O presidente do Peru, Pedro Castillo, anunciou nesta quarta-feira (6) a renúncia do primeiro-ministro e de todo o gabinete ministerial. A decisão ocorre apenas dois meses depois de ter assumido o cargo, em uma mensagem inesperada transmitida pela televisão estatal para todo o país e que representa uma separação da ala mais à esquerda dos governistas.
“Informo ao país que no dia de hoje aceitamos a renúncia do presidente do Conselho de Ministros, Guido Bellido Ugarte, a quem agradeço pelos serviços prestados”, declarou Castillo durante o breve pronunciamento.
Na prática, o primeiro-ministro peruano atua como se fosse um chefe da Casa Civil, em comparação com o cargo existente no Brasil. Pelas leis peruanas, quando um premiê cai, o restante dos ministros também deve ser trocado.
Cisão na esquerda
O movimento foi lido como uma cisão no governo: Bellido era da ala ainda mais à esquerda do mandato, que incluía um ex-guerrilheiro como ministro das Relações Exteriores. Enquanto isso, Castillo tem adotado um tom mais pragmático: ele recentemente chegou a elogiar o investimento privado que entra no país, em uma mudança de discurso em relação às eleições.
Bellido tentou negociar acordo sobre mineração e outros temas com comunidades indígenas, que votaram em peso em Castillo nas últimas eleições, mas obteve pouco êxito. Além disso, pregou a nacionalização das fontes de gás no Peru, o que seria uma decisão bastante contestada no país e fora dele.
O atual presidente peruano se elegeu em junho com discurso bastante crítico ao capitalismo e a favor de um nacionalismo econômico, em contraste com a candidata derrotada, Keiko Fujimori, bem mais à direita e favorável a um mercado mais aberto.
Para se ter uma ideia, o anúncio do nome de Bellido como chefe de gabinete do governo peruano em julho fez a moeda local, o sol, cair 7%.
Além disso, com a renúncia, Castillo deve evitar ao menos por enquanto uma pressão ainda maior no Congresso, presidido pelo partido de direita Ação Popular. Isso poderia travar o governo e até colocar em risco o restante do mandato do presidente.
“O equilíbrio de poderes é a ponte entre a lei e a democracia. Votos de confiança, audiências no congresso e moções de censura não devem ser usadas para gerar instabilidade política”, advertiu Castillo, citando instrumentos legais que paralisam o governo peruano no Congresso.