Geralmente se atribui a infância e a juventude, ao menos até aos 35 anos, os melhores anos de vida. Dostoievski, em “Memórias do Subsolo”, garante que vida só até aos 40. Depois disso…caminha-se para o desfecho final. A cada dia, menos um dia, mais próximos estamos da morte. “Envelhecer é uma merda”, disse o ator global Tarcísio Meira a uma repórter.
Reza a lenda que Heráclito de Éfeso era conhecido como o filósofo chorão, melancólico, obscuro e enigmático. Seu compatriota, Demócrito de Abdera “o risonho”. Os dois viveram na Grécia antes de Sócrates, Platão e Aristóteles e Jesus Cristo. Na verdade, estavam a nos dizer que rindo ou chorando nós vamos morrer.
Existe também uma alegoria de que a vida é como uma carroça puxando um cão amarrado pelo pescoço por uma corda bem frouxa. Ele pode ir de boa vontade acompanhando a caravana ou sendo arrastado esperneando e sofrendo.
Sócrates, condenado a tomar cicuta pelas leis de Atenas, não aceitou a fuga; morreu feliz dizendo que ruim mesmo é para quem fica. O mundo das formas e das ideias era perfeito e melhor.
Enquanto Cristo pregou morte e ressurreição para uma vida eterna: “Na casa de meu Pai existem muitas moradas”, o filho de uma tradicional família de pastores alemães, F. Nietzsche, se opôs radicalmente à ideia da existência de dois mundos. O além e o aquém.
Segundo ele, a ideia de dois mundo como conhecemos hoje surgiu com o “velho chato, ressentido, decrépito e niilista Sócrates” (Crepúsculo dos Ídolos). Disse mais: Não foi Jesus, mas seus seguidores que distorceram suas palavras ao longo do tempo quando juntaram o platonismo com o cristianismo. Negaram esse mundo em favor do outro.
Nietzsche passou dez anos de sua vida doente. Seu cérebro foi consumido pela enfermidade. No final de alguns de seus escritos ele assinava “Jesus Cristo”. Duro foi para ele recalcitrar contra os aguilhões. A morte pode não ser o fim como muitos acreditam hoje em dia. Se fosse, o mundo não teria sentido algum.
Todas as possibilidades de existência que temos se anulam com a morte. Isto, de acordo com Martin Heidegger, em Ser e Tempo, já que o ser humano também é um ser para a morte. A plena consciência da finitude nos levaria a uma vida autêntica mesmo sem a existência de Deus. Voltamos ao escritor russo Dostoievski em Os Irmãos Karamazov: “Se Deus não existe então tudo seria permitido.
A fronteira final da ciência hoje é descobrir se as religiões estão certas ou erradas quanto a morte. O que tem do outro lado? O pouco que sabemos vem de antigas religiões e seitas; das experiências de morte e quase morte. O túnel de luz é clássico. Encontrar parentes ou ir para o paraíso também. Porém, o mais importante é saber que a morte, pela razão fundamental que lhe é própria, dá sentido à vida. Ao menos deu ao longo de nossa história.