preços de aluguel,  alimentação e etc”.


Para realizar o desejo, fez uma reserva financeira para poder se manter com a família na cidade por um curto período, até conseguir um emprego. “Essa dica é importantíssima. “Eu não me arrependo, apesar de ter uma carreira consolidada de 15 anos numa empresa, com salário de razoável para bom, no Acre temos quase nenhuma opção de lazer para a família”, lamenta.


Outro fator preponderante para ele foi a questão da educação. “Era uma briga grande para conseguir vagas nas creches. Aqui onde escolhi morar tem quatro creches em num percurso de apenas 2 quilômetros de distância da minha casa e oito em 6 quilômetro de distância”.


Saúde pública de melhor qualidade também estava na lista de desejo da família de Rodrigo. Agora, ele garante não precisar mais se deslocar às 5 horas da manhã para pegar uma ficha para ser atendido. “Aqui posso ir a qualquer hora do dia e tem médico para atender, com posto e ambulatório a 3 quilômetros de distância”.


A média salarial também foi importante no momento em que Rodrigo decidiu sair do estado. Segundo ele, a maioria das empresas de Santa Catarina pagam em média R$ 1.700 para auxiliar de produção, e muitas ainda fornecem vale alimentação e auxílio creche. “Isso para um cargo mais baixo. Lazer nem se fala, aqui é a cidade da cerveja e tem praia a 50 minutos e cachoeiras a 30 minutos”.


Agora almeja uma carreira profissional e estabilidade financeira. “Pretendo continuar morando aqui, cada dia que passo em Blumenau descubro pontos positivos para permanecer aqui. Em relação à minha família, tomamos a decisão juntos, pesquisamos bastante sobre a cidade, enfim, fomos totalmente a favor em relação à mudança de estado. Acreditamos que fizemos uma boa escolha”, salienta.


Aceitação e geração de renda – Jendem Thierley Cordeiro de Souza tem 36 anos e é tatuador. Apesar da vasta experiência e reconhecimento de seus clientes pelo trabalho executado, sentia-se incomodado pelo fato de como sua profissão ainda era ‘mal vista’ e até marginalizada no estado do Acre, mais precisamente em Rio Branco.  Além disso, a criminalidade, que só aumentava, deu o Xeque-Mate para que ele fizesse as malas.


Em seu caso, houve bastante pesquisa. Foram quase dois anos para finalmente decidir para onde ir. “Havia pesquisado as melhores cidades para se morar no Brasil e achei uma chamada Brusque, em Santa Catarina. Isso já faz uns cinco anos. Me organizei durante quase dois anos e resolvemos [ele e a esposa] vir para essa cidade”. Ocorre que antes mesmo de chegar lá, um amigo que morava na cidade vizinha, Itajaí, a 25 quilômetro, no litoral,  falou muito bem dela e do quanto era boa para o trabalho.


“Itajaí tem um porto e por isso gera muito dinheiro em torno na cidade. Aqui a tatuagem não é vista com maus olhos, como algumas pessoas fazem no Acre, não é marginalizada.  Não há tanto preconceito como eu percebia que algumas pessoas tinham no meu estado, principalmente os mais velhos”. Em Santa Catarina, Jendem possui vários clientes da terceira idade. “Tatuagem aqui é muito comum, em relação a trabalho, quase não há discriminação com pessoas tatuadas”, afirma.


Questionado se pretende voltar para o Acre, ele responde que não se arrependeu da mudança: “o que fez eu mudar é que no Acre a criminalidade estava muito grande. Vim para cá para sair dessa criminalidade e aqui é bem sossegado, tranquilo. Por isso resolvi ficar, pois além de gerar muito dinheiro, a minha área de trabalho é muito boa”.


Para ele, voltar ao estado só se for a passeio. “O conselho que eu daria para quem está pensando em sair do Acre é pesquisar bem antes.  Não adianta sair do nada, passar 3 meses fora, depois voltar com o rabo entre as pernas. Afinal, quando se faz algo programando, a chance de dar errado é muito menor”.


No momento, o tatuador planeja comprar uma casa em Itajaí e, assim que possível, levar sua mãe para perto. “Em relação à minha família, uns diziam que não iria passar 6 meses e já estaria de volta ao Acre. Outros falaram que iria dar certo. Mas não sou o primeiro da família que sai do estado. Tenho um tio que está em Pernambuco. Hoje, todos sabem que não pretendo mais morar no Acre”.


O economista Orlando Sabino afirma que é necessário ver o volume exato em que esse tipo de migração está ocorrendo, mas que, logicamente, quando se perde uma renda que circula no estado, o próprio estado é quem sai perdendo. “Mas não sei em que magnitude se encontra essa situação. E outra coisa, sai muita gente, mas vem muita gente também. Por exemplo, estamos vendo uma grande frente de expansão agropecuária ocorrendo de pequenos e médios produtores de Rondônia rumo ao Acre”.



Para Sabino, as regiões de Sena Madureira, Manoel Urbano e Feijó estão concentrando o recebimento dessa demanda. “Muitas transações com terras estão ocorrendo no estado e esse dado pode ser constatado no número de exploração de madeira. As pessoas estão ocupando as áreas, desmatando. Então, de certa forma, compensa. Não temos a magnitude de quanto o Acre está perdendo em função dessas pessoas que estão migrando para outros estados, mas tem um movimento também de equilíbrio. Estão saindo, mas também está entrando muita gente aqui”, declara.


 


 


 


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