As populações de duas cidades pequenas, de economia exígua e mutuamente dependentes nesse aspecto, estão sendo duramente afetadas pela intransigência do governo peruano em manter a fronteira fechada com o Brasil sob a justificativa da pandemia de Covid-19.
Um protesto realizado por moradores dos dois países, no último domingo (26), na Ponte da Integração, demonstra que a situação não está mais sendo suportada pelas comunidades vizinhas de Assis Brasil, no lado brasileiro, e de Iñapari, na margem peruana do Rio Acre.
As duas cidades perdem juntas com o fechamento da ponte binacional, que gerou desemprego para brasileiros que trabalhavam em Iñapari e perda de clientes brasileiros pelo comércio de Iñapari, impactando fortemente as já anêmicas economias locais baseadas em uma relação de reciprocidade.
De acordo com o prefeito de Assis Brasil, Jerry Correia, em torno de 500 brasileiros trabalhavam em cerca de 6 grandes madeireiras que atuam na região de Iñapari antes da pandemia. Com o fechamento da ponte, eles perderam as suas ocupações em razão da dificuldade que passaram a ter para chegar ao trabalho.
O gestor municipal também afirma que o fechamento da ponte entre as duas cidades é uma “grande hipocrisia”, isso porque o tráfego entre um lado e outro do rio continua acontecendo clandestinamente por meio de barcos que fazem o transporte de pessoas sem nenhum tipo de controle.
Essa situação, segundo ele, dificulta a vida de quem necessita passar pela ponte, como trabalhadores que usam veículos automotores para a sua locomoção, e facilita a vida de quem atua na ilegalidade e na clandestinidade pela falta de estrutura para a fiscalização dessa atividade.
“A situação só ajuda a quem atua na clandestinidade, pois os comércios e outras atividades formais nas duas cidades foram duramente prejudicados. Em Iñapari, inclusive, alguns estabelecimentos como pizzarias e lanchonetes fecharam as portas por falta de clientes”, disse.
O comércio de Assis Brasil foi muito prejudicado, segundo o prefeito, porque os peruanos são grandes compradores de produtos como óleo de soja e açúcar, entre outros. Essa transação, que era feita de maneira direta, agora ganhou a presença de atravessadores.
Ainda de acordo com Jerry Correia, o movimento realizado no último domingo foi um pedido de socorro das duas populações ao governo peruano para que o fechamento da fronteira seja encerrado, assim como uma forma de denunciar as ilegalidades que estão ocorrendo na fronteira.
Imigração
Em meio a todas as dificuldades impostas pelo fechamento da Ponte da Integração pelo governo peruano, está o problema da imigração que em Assis Brasil segue sem expectativa de solução. O fluxo de estrangeiros de várias nacionalidades que passam pela cidade segue, ora mais ora menos intenso.
Em maio passado, Jerry Correia denunciou atitude discriminatória de policiais peruanos com imigrantes haitianos que chegavam à fronteira pedindo passagem e eram impedidos enquanto estrangeiros de outras nacionalidades conseguiam permissão para entrar no país e seguir viagem.
O fechamento da Ponte da Integração também piorou a situação da concentração de estrangeiros em Assis Brasil, ocasionando uma crise em fevereiro passado que resultou em confronto de imigrantes com policiais peruanos e a invasão da Iñapari por centenas de pessoas que queriam passar a qualquer custo.
Iñapari
Com aproximadamente 3.500 habitantes, Iñapari é uma cidade peruana da província de Tahuamanu, na região de Madre de Dios. Localizada na tríplice fronteira formada, além do Peru, por Brasil (Assis Brasil, Acre) e Bolívia (Bolpebra, Pando), é separada do território brasileiro pelo rio Acre e acessível do Brasil pela Ponte da Integração Brasil-Peru.