O B.O político da semana foi a votação do famigerado fundo eleitoral para o financiamento das eleições de 2022.
Na calada da noite, o governo e suas lideranças no Congresso colocaram um jabuti trepado nos galhos da Lei das Diretrizes Orçamentárias (LDO), estabelecendo as regras para o cálculo do valor a ser consignado na Lei Orçamentária Anual (LOA).
À bico de lápis, isso resulta em R$ 5,7 bilhões. Dito de outro modo, corresponde a duas vezes (2x) o valor de 2020 e a três vezes (3x) o valor que foi torrado nas eleições de 2018.
A título de comparação, o orçamento do Acre para 2022 é de R$ 6,9 bilhões, incluídos neste montante os valores das famosas emendas anunciadas pelos parlamentares cuja maioria nunca chega efetivamente aos cofres do Estado.
Ao sair de sua internação fake com a mesma alegria de um adolescente que chega a uma boate, Bolsonaro expressou sua falsa indignação, como se não tivesse sido ele o autor da proposta governamental.
Tão inocente que nem se mancou que seus dois filhos articularam a tramoia e votaram a favor dela.
No processo legislativo há um princípio chamado de capacidade de iniciativa. Ou seja: a lei define qual ente é o detentor da capacidade de iniciar determinado tipo de lei.
Se questão semelhante cair num vestibular ou no Enem, decore: a LDO é uma prerrogativa exclusiva do Poder Executivo.
A um site local, o senador terrivelmente bolsonarista , Márcio Bittar, bateu com a língua nos dentes e revelou que o presidente fora alertado da confusão que isso geraria.
Fato é que a batata quente está nas mãos do presidente: se este sancionar o absurdo, o discurso dele de enganar besta vai para o ralo. Se vetar, o acerto dele será com os parlamentares do guloso Centrão.
A imprensa brasileira já divulga a estratégia para sair dessa sinuca de bico: Bolsonaro vetará, mas com regras para deixar o fundo girando em torno de 4 bilhões de reais.
Avaliam que essa saída o deixaria em posição de herói diante da plateia que sente sabor brigadeiro em fezes misturadas a leite condensado, ainda que o valor seja o dobro de 2020.
De camarote está o PT: seja qual for a decisão, o partido, junto com o PSL, abocanhará a maior parte do bolo. No cangote desses partidos estão o MDB, o PSDB e o PSD.
Ao votar contra o deputado Leo de Brito ganhou duplamente. Primeiro, porque tem direito de tripudiar de quem votou a favor; e, segundo, porque seu partido não abrirá mão de um centavo sequer da vergonhosa partilha.
Mas vamos aos fatos da vida real.
Em 2022, o nome mais “novo“ do pleito será a ex de Bittar, a senhora Márcia Espíndola. Em 2022, serão poucos os eleitores que lembrarão desta votação.
Ainda em 2022, uma parte do eleitorado já terá deletado o episódio da memória e a outra estará apenas preocupada em arranjar uma lista para trabalhar no dia da eleição.
O fundo beneficia somente os atuais detentores de mandato ou aqueles que forem escolhidos como a prioridade dos partidos. Os demais candidatos ficarão chupando o dedo.
É muito dinheiro em poucas mãos, o que permite a desigualdade abissal entre os candidatos de um mesmo partido.
De lado a maioria de candidatos matando cachorro à grito e de outro aqueles que imitam o bordão “ quem quer dinheiro” , do astro Silvio Santos.
É muito fácil atirar com a pólvora dos outros.
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