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O genoma do ódio 

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Luiz Calixto

Há tempos, tenho tentado escrever algo sobre fanatismo, mas sempre esbarro na minha falta de conhecimento literário para mergulhar nesse assunto.


Óbvio, que no Oriente Médio, o fundamentalismo religioso imperante desde a época antes de Cristo marca o surgimento desse genoma do ódio.


Palestinos e Judeus lutam, cada um com suas razões, por uma causa fundamentalista, milenar e histórica.


Apesar de todas as tentativas de acordos de paz, Jerusalém sempre será o motivo dessa profunda e insuperável discórdia.


Sempre fico a me questionar qual a motivação de um cidadão que envolve o corpo com alguns quilos de dinamite para se explodir no meio de uma multidão de inocentes, muitos deles crianças que ainda não têm o menor conhecimento dessa sangrenta disputa.


Mas como escrevi no início, eles têm uma causa, seja na interpretação do livro sagrado deles, o Alcorão, seja na continuidade da luta religiosa ou no Islã.


Mas paremos por aqui. Não quero correr o risco de escrever bobagens sobre um tema tão profundo e delicado. Confesso: não tenho estofo pra isso.


Saindo do Oriente Médio para o Brasil, já me sinto mais à vontade para escrever sobre o nosso fanatismo político. Qual a verdadeira causa que move o fanatismo da pátria amada Brasil?


Getúlio Vargas e João Goulart foram políticos que sabiam e tinham carisma para mobilizar as massas. De certa forma, Juscelino Kubitscheck, Leonel Brizola, Ulisses Guimarães e Tancredo Neves, entre outros, tinham também enorme apelo popular e nem por isso construíram ao redor deles um segmento de fanáticos.


Tinham aliados, defensores das causas que defendiam. Por exemplo: Getúlio com as Leis Trabalhistas e a siderúrgica nacional; Jango com as Reformas de Base, principalmente a Reforma Agrária; Brizola com a Rede da Legalidade para enfrentar o golpe de 1964. Ulisses e Tancredo com o movimento das diretas, já, lutando pela redemocratização do país e Juscelino com a industrialização e interiorização nacional. Óbvio, que estou sendo injusto ao deixar tantos outros personagens da política brasileira sem, ao menos, uma singela citação.


Na era de Bolsonaro o câncer do fanatismo se metastizou em parcela significativa da população. Embora o mal esteja em fase de regressão, isso ainda abarca cerca de 20% ou 25% do universo brasileiro. As manifestações de 7 de Setembro são as expressões dessa fase nebulosa da nossa república.


E por qual razão e qual a causa que fez de um deputado medíocre, do subterrâneo do baixo clero, emergir como o mito capaz de magnetizar multidões ? Nem perto Fernando Collor conseguiu chegar.


Pois bem, a causa: o PT. O ódio ao PT é a banana de dinamite na cintura de muitos.


A causa é frouxa e sem sentido, porque a democracia estimula a diversidade de candidatos, mas muita gente boa fica ofuscada nessa retroalimentação dos extremos políticos de hoje. Eles precisam um do outro para não deixar florescer uma muda diferente ao lado.


Ia passando batido: apenas no Acre há algo razoavelmente parecido com o fanatismo bolsonariano, representado pelos “investidores” da Telexfree.


Pedi ao editor do site que inserisse no meio deste malfadado texto as fotos desses eventos para servirem de prova disso que estou relatando. Chamado de Dr. Carlos Costa por sua rede de incautos e fanáticos, o CEO do Telexfree foi recebido no aeroporto de Rio Branco, com ares de pop star, por uma multidão ensandecida.


Alguns cabeças do movimento tentaram, e ainda bem que não conseguiram, que o trajeto do Bujari até o centro fosse feito no carro do Corpo de Bombeiros. Ato contínuo, o midas que transformou o dinheiro dos “investidores” em alma penada, foi recebido pelo governo do Estado e depois foi a estrela de uma sessão solene no plenário da Assembleia Legislativa, cujo requerimento, aprovado por unanimidade, foi proposto pelo então deputado Moisés Diniz.


A CAUSA, em caixa alta: o elemento acabara de dar um sensacional catrepe na multidão que o assediava.



Guardadas as devidas proporções, Bolsonaro faz o mesmo: 15 milhões de desempregados, PIB negativo, desprezo às mortes da pandemia, gasolina a R$ 7,00, projetos nacionais inexistentes, democracia sob ameaça, e mesmo assim ainda consegue embalar multidões, cuja causa única é o medo do PT voltar ao planalto central.


São tão inconsequentes e demasiadamente burros que ressuscitaram Lula com essa polarização sem rumo.


Na Terra Santa, a causa movimenta o ódio e o ódio alimenta a causa; em Pindorama, sem causa, a burrice é o acelerador do ódio.



Luiz Calixto escreve todas às quartas-feiras no ac24horas.com


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