Era para ser um serviço temporário, um escape para o desemprego que assolava o auge da pandemia de Covid-19 em Rio Branco, capital do Acre. Erika Magalhães e Elizardo Lima estavam sem trabalhar quando decidiram vender brigadeiros pela internet para conseguir comprar comida e pagar as contas. Eles só não imaginavam que em tão pouco tempo sairiam do zero para um faturamento de mais de R$ 90 mil na semana da Páscoa em 2021. Uma doceria de bairro que conquistou milhares de clientes em toda parte da cidade.
A ideia que nasceu como uma forma de renda extra rapidamente se tornou uma das principais casas de doces da capital acreana, a Mimu’s Doceria, maior fonte de renda do casal. Erika e Elizardo são procurados por pessoas e organizações de vários estados, tamanho sucesso alcançado com a empresa que tem como carro-chefe atualmente a venda de bolos, divulgados como “caseirinhos”. Eles creditam à persistência o fato de terem alcançado mais do que esperavam.
Erika trabalhava como vendedora num shopping da cidade quando começou a ter crises de fibromialgia. Com isso, teve de abandonar o emprego e ficar em casa, o que a levou a uma depressão. “Aí, em 2018, comecei a trabalhar com doces em casa. Nessa época ainda não conhecia meu esposo. Como eu morava no bairro Vila Acre, era muito inviável fazer entregas, trabalhar sozinha e acabei parando”.
O casal se conheceu em 2019. A jovem ainda estava com dificuldades em se recolocar no mercado de trabalho e decidiu vender roupas. “Viajei para São Paulo, pensei em ser sócia da minha irmã, mas o negócio não deu certo, ela quis o dinheiro de volta e eu nem tinha como devolver”. Por sorte, uma amiga da igreja que Erika tem como uma mãe, a emprestou os R$ 11 mil que ela devia para poder quitar a dívida com a irmã. Entretanto, ficou com toda a roupa “empancada”.
“A partir daí eu não quis mais trabalhar com roupas. Desencantei totalmente. Nesse período o Elizardo trabalhava com venda de ingressos. Começamos a namorar e rapidamente já estávamos morando juntos no apartamento da Vila Acre”, conta. Com o agravamento da pandemia, o parceiro ficou totalmente desempregado.
“Eu já estava desempregada e depois ele [esposo] também ficou. Começamos a nos preocupar muito. Eu sou bastante nervosa e ficava pensando no que a gente iria comer no dia seguinte. Desde criança sou assim, pequenininha eu ficava atrás da porta chorando e perguntando para minha mãe o que meus irmãos iriam tomar café no dia seguinte”, relata Erika.
Ponto de partida – Num desses dias de aflição, em meados de janeiro de 2020, com aluguel e outras contas atrasadas, o casal estava deitado quando Elizardo viu a fotografia de uma barca que Erika havia feito com brigadeiros de chocolate. “Ele me disse: ‘por que você não faz isso para vender?’ Eu respondi que já tinha feito no passado e não havia dado certo”.
Otimista, o marido afirmou: “se você fizer, a gente vende 10 barcas em um dia”. Com mais de 10 mil contatos no WhatsApp, já que trabalha na divulgação de eventos, Elizardo começou a divulgar os doces que Erika começaria a produzir. “Ele publicou num grupo de comida do Facebook. Fiz uma barca bem bonita, com frases de chocolate escritas ‘te amo’, ‘me perdoa’, e ele fez a foto. Começamos a postar nas redes sociais e nossos anúncios viralizaram na internet”.
Em questão de semanas, as encomendas de barcas e brigadeiros aumentaram substancialmente e os jovens empreendedores começaram a traçar metas. “No início, nossa meta era vender R$ 100 por dia. Todo dia a gente fazia esse valor e foi aumentando. Passou pra R$ 500, R$ 600 e vimos que estava dando certo”, conta Elizardo. O casal foi praticamente expulso do apartamento onde moravam porque quando a média de vendas chegou a R$ 700 por dia, cresceu muito o fluxo de clientes no local e os vizinhos começaram a reclamar.
Foi no período de Páscoa em 2020 quando os proprietários do que se tornaria a Mimu’s Doceria perceberam que o negócio estava engrenando e iria render bons frutos. Foi uma explosão de vendas. “Fizemos R$ 12 mil reais no apartamento que morávamos, mas tivemos que sair de lá, sempre focando que iria dar certo. A gente não dormia. Na madrugada a gente lavava louça, durante o dia fazia os doces e à tarde saía no carro entregando”.
Reviravolta – Elizardo saiu tarde da noite para entregar um dos tradicionais “caseirinhos” quando descobriu um local com ótima localização para vendas pronto para alugar. “Ele chegou tarde me acordando: ‘amor, tenho uma novidade pra ti. O ponto que a gente sempre falava está vazio’. De início, pensei que não conseguiríamos manter, pois tínhamos muitas dívidas, apesar de estarmos com dinheiro das vendas”, destaca Erika.
O casal ligou para a proprietária, que falou: “eu nem iria alugar, pensei em ficar com o ponto, mas Deus tocou no meu coração que é para ser de vocês”. A partir daí começa a trajetória de muito esforço até chegarem ao que são atualmente. “A gente não tinha nada. Mudamos na cara e na coragem. Os amigos nos ajudaram, um deu um freezer, as mesas, outro também doou outras coisas. Todo mundo nos ajudando. A irmã da Erika emprestou o cartão para comprarmos mercadoria”.
No entanto, eles só vendiam brigadeiro e quando mudaram para a estrada da Floresta, os clientes sempre procuravam por bolo na Mimu’s Doceria. “Antes da gente, já teve outra doceria nesse ponto e quando a gente abriu, os clientes vinham muito em busca de bolo. A gente dizia que tinha acabado, que no dia seguinte iria ter, mas na verdade nem vendíamos esse produto”, brinca Elizardo.
Erika teve uma infância difícil, morou só desde os 13 anos, quando saiu de Plácido de Castro para Rio Branco. Desapegar de todos os bens materiais que estavam no antigo apartamento para poder alugar um ponto comercial foi um momento difícil para a doceira. “Aos 21 anos tive que vender tudo que eu tinha no apartamento. Tive que abrir mão de morar sozinha e ir para casa da sogra. Mas como era por um bem maior, fiz para tentar fazer dar certo. Vendi as coisas do quarto e da sala e as da cozinha trouxe para a loja”.
O forno que eles tinham era bem pequeno, junto a um armário e uma mesa. A mesa trincou assim que colocada dentro da loja. Em pouco tempo, o forno já não assava mais e o casal teve de recorrer novamente à irmã de Erika. “Ela me emprestou um cartão de crédito com R$ 15 mil. Estouramos. Não tínhamos experiência com nada, então gastamos com coisas desnecessárias. Hoje, se nos derem R$ 15 mil, abrimos uma doceria completa. Até hoje estamos terminando de pagar esses cartões”.
Após os perrengues iniciais, os empreendedores conseguiram comprar uma batedeira industrial, dois fornos industriais e conseguiram manter o ritmo de compra de todos os insumos.
Eram dois fardos de trigo por dia, além de ovos, açúcar, entre outros insumos, gastos por mais de um mês até conseguirem resultado satisfatório. “A gente ligava para mãe, para as amigas, assistia vídeos. E ela [Erika] só chorava. Eu sempre dizia que iria dar certo”. Questionada sobre a sonhada receita de bolo, Erika conta que foi Deus. “A receita que a gente usa hoje, tenho certeza que foi Deus que colocou nas nossas mãos. Hoje até o Elizardo já bate massa de bolo, porque ficou muito prático”.
Depois disso, puderam ver a clientela triplicar. Inicialmente, compravam uma pequena embalagem de morangos para produzir os doces, depois passaram a adquirir caixas da fruta. “Lembro da primeira vez que fui comprar uma caixa de morangos. Fiquei preocupado, pensando que iria estragar. Hoje já chegamos a comprar 20 caixas de morango em apenas um dia e gastar R$ 2 mil com morango por semana”, revela o proprietário.
Metas e rede social como ferramenta – Ao contrário da companheira, Elizardo sempre se demonstrou mais positivo em relação ao crescimento da empresa. “Eu falava pra ela que mesmo na pandemia a gente iria montar uma doceria. Ela não tinha certeza disso. Mas sempre avisem que é na crise onde nascem as oportunidades. Em 2021, eu disse que a gente iria vender R$ 100 mil na Páscoa e a Erika duvidou”.
A mulher não imaginava que tamanho sonho seria possível. “Não vendemos R$ 100 mil, mas conseguimos vender mais de R$ 90 mil, muito acima da expectativa. E só não vendemos mais porque não tinha produto, a gente não acreditou que chegaríamos nisso. Foram 1.200 ovos de páscoa vendidos”, comenta. Ela relembra que na quarta-feira antes da páscoa, não tinha nem 10 encomendas.
“Só que à noite fizemos uma divulgação por tráfego pago [investimento em plataformas e sites] e no dia seguinte não demos conta de tantas encomendas. Tivemos que fechar as portas e se dedicar só aos pedidos. Vendemos 800 cascas de ovos em menos de um dia. Foi aí que a gente viu o quanto iríamos expandir o negócio”, relata Erika.
De lá para cá, não é difícil observar a formação de longas filas de clientes a procura dos produtos da doceria. O próprio Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas do Acre (Sebrae-AC) descobriu o sucesso do estabelecimento e fez uma visita à cozinha da Mimu’s no início deste ano. A instituição chega a citar a empresa em algumas palestras. “A gente enfrenta muitas dificuldades ainda, mas vamos conseguindo seguir em frente. Logo que viemos pra cá, sofremos um linchamento virtual com algumas pessoas espalhando mentiras sobre nossa empresa. Diziam que não trabalhávamos com produtos de qualidade”. O casal atribui a retaliação ao marketing pesado que eles utilizam na internet. “Usamos muito a mídia e isso nos ajudou bastante na propagação da marca”.
Expansão em lojas, cursos e franquias – Os donos planejam abrir mais duas filiais em breve na capital acreana. Simultaneamente às novas inaugurações, eles já projetam o lançamento de cursos sobre empreendedorismo e ainda da franquia Mimu’s Doceria. “Já abrimos outro ponto, que é uma cozinha, e vamos expandir mais duas lojas. Estamos só procurando os locais. Queremos que um seja na Vila Acre e outro perto do Horto Florestal”.
O objetivo é facilitar para o cliente dessas localidades, que chegam a pagar R$ 15 pela taxa de entrega. “Não temos como acabar com essa a taxa porque temos de 10 a 15 motoboys aqui na frente e que precisam ganhar o deles também. Temos menos de dois anos de empresa e 7 funcionários fixos e mais 4 esporádicos, que chamamos quando precisamos”, diz Erika.
Elizardo assegura que hoje eles se veem como uma doceria delivery. Eles já pensaram em colocar mesas, trabalhar com atendimento presencial, mas viram que esse não era o forte do casal. “Decidimos que vamos focar em trabalhar com doces rápidos. A pessoa sai do trabalho apressada e precisa de um bolo? Aqui tem. Kit parabéns vende muito, as pessoas esquecem, pegam aqui e pronto”.
Hoje o modelo que a Mimu’s trabalha e que ainda abrirá outras filiais é o modelo delivery. “A gente não tem mais vontade de abrir mesas e pelo que sabemos só a gente funciona assim. O delivery hoje é tendência no Brasil, principalmente depois da pandemia. Nos dias em que a gente mais vendia era quando estava decretado lockdown e estava tudo fechado na bandeira vermelha”, afirmam.
Um diferencial da empresa é a entrega rápida, já que a mesma atua com produtos prontos e entregadores próprios. “Chegam muitas pessoas de outras empresas, amigos querendo saber da gente como conseguimos montar tudo isso. Querendo ou não, é um mérito nosso, serve de modelo, exemplo. Hoje pra nós é mais fácil porque já sabemos o caminho, por onde começar. Na prática, foi tudo muito novo e apanhamos muito. Já tentei vender perfume, marmitas, Erika já tentou vender roupa, mas não deu certo. Agora estamos aqui”, conta Elizardo.
Expectativas pro futuro
Os proprietários relatam que quando pensaram em mudar para onde fica a doceria hoje, algumas pessoas disseram que não iria dar certo, mas eles só tinham essa opção. “A gente tinha que fazer dar certo, nem que fosse só os três meses de contrato do aluguel. Estamos no local há quase dois anos e tínhamos que dar certo, se não fosse vendendo brigadeiro, iria ser vendendo bolo, se não fosse vendendo bolo, seria refrigerante, mas aqui vai ter que dar certo”.
Hoje eles comercializam brigadeiros, copos da felicidade, combos, kits promocionais, mas o carro-chefe é mesmo o bolo. “A internet também nos salvou. A gente usa estratégias de venda também para vender ingressos, que já usamos em nosso delivery. Em dias de promoção, vendemos até R$ 10 mil em doces. A gente sempre foca em não perder venda e dobrando nossa meta”, completam.
A meta de vendas para este final de ano aumentou, com a nova cozinha, poderão trabalhar de forma melhor. “Vai ter um local só para montagem de produtos e outro será uma fábrica, para produzir bolos, recheios, que é pra quando a gente abrir as outras lojas já estarmos preparados”.
Hoje a doceria já gira capital sozinha, o que já fez realizar alguns sonhos na vida do casal, que está grávido de 7 meses. “Agora, com a Eloá, mais do que nunca isso aqui tem que triplicar. Se antes a gente não tinha a opção de dar errado, hoje é que não temos mesmo. Se isso não der certo pra mim, não sei mais o que vou fazer. Tem que continuar dando certo”, conta Erika.
Propostas – O sucesso da doceria já notado fora do Acre. Empreendedores de pelo menos três estados e dezenas de cidades do Acre já procuraram o casal na tentativa de uma franquia da Mimu’s Doceria. Erika confirma: “gente de Fortaleza, Aracajú, Porto Velho, cidades do interior do Acre querem nosso modelo. A gente já até começou com esse projeto, assim como os cursos, que já tem aulas gravadas, mas foi quando descobri a gravidez e parei”.
A meta da empresa é vender no mínimo R$ 200 mil neste fim de ano. “Além da doceria, procuramos sempre ter novas fontes de renda, porque quando uma não está bem, precisa de outra para levantar. A gente quer expandir, já penso em ir pra outros estados, vender cursos e isso vai sair do papel em 2022. Queremos fazer modelo de franquia, não podemos desanimar”.
O casal deixa uma mensagem a quem se inspira na história da Mimu’s. “Não desistam. Se com a gente deu certo, é impossível dar errado com qualquer outra pessoa. Já auxiliamos vários amigos, um deles abriu uma doceria depois de ensinarmos tudo do zero. A persistência é 1% a cada dia bem feito e dá certo. Hoje não temos medo de entrar em qualquer lugar e poder comer sem se importar com o valor da conta. Já nos sentimos realizados por podermos comprar o que quisermos e darmos o melhor a nossa filha. A maior realização é querer algo e poder comprar”, finalizam.
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