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Assassinato de comerciante boliviana reacende alerta sobre segurança na fronteira

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Com quase 100 mil habitantes, o núcleo urbano formado pelas cidades brasileiras de Brasiléia e Epitaciolândia, no Acre, e pela capital do departamento de Pando, Cobija, na Bolívia, não possui, pelo menos na prática, um plano integrado de combate à criminalidade que se apresenta como um dos principais problemas na região.


Uma das grandes demonstrações da falta de medidas efetivas por parte das autoridades dos dois países relacionadas à segurança pública na área de fronteira é a falta de fiscalização permanente nas chamadas “trancas” localizadas nas pontes Internacional (Epitaciolândia) e Wilson Pinheiro (Brasiléia), que ligam as duas cidades brasileiras à Cobija.

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Quem rotineiramente atravessa a fronteira, seja por Brasiléia ou Epitaciolândia, raramente é parado para averiguações. Uma exceção ocorre no lado boliviano, onde, comumente, funcionários aduaneiros pedem aos motoristas brasileiros que abrem os porta-malas dos veículos para uma rápida verificação e nada mais do que isso.


A facilidade na passagem pelas pontes que integram as cidades-gêmeas fomenta o crime nos dois lados da fronteira. Nos últimos anos, o roubo de veículos no Acre cresceu assustadoramente, de maneira especial na zona rural, onde o principal alvo dos criminosos são caminhonetes, que depois de roubadas são levadas para o lado boliviano.


O crime bárbaro ocorrido na manhã desta quarta-feira, 4, quando uma comerciante boliviana, Maria Eugênia Alavi Burgoa, de 39 anos, foi brutalmente assassinada no mercado municipal de Epitaciolândia, em suposto latrocínio, é mais um que se soma às estatísticas do crescimento da violência na região que vem sendo tomada por facções criminosas.


A boliviana era muito conhecida nas três cidades fronteiriças e, segundo as informações apuradas, ela tinha o hábito de trazer sempre consigo uma razoável quantidade de dinheiro em espécie numa bolsa com o qual ela comprava produtos na feira para comercializar no lado boliviano. Ela foi morta com dois tiros à queima-roupa antes de ser roubada.


A comerciante boliviana já havia sido vítima de um assalto há cerca de três semanas, quando dois homens aparentemente desarmados tentaram roubá-la no mesmo local onde terminou assassinada. Naquela ocasião, ela reagiu e foi ajudada por pessoas que se encontravam no mercado, tendo os criminosos fugido sem consumar o crime.


A polícia investiga o crime e tem o latrocínio como possibilidade, mas nenhuma outra hipótese é descartada, segundo informou ao ac24horas o delegado Luís Tonini, responsável pelo caso. Um vídeo de monitoramento mostra que não houve, aparentemente, anúncio de assalto e muito menos algum tipo de reação da vítima. Até a manhã desta quinta-feira, 5, ninguém havia sido preso.


“Nós estamos trabalhando e nenhuma hipótese é descartada na investigação. Sabemos que o latrocínio está configurado em razão do roubo da bolsa da vítima, mas isso não garante que não haja outra motivação ou mesmo se há o envolvimento de organização criminosa ou outros fatores que serão esclarecidos durante o desenrolar dos trabalhos elucidativos”, disse.


Fronteira escancarada

Luís Tonini ressalta que a falta de fiscalização na fronteira não é apenas um facilitador, mas um motivador para a criminalidade na região das três cidades. Segundo ele, mesmo havendo a possibilidade do uso de rotas alternativas às passagens pelas pontes por criminosos, haveria uma “inibição mínima” para crimes que têm ocorrido de forma rotineira, como os roubos de veículos.


“Como há essa facilidade de trânsito e não há qualquer fiscalização, e quero lembrar aqui que essa não é uma responsabilidade do estado do Acre, mas do governo federal, e a gente não vê, com excepcionalidade, nenhum tipo de fiscalização exercida aqui pelas forças de segurança federais, sem querer desmerecer o trabalho da Polícia Federal, mas referindo-me mais ao Exército, que tem poder de polícia aqui e poderia ser mais efetivo nessa questão”, disse.

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Em 2019, outro crime de latrocínio, dessa vez em Brasiléia, abriu um grande debate sobre segurança pública e aumento da violência na região da fronteira acreana com a Bolívia. A morte do produtor rural Raimundo Nonato Pessoa, o Mundico, que tinha 55 anos à época do crime, que foi assassinado dentro de sua casa durante um assalto, chegou a render uma audiência pública sobre o assunto.


Desde então, pouco ocorreu de efetivo a respeito da questão relacionada à segurança na área de fronteira que envolve outros municípios, como Capixaba, Plácido de Castro e Assis Brasil, considerando que o Grupo Especial de Fronteira (Gefron), que foi a ação mais relevante do governo acreano com relação ao problema nos últimos anos já havia sido criado naquela ocasião.


Mais recentemente, em abril deste ano, a então governadora do departamento de Pando, Paola Terrazas, esteve em Rio Branco para tratar com o governo do Acre da retomada de um convênio que tem como finalidade a troca de informações e ações integradas que reforcem a segurança pública nas principais regiões de fronteira daquele país com o estado vizinho.


A fiscalização efetiva e permanente da fronteira entre as três cidades é uma reivindicação antiga das populações locais. O entendimento é o de que a medida dificultaria a ação de criminosos que atuam nos dois países. O bárbaro assassinato da comerciante boliviana reacende o alerta para essa questão que vem sendo, há muito tempo, empurrada com a barriga.


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