“Foi algo tão maravilhoso, deslumbrante e inexplicável. Passei anos sem contar esse fato para ninguém. Sabia que as pessoas iriam duvidar de mim, falar que eu estava mentindo. Mas, por Deus, por essa luz que me alumia, pelo que tenho de mais sagrado eu vi no poço do Fausto, no rio Acre, que conheço desde criança, um objeto brilhante cheio de luzes no céu há cerca de uns 300 metros de altura de nós. Umas quatro horas da tarde. Estava numa canoa com meu tio e meu irmão procurando uma botija de ouro” …
Essa experiência me foi narrada pelo Joaquim, o Quinca. Remanescente de uma grande família que habitou a região do Alto Acre. Seu avô Joaquim, o seu Quinca (o nome foi dado em homenagem a ele) construía grandes embarcações. Era médico prático, mexia com ervas, era conselheiro, rezador e benzedor.
Joaquim nunca teve razões para mentir para mim. Me falou com toda sinceridade do seu coração desse disco voador que viu nos céus sobre o poço do Fausto, sabendo que, como seu amigo verdadeiro, eu não duvidaria nem zombaria dele. Ele é de uma família que viveu (e vive) no Alto Acre há mais de cem anos, quando o rio ainda comandava a vida nos seringais.
Durante mais de vinte anos vivenciei fatos, vi e ouvi histórias e narrativas de profundo mistério dessa imensa família. Não cabe a mim julgá-los, mas compartilhar com sinceridade segredos e mistérios escondidos no subsolo da alma dos que habitaram (e habitam) rios e florestas acreanas, principalmente seringueiros, ribeirinhos e índios. Esta é uma história real.
Tudo começou com um sonho e a procura por uma botija de ouro no poço do Fausto…
O meu tio, irmão de minha mãe e primo de meu pai, teve um sonho. Sonhou com uma botija cheia de moedas de ouro que havia enterrada no poço do Fausto. No sonho, ele viu com muita clareza o lugar. O tio nasceu por aqui e conhecia a fama misteriosa daquela localidade. Ele sabia que às vezes, num dia de céu claro, um verão de lascar o cano, mas lá sobre o poço do Fausto havia nuvens escuras, chuvas, relâmpagos e trovões. Era muito esquisito aquilo, sombrio mesmo.
Pois bem, o tio me pediu para ajudá-lo a encontrar a tal botija de ouro, mas eu não deveria falar para ninguém. Olha que já vi muita coisa esquisita e não podia duvidar. Chamei só o José meu irmão porque sozinho eu não iria no poço do Fausto por dinheiro nenhum desse mundo, principalmente porque no sonho foi o espírito de uma velha índia que lhe deu essa botija quando ele dormia em uma rede em sua casa, lá em Rio Branco.
Me disse que ela chegou sacudindo os punhos da rede, acordando-o e falando desse ouro. Essa índia, ele a conheceu quando era bem mais moço. Foi isso…
Os índios viviam aqui perto, para as bandas do seringal São Miguel e Porto Yunga. Depois desceram para a boca do igarapé Noaya, ali por perto da cachoeira dos Bandeiras, onde a UFAC faz pesquisa paleontológica no rio Acre. Já encontraram vários ossos de bichos pré-históricos.
Eu tinha acabado de comprar um motor de popa bem novinho. Fizemos o rancho e descemos para o poço do Fausto. Partimos da casa de papai, na boca do igarapé Bufeu, você sabe onde fica. De lá até o poço são umas três horas rio abaixo no verão.
Chegamos no poço do Fausto por volta das dez horas da manhã. Ô lugar esquisito. Mesmo durante o dia era meio escuro, tenebroso. Faz um silêncio perturbador. Só o barulho do vento nas árvores. Não tem viva alma ali, mas a sensação de estar sendo observado incomoda muito. Como se alguém ou algo estivesse escondido na mata da beira do rio te olhando. Já sentiu isso?
Pois bem, ancorei a canoa na praia. O tio caminhou em silêncio olhando de um lado para o outro do barranco, onde tem o salão e uma borda de mata, cujas ramas se deitam sobre as águas fazendo sombra. Ali existia um salão escuro, úmido, com limo e cheio de pedras com argila de onde brota uma água cristalina que escorre até o rio. Olhando de longe, para o barranco, parece a figura de uma velha esculpida no salão. A água cristalina escorria do que parecia ser um olho com alguém chorando. Um lugar propício para uma botija de ouro está enterrada. Seria o rosto da velha índia no barranco? Pensei comigo por causa do sonho do tio.
Passamos o dia quase todo cavando um barranco onde parecia ser o rosto da índia como já falei. Depois cavamos quase a praia toda também atrás dessa botija de ouro, mas nada.
O tio estava inconformado. Ele tinha certeza. Dada hora assim, fechava os olhos e ficava tentando ver no sonho a imagem do lugar exato, mas não conseguia. Ficava confuso e suado. “Acho que o espírito da índia escondeu porque eu tive medo e trouxe vocês”, murmurou meio decepcionado. “Ela deve ter se afastado”, dizia ele.
Depois de muito procurar, já cansados e exaustos resolvemos ir embora. Quem sabe voltar outro dia para continuar procurando. Mas que a botija de ouro estava lá, disso a gente nunca duvidou.
Aparição de um OVNI no céu sobre o rio
Entramos na canoa e fomos saindo de volta para casa de papai. Meu irmão levava a canoa no varejão beirando o barranco, estava empurrando ela para o meio do rio para logo em seguida puxar a correia do motor. Não deu tempo! Foi ele o primeiro a avistar a luz que vinha no horizonte, na parte de cima do rio. “Olha só aquilo no céu descendo por cima do leito vindo em nossa direção”, exclamou de boca aberta com os olhos arregalados.
Achamos estranho porque as luzes se mexiam girando. Não era reflexo do Sol no horizonte. Vinha por cima do rio, há uns 300 metros de altura, pelo leito mesmo. Luzes azuis, vermelhas, laranjas, amarelas e brancas, doíam na vista, sempre girando.
Mandei encostar a canoa numa moita que tinha na margem do lado do Brasil. Ficamos ali escondidos até aquilo passar. Vimos o objeto por debaixo. Era como um tacho gigante, desses de ferver garapa de cana no engenho, só que brilhava como o sol. Igual alumínio polido. O bicho era grande, ia de uma margem a outra do rio. Depois me disseram que era uma tal nave mãe. Tem essas coisas, têm? Bom, bem no meio dele havia uma luz branca maior e outras coloridas acendiam e apagavam em volta. Tipo aquelas luzes que tinha na boate do Pimenta, em Epitaciolândia. Foi passando lentamente como quem procura alguma coisa até se perder na curva debaixo do rio que desce para o seringal São Vicente.
Depois que ele passou ficou um cheiro de plástico queimado. Tipo um enxofre. É uma imagem e um cheiro que vou levar pro resto da minha vida. Nesse dia nem cachaça nós levamos, alguém poderia dizer que a gente tinha bebido.
Ficamos ali por uma meia hora em silêncio pensando. Depois fomos embora sem dizer nada. Nos esquecemos até da botija de ouro. Quando a noite chegou, ainda estávamos longe de casa. Navegamos até às onze da noite sob um céu estrelado. Eu estava confuso e maravilhado ao mesmo tempo. Acho que existem outros mundos.
“A vida é um grande ministério. Não gosto nem de contar o que vimos de modo que as pessoas não acreditem. Mas o que eu vi, vi sim, por essa luz que me alumia”, insistiu o Quinca suspirando fundo.
Depois disso ele soube por moradores, pescadores e navegantes do rio que luzes no céu sempre são vistas naquele trecho. Nunca mais voltaram atrás da botija de ouro esquecida no poço do Fausto. Talvez o OVNI a estivesse procurando também. Ouro é ouro, quem sabe né?!
_ É meu bom amigo, quem sabe né?!
Cá comigo, dizem que sou meio besta por acreditar em quase tudo. Que graça teria a vida se não acreditássemos? Essa narrativa do Joaquim me lembrou um trecho do poema “Juca Pirama” de Gonçalves Dias.
Um velho Timbira, coberto de glória,
Guardou a memória
Do moço guerreiro, do velho Tupi!
E à noite, nas tabas, se alguém duvidava
Do que ele contava,
Dizia prudente: – “Meninos, eu vi!”
*Acho que o Quinca viu mesmo o OVNI…será?!
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