Importante por possuir em seu território empreendimentos agroindustriais com integração vertical nas atividades, inicialmente na borracha (Fábrica de Camisinha), depois na avicultura (Acreaves) e por último na suinocultura (Dom Porquito); a Regional do Alto Acre; que engloba os municípios de Assis Brasil, Brasiléia, Epitaciolândia e Xapuri; deu uma importante contribuição ao Acre ao demonstrar a combinação da produção tradicional e familiar com a empresarial, com a introdução de inovações tecnológicas em toda a cadeia produtiva, incluindo a logística de distribuição dos produtos no mercado estadual, nacional e até internacional, dinamizando toda estrutura econômica e social daquela regional.
Nosso objetivo de hoje é destacar alguns números da Regional do Alto Acre para avaliar como aqueles investimentos, combinados com a existência de uma fronteira viva com o Peru e com a Bolívia, a disponibilidade das rodovias (BR-317 e Estrada do Pacífico) e a existência de área de livre comércio em Epitaciolândia e Brasiléia, estão contribuindo para a melhoria de alguns indicadores de desenvolvimento. Os dados são principalmente do IBGE, dos Ministério da Economia, da Agricultura e do Turismo.
A regional possui uma população estimada para 2021 de 73.617 habitantes, representando 8,1% da população do estado (906.879). Seu município mais populoso é Brasiléia com 27.123 habitantes, representando 26,8% da regional. Sua área geográfica é de 15.910,50 Km2, correspondendo a 9,7% da área total do Acre (164.173,43 Km²). Sendo sua densidade demográfica de 4,63 (hab./ km2), menor que a do estado que é de 5,52, em 2021.
Os dados da Rais de 2019 demostram que o setor privado foi o maior responsável pela ocupação da maioria (72,6%) dos empregos com carteira assinada na regional, enquanto que no Acre como um todo, o setor privado foi o responsável por somente 63% dos empregos formais.
Em oito anos (2010 a 2018), o PIB do Acre cresceu 83,8%. Já a Regional do Alto Acre cresceu 143,8%. Verifica-se no gráfico abaixo que todos os municípios da regional obtiveram um crescimento acima da média estadual. Destaque para Epitaciolândia que cresceu 216,6% no período. Seu PIB saiu de R$ 145 para R$ 459 milhões. Esse resultado coloca Epitaciolândia como o Município com a maior renda per capita do Acre, em 2018, com R$ 25.350,00/ano. A Renda per capita do Acre, com forte influência da capital Rio Branco, em 2018, foi de R$17.637,00/ano e a da regional ficou em R% 17.177,00/ano.
Passamos agora a destacar o comportamento do Alto Acre na produção extrativa, na produção pecuária e na produção agrícola, fazendo um comparativo entre 2010 e 2020. A produção desses três setores juntos, em 2020, foi capaz de gerar um valor bruto total de mais de R$ 2,46 bilhões no estado. Na Regional do Alto Acre o valor gerado foi estimado em R$ 477 milhões, aproximadamente 20% do total estadual. Levando-se em consideração que em 2018, a regional representava somente 7,9% do PIB, convenhamos que a contribuição de 20%, somente na produção primária é algo relevante. Os dados são da PEVS, PPM e PAM do IBGE, publicados em setembro e outubro de 2021.
Em 2010 o valor da produção da regional representou 30% de toda produção do extrativismo do estado. Essa representatividade caiu para 21,6% em 2020. Na tabela abaixo temos o comportamento dos principais produtos extrativos em 2020 e suas respectivas variações, em relação a 2010. Note-se que no Acre, com exceção da madeira, tivemos queda na produção de todos os principais produtos. Na regional tivemos queda em todos. Mesmo com esse cenário, o valor da produção total do setor, no Acre, cresceu 72%, alcançando mais de R$ 57 milhões. No Alto Acre, o valor cresceu 24,2% com um valor total da produção de mais de R$ 12 milhões.
O Ministério da Agricultura estimou o valor da produção pecuária do Acre para 2020 em mais de R$ 1,51 bilhão. Usando uma metodologia própria, estimei este valor por regionais. No gráfico ao lado vemos o potencial dessa atividade no Alto Acre. Estimo que 24% do valor gerado tenha sido da regional, onde seu valor pode ter chegado a mais de R$ 360 milhões. Como existe na região agroindústria de suínos e aves, temos um acréscimo de riqueza gerada na regional.
Na tabela abaixo temos um resumo da produção pecuária em 2010 e 2020 com destaque para o aumento da produção de suínos (134,8%) e galináceos (90,3%).
Existe uma diferença gritante no valor da produção das lavouras entre o IBGE e o Ministério da Agricultura (MA). Enquanto o IBGE estima o valor da produção total das lavouras do Acre em 2020 foi de pouco mais de R$ 432 milhões, o MA estima mais que o dobro deste valor R$ 899 milhões. Creio que os dados do MA sejam mais fidedignos por incorporarem também informações da CONAB e da Cepea/Esalq/USP. Aplicando os preços do IBGE, o valor da produção total das lavouras no Alto Acre, em 2020, ficou em pouco mais de R$ 50 milhões. Se aplicados os dados do MA esse valor supera os R$ 105 milhões.
Na tabela abaixo temos um resumo do comportamento dos principais produtos agrícolas produzidos no Acre e na regional em 2010 e 2020. Destaco a redução na produção de feijão e arroz (no estado e na regional) e o aumento da produção de banana na regional.
É importante ressaltar que as atividades turísticas estão sendo incrementadas na regional, principalmente em torno do comércio de varejo que acontece por peruanos e bolivianos no consumo, principalmente de gêneros alimentícios. A rede hoteleira e os serviços de lanchonetes e restaurantes da regional, muito têm se beneficiado com esse comércio. Conforme o Anuário Estatístico do Turismo de 2020, publicado pelo Ministério do Turismo, em 2019, a quase totalidade dos 30.448 estrangeiros que chegaram ao Acre foi via terrestre pela regional.
Pelas alfândegas localizadas na regional passaram 27,2% de todo o valor das as importações e exportações do Acre de janeiro a setembro de 2021. Foram US$ 11 bilhões de dólares dos quase US$ 40 bilhões que foram transacionados no período. Além da produção regional exportada, principalmente carne de suínos, este movimento foi capaz, ao longo dos anos, de também criar uma gama de pequenos serviços (hotelaria, restaurantes, borracharias, oficinas mecânicas, etc.) que ajudam na geração de emprego e renda.
No dia de hoje, as lideranças da regional estarão se reunindo no Município de Epitaciolândia para um novo encontro do projeto Liderança para Desenvolvimento Regional – LIDER da Tríplice Fronteira, liderado pelo Sebrae no Acre. O projeto é uma iniciativa nacional, onde as lideranças são mobilizadas para construção e implementação de agendas para o desenvolvimento econômico da região. Os números são bons, mas os desafios permanecem.
Orlando Sabino escreve às quintas-feiras no ac24horas.
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