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Domingo, um dia oco!

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Astério Moreira

Com o olhar esverdeado de águia, Clarice Lispector definiu o domingo como um dia oco. Mas é também o dia do Senhor. O dia de ir à missa, ao culto; comer churrasco ou galinha caipira na casa de mamãe, jogar bola, ir à praia, ver jogos na TV, ir à praça à noite, enfim, celebrar a vida. Por que domingo oco?


Talvez o cantor Fernando Mendes possa explicar em sua música: “Sorte tem quem acredita nela”. Uma de suas estrofes diz: Não adianta ir à igreja, rezar e fazer tudo errado/Você quer a frente das coisas olhando de lado/ O céu que te cobre não cobra a luz da manhã…


Com certeza, Clarice estava olhando de frente. Não é para qualquer um, deprime. Ir à igreja rezar, orar, louvar também deprime se estivermos fazendo tudo errado. Olhar de frente é olhar para a fraqueza de si mesmo e não para os erros dos outros.


Carl Jung em sua teoria da Psicologia Analítica define (também) a depressão, doença que faz todos os dias serem ocos e não apenas o domingo, como: “A depressão é uma reação do corpo ao modo como a pessoa vive ou insiste em viver a sua vida, a qual pode não estar seguindo um caminho natural, verdadeiro, ou certo para sua personalidade em particular”.


É bom lembrar que a obra de Clarice Lispector é marcada pelo estranhamento do mundo. Porque, para ela, o mundo todo era oco em si mesmo. Ela buscava o cerne, a coisa em si. Todos os que procuraram morrerem sem encontrar desde os gregos antigos. Clarice era verdadeira em sua busca. Ela mesma dizia: “Geralmente sou alegre, só estou deprimida porque estou muito cansada”.


O oráculo de Deus, que move o coração dos homens desde a antiguidade, é repleto de exemplos de dias vazios. Adão e Eva foram os primeiros a experimentarem o vazio existencial (pela ausência de Deus). Porém, um rabino judeu, há dois mil anos, na Galileia dos “gentios” (estrangeiros), chamado também de “o segundo Adão” ensinou o caminho para transformarmos os dias ocos em dias cheios:


O amor! O amor ao outro. A entrega, que dá uma visão mais alargada de nós mesmos movendo nosso centro de gravidade mesquinho, egocêntrico para uma experiência transformadora. Ele falava do verdadeiro amor.


Ir à igreja, rezar ou orar tentando sempre fazer a coisa certa enche os dias. A coisa certa é amar ao próximo como a si mesmo (Isto resume toda a lei e os profetas). Os que procuram fazer isso não sentem tanto os domingos, os demais dias, nem o mundo oco. Muito embora sempre haverá dias ocos. É intrínseco à vida.


Penso que Clarice Lispector, oriunda de família judia que migrou para o Brasil, teve muitos domingos cheios. Do contrário, não saberia o que é um dia oco. “Quem não sabe a sombra, não sabe a luz”. (Taiguara).


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Astério Moreira

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