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Diário do Acre/Alto Juruá/Marechal Thaumaturgo

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Bolacha, açúcar, café e conserva, compramos para o rancho no comércio do Jânio na beira do rio, ia esquecendo, peguei uns chicletes para as crianças. Bumba atracou nossa canoa ao lado do comércio. Abastecidos, começamos nossa viagem subindo o Juruá. Aldemir deu as coordenadas e o motor riscou as águas barrentas do Juruá.


As nuvens no céu não davam conta de esconder o sol a pino, quando encostamos na casa da Xirica e do seu Orlá, na comunidade São João. Depois de subir o porto, que mais parecia uma montanha, encontramos seu Orla na varanda. Dona Xirica nos avistou da janela e já perguntou se queríamos uma galinha. Deixa pra outro dia, falou Aldemir lhe entregando duas latas de conserva, que foram servidas junto com um pouquinho de cutia guizada.


No alto do barranco, o vento soprava mais forte e abrandava o calor do sol. Na cozinha sem bancos de dona Xirica, as tábuas frias eram um convite pra se deitar. Seu Orla e dona Xirica, muito amigos do Aldemir, lembraram dos anos passados, momentos felizes e alguns difíceis, que deram solidez a essa amizade.

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Paramos no Belfor e fomos na casa do Chinha e da Santa. Chinha lembrou que a última vez que estive por lá, estávamos na época do Açai. Pedi um gole d’água. – Está só fria, disse Santa, tá difícil comprar diesel para o motor de luz. Antes de sair, Aldemir ainda foi no pé de jaca vê se não tinha uma madura. Só em novembro terá.


Antes de chegar no porto em uma barraca de palha, Paulo trabalhava diligentemente na produção de uma Rola. Cedro com fundo de Cumaru, avisou o dono que acompanhava animado os acabamentos finais. – “amanhã eu pinto e sábado coloco n’agua”. Preto e branco nunca fica bom e
olha que sou vascaíno completou Paulo meio envergonhado, deve ser por causa do Vasco.


O sol já se punha no horizonte, quando subimos o porto da casa do Pelado, a esposa dele, professora Bida, filha do finado Poxoca, um amigo que fiz na vez que vim na Pedra Pintada, nos recebeu na varanda e mandou subir. Pelado foi buscar água de beber na grota. Aproveitamos e demos notícias da dona Nena, mãe da Bida, e do Macarrão, a quem visitamos na vila.


Enquanto esperávamos, Bida contou a história de uma Índia Kampa que estava passando uns dias em sua casa. Fugida do marido que lhe batia, foi deixada por um tio por lá para passar um tempo. Xixica é do Alto Juruá do lado peruano. Quando nos viu, passou correndo para o quarto e de lá só saiu horas depois pra comer.


Pelado chegou logo com o filho, um molecote esperto chamado Pedro Jorge. Nem subiu, junto com Pedro perseguiram a galinha do jantar. A primeira, mais gorda, que foi escolhida fugiu pra mata, azar da outra que terminou na panela. Enquanto a galinha chiava na pressão, caminhamos até o poço pra tomar um banho e esfriar o corpo depois de um dia de sol.


O motor de luz roncou alto, hoje é dia de jogo da seleção, Brasil e Uruguai. O Brasil só tá fazendo é raiva, foi consenso entre todos. A galinha está pronta, avisou dona Bida! É melhor comer do que assistir o Brasil. Estávamos na cozinha quando Galvão gritou o primeiro gol, foi uma correria pra sala. O pirão escaldado no prato ia dando lugar a pilha de ossos. Caipira feita na hora é uma delícia.


O Brasil deu um baile. Já avisei ao pelado, no próximo jogo da seleção venho pra cá! Parece que o Brasil joga melhor quando assistimos na Pedra Pintada. Armamos as redes na sala e deixamos a janela aberta pra diminuir o calor. O motor desligou e a luz da lua crescente iluminou a sala. Devagar fomos adormecendo ouvindo ao longe o som da mata.



Cesário Campelo Braga escreve no ac24horas toda sexta-feira


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