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Unha encravada

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Há um caso clássico na república brasileira de providências tomadas diante de escândalos de supostos casos de corrupção envolvendo dois amigos inseparáveis. Isso aconteceu durante o mandato do presidente Itamar Franco.


Henrique Hargreaves, chefe da Casa Civil, amigo, carne e unha de Itamar, entrou no centro do furacão depois de denúncias de corrupção no famoso caso dos Anões do Orçamento. Por ser funcionário do Poder Legislativo, a oposição da época e a imprensa caíram de pau, sem dó nem piedade, em cima dele, alegando que este sabia e participava do esquema de desvio de verbas públicas.

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Em tempo: naquela época, não havia orçamento paralelo escondido sob sete chaves, tampouco a liberação dos valores era impositiva como o é atualmente.


Diante do fogo cerrado da imprensa, Itamar Franco afastou o dileto amigo sob declarações de apoio e confiança, garantindo que, se nada fosse apurado contra ele, seu importante auxiliar voltaria ao cargo. Dito e feito: nenhum pingo de lama respingou sobre o investigado e Henrique Hargreaves retornou ao cargo ainda mais poderoso.


Salvo melhor juízo, não há outros registros de casos equivalentes. Não existe governos imune a escândalos, sejam estes de corrupção ou de qualquer outra espécie.


A decência de um governo não se mede necessariamente pela quantidade de eventos irregulares revelados, mas pelas providências enérgicas tomadas diante deles.


Por exemplo: não há a menor possibilidade de um governador ou secretário ter conhecimento de tudo que se passa em sua gestão.


Todavia, diante de indícios de irregularidades minimamente fundamentadas, a autoridade não deve titubear no esclarecimento total dos fatos, inclusive com o afastamento dos envolvidos.


No caso específico do Acre, já assistimos a muitas denúncias onde a estratégia adotada pelos envolvidos e seus superiores é desclassificar o denunciante no lugar de apurar a essência daquilo que foi levado ao conhecimento popular.


Longe de fazer avaliações precipitadas. No entanto, em coisas públicas a denúncia, o julgamento e a sentença popular ocorrem em rito sumaríssimo, sem a necessidade de quaisquer provas, onde cada um condena ou inocenta de acordo com suas conveniências. Manter um caso nessa disputa insana submete qualquer administração a desgastes desnecessários. A sangria desatada do suposto escândalo por muitos dias abala sobremaneira a credibilidade do gestor.


O caso presente é o que envolve o secretário de Saúde de Rio Branco, Frank Lima. Segundo áudios amplamente divulgados, o gestor é acusado de assédio sexual e moral por servidoras subordinadas.


O secretário se defendeu alegando que as denúncias não passam de retaliações em função da apuração de supostos casos de roubalheiras na saúde municipal.

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Estamos diante de duas situações gravíssimas. Até então, qual a atitude do prefeito Tiao Bocalom com seu parceiro carne e unha de longas datas?


Em vez de afastar todos os envolvidos até a apuração final do caso, Bocalom optou pela manutenção do seu secretário, dando suporte às alegações de que o mesmo está sendo atacado em razão da apuração de desvios.


O prefeito preferiu deixar que a unha ficasse encravada.


Até o momento, minha desinformação ainda não teve acesso a divulgação de qualquer processo administrativo ou de sindicância através dos quais estejam apurando a conduta de servidores supostamente envolvidos em corrupção.


Sem qualquer intenção de prejulgamento e respeitando o princípio da presunção de inocência, Frank Lima deveria ser afastado para voltar triunfalmente, como Henrique Hargreaves, caso nada seja comprovado contra ele.



Luiz Calixto escreve todas às quartas-feiras no ac24horas.com


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