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Brega e música regional resistem aos anos em programas de rádio no Acre

Por
Thais Farias

O brega resiste. Pelo menos nas rádios acreanas continua sendo sucesso de audiência. Tanto que a capital, Rio Branco, convive atualmente com uma disputa saudável e enriquecedora entre dois programas voltados às “raízes”, em termos de gosto musical. A Grande Parada Popular, legado do saudoso Jorge Cardoso, tem como oponente agora aos finais de semana o Paradão Popular. Darlene Cardoso, de 26 anos, dá continuidade à trajetória iniciada por seu pai em casa nova, na Rádio Cidade FM 107.1. Já Marcos Cavalcante, de 46 anos, segue com o projeto similar na Rádio Gazeta FM 93.3.


Tanto Darlene quanto Marcos são “crias” de Jorge Cardoso quando se fala em imersão do rádio. A primeira teve o primeiro contato com um estúdio de rádio aos 4 anos, quando ia com o pai ao trabalho. O segundo conta aproximadamente 33 anos de profissão, que iniciou com a paixão pela sonoplastia quando ele era só uma adolescente de 14 anos. Fora o profissionalismo dos locutores e radialistas, os programas têm um ingrediente essencial para o sucesso: a paixão dos ouvintes pela música antiga, tradicional e regional.


São esses os estilos que tocam em ambas as rádios todos os sábados e domingos, das 5 às 8 da manhã. “Me encantei pelo rádio muito precocemente, quando eu era uma criança, e foi na Rádio Difusora Acreana, onde meu pai trabalhou muitos anos”, conta Darlene. Cavalcante diz que sempre trabalhou como sonoplasta e começou na Rádio Capital, no final dos anos 80. Depois de conciliar por 18 anos dois trabalhos em locais diferentes, decidiu ficar só na Rádio Gazeta. Isso já faz cerca de 23 anos.


“Fiquei por 18 anos trabalhando em duas rádios. Depois, mais pelo cansaço, fiquei só na Gazeta e continuo nela há cerca de 23 anos. Desde 1998 estou só na Gazeta FM”, afirma Cavalcante.



Estilo de sucesso – Quem pensa que os estilos mais tradicionais de música estão fora do mercado se engana. As mais pedidas no A Grande Parada Popular e no Paradão Popular são melodias referências do brega, forró antigo, pé de serra e regionais. “Acho que o programa faz sucesso pelo próprio estilo musical. Para isso, o locutor também precisa se identificar com as músicas. Tento levar mais alegria, com uma energia para cima, sem tristeza, até porque de manhã cedo as pessoas estão acordando e precisam de ânimo”, diz Marcos.


A locutora Darlene acredita que todos, nem que seja um pouco, gostam de músicas que falam de amor. “Os ouvintes amam. A gente toca músicas que falam de sentimento. Muitas vezes a letra fala da vida daquela pessoa que está ouvindo.  Tem gente até que diz: nossa, essa música foi feita para mim. Isso mexe com as pessoas”, brinca.


O que Cavalcante mais gosta durante o trabalho é fazer sonoplastia, mexer de fato com a música. “Alguns locutores precisam do sonoplasta, de alguém que faça o preparo musical. Mas eu faço meu trabalho sozinho. Seleciono as músicas, vejo as músicas que estão na atualidade. Hoje é tudo muito mais fácil, mais dinâmico. Antes era muito difícil, a gente tinha que comprar disco, esperava até 5 meses depois do lançamento para chegar aqui”, explica.


Ele lembra que muitas pessoas o conhecem na rua e pedem músicas para lembrarem de um ex amor. “Por isso que eu gosto do brega, porque as pessoas se identificam com esse ritmo, com a música ‘chifrudona’ mesmo”, brinca. Aproveitando o sucesso, ele criou o quadro ‘A hora do Chifre’. “O pessoal gosta e minha relação com os ouvintes é muito boa. Recebo mais de 150 pedidos por final de semana. Às vezes não tem como atender todo mundo que pede um alô das comunidades rurais”, lamenta.



Darlene espera que cada dia mais seu estilo de programação venha fazer mais sucesso e alcançar mais fortemente o público mais jovens. “Quero agradar também o público de hoje. São músicas antigas, mas acredite, tenho também um público grande de jovens que apreciam a programação. Muitos cresceram ouvindo esses tipos de canção e escutam até hoje, além de ensinar os filhos a ouvirem. Isso é muito gratificante. Tudo isso são histórias que as pessoas me contam”.


O dia a dia – Quem atua nesse  meio comunicador é unânime ao afirmar que o trabalho nas ondas do rádio é viciante. “Meu pai me levava desde pequenininha para os estúdios e lá me encantei pelo ambiente. Via meu pai trabalhando e dali para frente passei a ir com ele regularmente. Ele [Jorge Cardoso] me colocava para dar alguns alôs e um dia eu disse: pai, quando eu crescer, quero ser radialista igual ao senhor”, conta Darlene.


Marcos sempre gostou mesmo de fazer sonoplastia e nunca imaginou que um dia comandaria um programa solo. “Tenho uma gratidão muito grande por Jorge Cardoso. Ele fazia o programa e sempre gostei do estilo musical, me identificava muito. Com um tempo que já estávamos trabalhando ele perguntou se eu queria trabalhar só com ele. Ele me disse que seria pesado, que iria ter que acordar cedo, 4 da manhã, mas que teria bom retorno”.


A filha de Jorge Cardoso diz que sempre gostou muito de música, inclusive toca violão depois que aprendeu a tocar com o pai. “Eu cantava na igreja com ele desde criança e tudo que ele gostava, tanto na música quanto no rádio, passei a gostar”.


Cavalcante aceitou trabalhar com Cardoso e após 5 anos juntos, Jorge sugeriu que ele apresentasse um quadro de esportes dentro do A Grande Parada Popular. “Eu disse que não queria falar na rádio, mas ele [Jorge] disse que eu teria de fazer. Eu escrevia um quadrinho de esportes para ele ler, e ele queria que eu falasse. Um dia, não estava nem esperando e ele me anunciou no programa”.


Darlene nasceu em 1994 e o programa apresentado pelo pai e que ela comanda agora tem praticamente a sua idade, 26 anos. Faz aproximadamente 22 anos que ela conheceu o ambiente que é sua casa hoje. “Quando meu pai faleceu eu tinha de 17 para 18 anos, mas já sonhava em trabalhar em rádio, porém, naquela época, ainda era menor”. Jorge Cardoso faleceu em agosto de 2012. “Foi quando minha mãe conversou comigo e disse: filha, você topa continuar o programa? Seu pai já sabia que você tinha o dom para rádio”, cita. A filha relembrou uma conversa que teve com ele. “Ele disse: filha, quando eu não estiver aqui, eu sei que você gosta de música, de rádio, se você quiser seguir meu mesmo caminho, vou lhe dar todo o apoio”, afirma.


Continuação da história – O programa A Grande Parada Popular teve continuidade com a filha e fez escola com o Paradão Popular, com Marcos Cavalcante. “O estilo do programa do meu pai surgiu na rádio Difusora. Ele criou esse nome e levou para a rádio Gazeta. Na Difusora ele tinha o Ritmo Rural e na Acre FM, onde ele também trabalhou antes da Gazeta, tinha o programa Jorge Cardoso”.


A mãe de Darlene estava grávida dela quando o programa de Jorge Cardoso estreou na Gazeta. Coincidentemente, a estreia de Darlene após o falecimento do pai ocorreu no mês de setembro, em 2012. “Estou no ar há 9 anos. Ainda guardo o primeiro roteiro do meu pai, feito na máquina de datilografia”.


Ela não sentiu dificuldade em apresentar, mas o lado emocional pesou. “Eu já tinha uma rotina com ele de ir para a rádio. No momento em que ele faleceu  e resolvi continuar o programa, o primeiro impacto foi de entrar no estúdio não ver mais ele lá”. O emocional muito abalado, a responsabilidade de continuar um programa de tradição, foi o mais dificil. “Chorei no ar. No dia que eu fui estrear eu sonhei com meu pai, pouco antes de acordar. Uma voz dele, não o via, eu dizia: pai, como vai ser? O senhor não está ao meu lado. E ele dizia: filha, já deu tudo certo, você já conseguiu. Aí que chorei mesmo”.


Cardoso, o professor da rádio


Até o nome do locutor Marcos Cavalcante foi Cardoso quem sugeriu. “Eu não sabia nem o que falar direito. Minha primeira entrada falando no rádio foi em 2003. Fiz esporte por 10 anos com Jorge Cardoso, aprendi muita coisa com ele. Ele ia me ensinando, se eu falasse errado, me corrigia. E assim fui gostando e estudando locução”.


Ele conta que sua intenção jamais era fazer locução. “Mas quando comecei a fazer, comecei a gostar. Fui me aperfeiçoando primeiro só esporte. Mas aí com o passar dos anos, veio o falecimento do Jorge E a Darlene assumiu o programa. Ainda fiz durante uns 5 anos com ela o quadro de esportes”.


Quando Darlene engravidou, veio a pandemia do novo coronavírus e ela optou por se afastar do trabalho. Cavalcante conta que outros colegas tocaram o programa, mas não se identificavam com o programa. “Esse estilo de programa é para quem gosta. A pessoa tem que ter uma identificação com as músicas, pois isso é o diferencial”.


O jornalista Roberto Vaz teve importante participação no processo de amadurecimento do A Grand Parada Popular e da trajetória de Jorge Cardoso. “Ele sempre demonstrou muito carinho pelo pai”, diz a filha, que sentiu boa aceitação dos ouvintes assim que assumiu a programação. “Muitos iam na loja que meu pai tinha e também na que eu e minha mãe temos, no centro da cidade, para me parabenizar e se emocionavam comigo”.


De pais para filhos – Darlene aprendeu a amar o mundo do rádio com o pai. “É um programa que está passando de geração em geração. Tem Gente que fala que cresceu ouvindo o programa. Passa de pai para filho mesmo. Meu pai fez, agora eu faço, não sei se futuramente minha filha vai querer fazer, mas quem sabe”.


Mesmo com todas as mudanças no decorrer da vida, ela é só gratidão pelo tempo que atuou na rádio Gazeta FM. “Foram quase 9 anos de muita gratidão a todos. Roberto Vaz foi quem levou meu pai para a Gazeta. O programa A Grande Parada Popular surgiu lá e temos muita gratidão”.


De casa nova na Rádio Cidade, ela diz ter sido uma porta aberta por Deus. “ Estou muito feliz de poder continuar esse programa de tradição. Tanta gente gosta. Temos nossos patrocinadores que vamos atrás e graças a Deus dá um retorno bom pelo fato de o programa ter audiência.  O público é que faz o programa ter uma audiência espetacular”.


Aluno que passou a dar aulas


Para Cavalcante, Jorge foi um verdadeiro professor no quesito rádio. “Ele [Cardoso] dizia que o público não queria saber o que o locutor queria dizer, mas ouvir musica”. Ele passou a apresentar o programa quando Darlene decidiu deixar a rádio em meio à pandemia.


“A esposa de um dos donos da rádio Gazeta FM me chamou e comecei a dar continuidade ao estilo do programa com o Paradão Popular. Eu não tinha intenção de ficar com o programa, mas aconteceu de a rádio me ceder o horário, pois eu já tinha experiência”, declara.


Marcos estreou o programa no dia 6 de março de 2021. “O interesse da rádio Gazeta era continuar o que Jorge Cardoso começou. O próprio Roberto Vaz esteve muito presente nesse momento, pois ele quis criar um programa AM dentro de uma FM. Isso foi uma inovação musical”, ressaltando a ideia de trazer o brega para a FM, o que ninguém fazia naquele momento.


Ele nunca sentiu dificuldade em comandar o programa, uma vez que já conhecia os meandros da rádio. “A única que temos é para vender aos anunciantes, principalmente na pandemia. Mas em termos técnicos ou de locução não tenho, pois em rádio, só não faço chover”.


A ideia do programa é diversificar as músicas que tocam durante a semana. “A gente já passa a semana toda ouvindo as músicas atuais e o final de semana é diferente. Eu mesmo faço a seleção musical. Tento não repetir as músicas da semana anterior. Pode até ser o mesmo cantor, mas com outras músicas do brega, forró, pé de serra, sertanejo antigo, tem milhares de músicas, fica até difícil repetir”, declara Cavalcante.


Marcos diz que seus ouvintes já sabem o estilo musical do programa e já pedem aquilo que de fato faz parte da programação. “O brega é sempre carro-chefe”, conclui.


E assim, de brega em brega, o sucesso continua. E como hoje é dia de programa, escolha no seu 107.1 FM para ouvir a simpatia de Darlene Cardoso ou 93.3 FM para curtir a “cornança” do Marcos Cavalcante.


 


 


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