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Estudo afirma que é possível desenvolver a pecuária na Amazônia sem desmatamento

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No Brasil, a produtividade da pecuária é baixa e associada a um baixo desenvolvimento socioeconômico. Especificamente na Amazônia, na área onde seria possível alimentar 33 animais, encontram-se, em média, apenas dez, segundo análise da Universidade de Goiás e da Embrapa. Essa condição é explicada por um ciclo vicioso que afeta parte da pecuária do país.


Fazendeiros ocupam fronteiras e usam a terra extraindo os nutrientes do solo sem repô-los. Além disso, o solo fica compactado. Ao invés de manter a qualidade dos pastos e de renovar as áreas degradadas, os fazendeiros (ou seus descendentes) desmatam novas áreas na própria fazenda ou em novas fronteiras para onde migram.

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Entre os anos de 1974 e 2019, o rebanho bovino nos municípios da Amazônia Legal cresceu quase dez vezes e atingiu 89 milhões de cabeças. Neste período, o rebanho da região saiu de 9% para 42% do total do Brasil. No entanto, esse crescimento, mesmo resultando em renda bruta significativa na Amazônia, promoveu baixo desenvolvimento.


Em 2019, a pecuária gerou R$ 53 bilhões de valor bruto da produção e cerca de 800 mil empregos. Entretanto, o rendimento médio dos trabalhadores do setor (R$ 1.118/mês) foi 34% menor do que o rendimento médio dos trabalhadores da região (R$ 1.692/mês). Além disso, apenas 22,7% dos trabalhadores da pecuária eram formalizados em comparação com a média de 40,6% de todos os trabalhadores da região.


As conclusões constam no estudo “As políticas para uma pecuária mais sustentável na Amazônia”, do engenheiro florestal Paulo Barreto, pesquisador associado do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon). No trabalho, ele faz uma revisão da literatura científica para identificar mudanças em políticas públicas que  possam frear o desmatamento e garantir que a pecuária na região se torne mais eficiente.


O estudo de Paulo Barreto faz parte do projeto Amazônia 2030, uma iniciativa conjunta do Instituto do Homem e do Meio Ambiente da Amazônia (Imazon) e do Centro de Empreendedorismo da Amazônia, ambos situados em Belém, com a Climate Policy Initiative (CPI) e o Departamento de Economia da PUC-Rio, localizados no Rio de Janeiro.


O estudo mostra que para atender uma demanda brasileira por carne bovina que deve crescer entre 1,4% e 2,4% ao longo da próxima década, segundo projeções do ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), sem desmatar, os pecuaristas da Amazônia teriam de reformar entre 170 mil  e 290 mil hectares de pasto degradado por ano até 2030, ao custo de R$3 mil por hectare.


Para produzir sem desmatar, os produtores da Amazônia Legal precisariam de um valor que pode variar entre 3% e 9,5% do crédito rural contratado para a região em 2020. São empréstimos feitos pelos produtores rurais que são empregados na compra de novos animais, mas que podem ser redirecionados para a recuperação de pastagens degradadas.


No total, seriam necessários investimentos entre  R$ 270 milhões e R$ 873 milhões por ano em recuperação de pastagens, que deveriam passar dos atuais 80 kg por hectare para 300 kg por hectare. No caso da opção pelo desmatamento, somados todos os investimentos que seriam feitos pelos pecuaristas o custo ficaria entre R$ 950 milhões e R$ 1,63 bilhão por ano.


Em contrapartida, a escolha pelo desmatamento derrubaria entre 634 mil e 1 milhão de hectares de floresta por ano.


O pesquisador orienta que, para mudar o cenário, o poder público deve induzir o uso mais produtivo das terras, desestimulando a expansão de fronteiras agrícolas especulativas e ineficientes, e deve trabalhar para fornecer os serviços e a infraestrutura que vão facilitar os investimentos nas áreas já desmatadas.


Barreto recomenda atuar, simultaneamente, em duas frentes:

1- Combater ao desmatamento e a especulação fundiária

“Hoje, parte do desmatamento é utilizado por grileiros como tática para se apossar de terras públicas. O grileiro lucra ao vender a terra ou usando-a sem pagar um aluguel. Além disso, o poder público tem anistiado os grileiros e proposto a venda da terra abaixo do preço de mercado. Assim, o lucro da grilagem é enorme. A facilidade para se apossar de terras públicas torna barata a atividade de ampliar a produção de gado por meio da abertura de novos pastos”.

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2- Facilitar o uso mais produtivo da terra

“É preciso promover treinamento e assistência técnica continuados, oferecendo crédito rural focado em ganhos de produtividade e instalando infraestrutura e serviços necessários em regiões”.


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