Os números da castanha são muito significativos no Acre. Conforme o Censo agropecuário de 2017, somente na produção, existiam 5.086 pessoas ligadas à sua extração. Eram 2.830 estabelecimentos que atuavam na produção, valor que representa 7,6% do total dos estabelecimentos agropecuários do Acre. Depois de extraída, maiores quantidades de outros agentes da cadeia entram em cena, atuando nos processos de armazenagem, industrialização e comercialização, tanto para o mercado interno como para o externo. Recentemente, uma empresa de São Paulo que atua com foco no desenvolvimento de estratégias de inovação no sistema alimentar elaborou um estudo do potencial das vendas, não apenas da castanha com casca, e identificou um mercado de cerca de R$ 54 milhões no país. Nosso objetivo de hoje é analisar os números que demonstram a importância desse importante produto florestal acreano e suas possibilidades em ocupar parte desse potencial de mercado existente no país.
Conforme pode ser verificado no gráfico abaixo, com dados do IBGE, no período de 1986 até 2020, o auge da produção de castanha foi em 1990 com 17.497 toneladas e a menor, em 1997, com 3.378 toneladas. No período de 34 anos, a média foi de 9.582 toneladas/ano. Com uma produção de 6.769 toneladas em 2020, a produção acreana recuou 33,6% em relação a 1986 e 29,4% frente à média desses 34 anos.
Em relação à participação da produção acreana no total da Região Norte de 1986 até 2020, a média de participação no período foi de 30%. O ano de maior participação foi em 1993, em que 45,9% de toda produção de castanha da Região Norte foram produzidas pelo Acre (11.156 toneladas). A menor participação estadual foi em 1997, com somente 15% (3.378 toneladas). O Acre, que em 2020, produziu 6.769 toneladas, fechou o período em análise, representando 21,5% da produção regional, conforme pode ser verificado no gráfico abaixo.
A castanha produzida no Acre tem tido, ao longo dos anos, uma participação muito efetiva no mercado exterior. Conforme pode ser verificado no gráfico abaixo, analisando os últimos dez anos (2010-2020), em média 55% de tona produção estadual foram exportadas. Destaque para o ano de 2015 quando produzimos 14.038 toneladas e exportamos 12.741 toneladas, representando 90,8% de tudo o que produzimos no ano. Em 2020 o percentual ficou em 57,9%, ou seja, 6.769 produzidos e 3.920 exportados. Portanto, a produção acreana de castanha tem uma participação muito expressiva nas nossas exportações para o exterior.
No gráfico abaixo, temos demonstrado a participação da castanha no valor total das exportações acreanas e o preço médio pago, em dólares, pelo quilo da castanha no exterior. Até outubro de 2021, de um valor total de US$ 42,142 milhões exportados pelo Acre, 24,3% foram de castanha, com um valor de US$ 10,220 milhões. O preço médio pago pelas exportações acreanas foi de US$ 1,68 dólar por quilograma líquido. Nos últimos 10 anos (2020-2020), A maior participação da castanha no valor das exportações acreanas para o exterior foi em 2015, quando 70% de tudo o que exportamos (US$ 15,983 milhões) foram de castanha (US$ 11,183 milhões).
Devido à forte desvalorização do real em relação ao dólar, em 2021 estamos observando a maior valorização da castanha acreana no mercado externo dos últimos dez anos (US$ 1,68/quilograma), valor levemente superior a cotação de 2017 que foi de US$ 1,63 por quilograma.
Pela sua importância, inovações na cadeia como um todo, devem acontecer para agregar mais valor ao produto exportado. Nossa castanha saí do Acre quase sem nenhuma agregação de valor, saí, na grande maioria, em casca, apenas com uma pequena secagem. Significa que outros países é que estão agregando valor ao nosso produto. O Peru é um exemplo. Até o mês de outubro, 86,6% da nossa castanha tinham ido para o país vizinho que, com certeza, lá agrega valor e vende o produto por um preço muito maior.
No jornal Valor Econômico do dia 08/11/2021, o cronista Fernando Lopes nos traz um bom exemplo a ser seguido na questão da agregação de valor à castanha. O título da matéria é: “Produção familiar de castanha-do-Brasil ganha estímulo no norte de Mato Grosso”. (https://valor.globo.com/agronegocios/noticia/2021/11/08/producao-familiar-de-castanha-do-brasil-ganha-estimulo-no-norte-de-mato-grosso.ghtml).
A matéria trata de um lançamento pelo Instituto Centro Vida (ICV), de um trabalho junto à Associação de Coletores e Coletoras de Castanha do Brasil do PA Juruena (ACCPAJ) e tem apoio da consultoria RGNutri. O IVC é uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP), no âmbito do projeto Redes Socioprodutivas, iniciado em 2018, que constrói parcerias com diversos setores entre eles: governos, organizações, redes, coletivos, empresas e mídias. A RGNutri tem sede em São Paulo e atua com foco no desenvolvimento de estratégias de inovação no sistema alimentar. O Objetivo maior do projeto é estimular o cultivo e a agregação de valor da produção de castanha-do-Brasil para oferecer uma nova alternativa que eleve a renda de agricultores familiares da ACCPAJ.
Conforme Lopes, no desenvolvimento do projeto, a RGNutri fez um estudo do potencial das vendas, não apenas da castanha com casca, como diz, a consultoria fez uma “conta contrária” e identificou um mercado de cerca de R$ 54 milhões no país. A conta inclui categorias de produtos vendidos nas gôndolas que podem ter castanha em suas formulações, na forma de farinha, óleo ou torta, como barras de cereais, biscoitos, pães, bolos, bombom ou leite, por exemplo.
Que tal o Acre aproveitar esse potencial de mercado interno para agregar mais valor à nossa castanha. Sabemos que a indústria acreana Miragina já ocupa parte desse mercado. É fundamental que a Cooperativa Central de Comercialização Extrativista do Acre (Cooperacre), que desde 2001, tem sido fundamental para que a castanha do Acre ocupe a liderança de buscar que o Acre possa, cada vez mais, ampliar a sua expressividade no mercado interno e externo da castanha. Ter acesso a essa pesquisa recente elaborada pela RGNutri é fundamental. O Governo do Acre, a Cooperacre e as entidades empresariais locais poderiam unir forças, formando parcerias estratégicas que garantam a ocupação pelo Acre de parte desse mercado em potencial.
Orlando Sabino escreve às quintas-feiras no ac24horas.
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