Se a simplicidade não desse certo, seguramente a letra e melodia “Parabéns pra você” não seria um hit há mais de dois séculos em todo o mundo, todos os dias.
Na certeza que a simplicidade de um texto é a melhor forma de se expressar, eu tento tanto quanto possível (ao menos tento), escrever, esperando que aqueles que dedicam algum tempo a ler meus artigos não tenham dificuldade de interpretar minha intenção de dizer alguma coisa.
Sem quaisquer pretensões, e guardadas todas as proporções, tento me guiar pela simplicidade do rei Roberto Carlos. Sem a necessidade de utilizar uma palavra sequer cujo entendimento dependa de um dicionário, o cantor simplifica em versos e rimas os complicados casos de amores. Com essa fórmula, é um sucesso atrás do outro há 60 anos.
Afinal, quem nunca imaginou ser “o cara” ou “ não se arrastou aos pés de alguém” ou quis a “namoradinha de um amigo”?
Temas ligados a economia poderiam também ser abordados e explicados da mesma forma singela como as baladas românticas, para que o povo entendesse como o governo empurra a macaxeira nas costas dele e ainda sai de herói da causa.
Na última semana, a bolsa de valores despencou e o dólar disparou porque, nas palavras idiotas de Jair Bolsonaro, “o mercado ficou nervosinho” depois que a equipe econômica dele anunciou que extrapolariam o teto de gastos em mais de R$ 30 bilhões para pagar o Auxílio Brasil, o substituto do Bolsa Família, o programa social através do qual o presidente tentará ser içado do atoleiro da impopularidade.
O mercado financeiro “ficou nervosinho” por uma razão elementar: você, meu dileto leitor, emprestaria seu dinheiro a alguém que você sabe dever para Gazin, Renner, Ok, Riachuelo e tem um CDC renegociado várias vezes no Banco do Brasil, mas não desce do salto, tampouco deixa de postar nas redes sociais selfies com cervejas declarando que “sextou”?
Pois bem, de igual forma pensam e agem os estressadinhos endinheirados do mercado: diante da desordem não há disposição neles de emprestar para um governo que não tem compromisso com o controle do caixa. E aqueles que se arriscam só o fazem em troca de juros muito elevados.
Teto de gastos é uma invenção gestada durante o governo Michel Temer para garantir o controle da dívida pública pelos próximos 20 anos, limitando o crescimento de algumas despesas à inflação do ano anterior.
Em palavras simples: as contas do Brasil estão no fundo do poço e a primeira providência para sair dele será parar de cavar o buraco nos próximos 20 anos . O objetivo desse regramento é diminuir a dívida pública e, por consequência, os juros.
Para bancar o novo auxílio social, o governo poderia lançar mão dos R$ 20 bilhões das emendas da relatoria previstas no Orçamento da União e cujo senador relator não se cansa de declarar seus poderes quase sobrenaturais.
Ocorre, todavia, que é exatamente esse Everest de dinheiro o que mantém a maioria do Congresso Nacional no cabresto pela via da liberação de emendas. Sem esse dinheiro para acalmá-los, os nervos de deputados e senadores ficam à flor da pele. E parlamentar sem dinheiro fica muito estressado.
Caso houvesse a sinalização de que o governo estaria disposto a arrumar a casa, os nervosinhos emprestariam a juros mais em conta e os dólares, no lugar de fugirem para países mais seguros, ficariam no país a preços mais camaradas.
Como a situação não é essa, juros e dólar altos significam aumento dos preços, paralisia da atividade econômica e o mais grave, o desemprego.
A inflação é a taxação mais perversa sobre o lombo do trabalhador. De nada adianta ter um auxílio de maior valor se os preços das mercadorias aumentam muito mais.
Luiz Calixto escreve todas às quartas-feiras no ac24horas.com